A desistência de Comandante Nádia (PP), confirmada na manhã desta quinta-feira (29), em benefício da candidatura do vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) – terceiro colocado na mais recente pesquisa Ipec, com 21% das intenções de voto –, incendiou a reta final da corrida pela única vaga ao Senado em disputa no Rio Grande do Sul. A reação de Ana Amélia Lemos (PSD), a segunda na preferência do eleitorado gaúcho para a cadeira, de acordo com o mesmo levantamento (24%), não demorou e veio com manifestações de apoio de lideranças progressistas, em ato realizado no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre.
A disputa entre Mourão e Ana Amélia, agora, é pelo voto útil no campo de direita. No centro das estratégias estão os redutos do PP no Estado. Nada mais natural, afinal, em 2020, o partido levou o maior número de prefeituras gaúchas. Foram 143 – oito a mais que o MDB, com 135. Isso significa quase um terço (28,77%) dos 497 municípios do RS.
A ideia é que, faltando três dias para o pleito, a migração de votos do PP para o PSD ou Republicanos possa superar a candidatura da esquerda, que tem o ex-governador Olívio Dutra (PT) em primeiro na última sondagem eleitoral do Ipec, com 30%. O prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal, foi um dos organizadores do movimento em sustentação do nome de Ana Amélia, na ausência de uma candidatura própria. Sem apresentar números fechados sobre a adesão, ele garante que a maioria das lideranças de seu partido está engajada na campanha de Ana Amélia.
— O partido deliberou pela candidatura própria (de Comandante Nádia). Trabalhávamos por ela e houve a renúncia por conta de uma decisão pessoal, que respeitamos, mas, do ponto de vista partidário, não poderia estar acima do que foi deliberado. Um grande número de lideranças já se manifestou. A maioria dos prefeitos está alinhada, até porque Ana Amélia Lemos é o nome mais viável para evitar a tragédia que seria dar mais uma cadeira no Senado ao PT, que ficaria com dois terços das vagas do RS ocupados pela esquerda — declarou.
Ana Amélia, que foi filiada ao PP por 12 anos, período em que esteve no Senado (2011/2019), diz não temer movimento similar nas bases de sua antiga agremiação política em favorecimento de Mourão. A candidata do PSD também elevou o tom e não poupou críticas à renúncia de Nádia e aos ataques que diz sofrer por parte do vice-presidente.
— A política tem muitas surpresas e decepções, mas muitas emoções, esperança, dignidade e grandeza. Depois da tempestade, vem a bonança. Foram horas de aflição e angústia pelos fatos ocorridos. De um lado, o candidato (Mourão) com jogo rasteiro e sujo de calúnia e tentativa de difamação que é usada em uma competição desigual para me atacar. De outro, uma mulher (Nádia) que assume uma postura lamentável, porque as mulheres gaúchas não fogem do combate — disparou, em referência a um vídeo de 2021, utilizado pela campanha de Mourão, retirado do ar pela Justiça Eleitoral.
No centro das críticas de Ana Amélia a Comandante Nádia também está o fato de a desistência ter ocorrido após utilização de recursos do Fundo Eleitoral. Para a candidata do PSD, isso deve pesar na decisão dos eleitores:
— O que o eleitorado dela vai pensar dessa deserção e do uso de R$ 3,7 milhões, que é dinheiro público, e que se trata de uma questão de integridade? Na questão ideológica, vivemos uma polarização que é natural da política, mas a radicalização não faz bem.
Redutos progressistas
Em comunicado oficial, o presidente do PP no RS, Celso Bernardi, liberou o voto dos progressistas gaúchos. No texto, ele considera que na agremiação, do “campo da direita e conservadora”, após ouvir os membros da Comissão Executiva Estadual do Progressistas, “restou deliberado, pela maioria, que as lideranças terão liberdade de escolher a candidatura para a vaga ao Senado”.
Das 143 prefeituras progressistas no Estado, 141, ou o equivalente a 98%, estão em cidades com até 100 mil eleitores (102 em municípios com até 10 mil eleitores; 31 em locais de 10 mil a 50 mil eleitores; e oito em cidades com 50 mil a 100 mil eleitores). Essa faixa de municípios responde por 57,84% do eleitorado gaúcho, com 4,9 milhões de votos, segundo dados atualizados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS).
— Antes da decisão, alguns prefeitos do PP já haviam declarado abertamente o voto em minha candidatura. Agora, isso será intensificado. Vai dar tempo de fazer a migração, sim, eu acredito em milagres. O partido teve a inteligência de liberar o voto na ausência da candidata e os prefeitos reconhecem o meu trabalho — comentou Ana Amélia.
Além do prefeito de Esteio, participaram presencialmente lideranças como os prefeitos de Santo Antônio da Patrulha, Rodrigo Massulo, e de Minas do Leão, Silvia Lasek, a candidata a deputada pelo PRTB, Carmen Flores, que disputou a eleição para o Senado há quatro anos, vereadores e secretários municipais do Progressistas de diversos municípios da Região Metropolitana.
Outros progressistas enviaram vídeos que foram exibidos no ato, entre eles os prefeitos Mário Augusto de Freire Gonçalves, de Dom Pedrito; Moisés Pedone, de Mostardas; Douglas Silveira, de Cerrito; Helena Hermany, de Santa Cruz do Sul; Michael Kuhn, de Selbach; e o vereador Rafael Amaral, de Pelotas.