Assim que a coluna publicou a informação de que a vereadora Comandante Nádia (PP) estava a um passo de desistir da candidatura ao Senado, no início da noite de quarta-feira (28), o partido entrou em polvorosa. Nos grupos de WhatsApp, passou a ser o principal assunto, com duros questionamentos por ela ter gasto os R$ 3,7 milhões recebidos do diretório nacional do PP e estar abandonando o barco. Esse valor é superior ao repassado pelo partido ao candidato a governador, Luis Carlos Heinze, que recebeu R$ 3 milhões.
Alguns prefeitos recusavam-se a acreditar, mas sabiam que a fumaça avistada ao longo dos últimos dias tinha brasas ardentes.
O presidente do PP, Celso Bernardi, tentou demover Nádia da renúncia. Argumentou que ela não podia abandonar o candidato ao governo, Luis Carlos Heinze, que a convidara para ser candidata. Em vão. Até o Hotel Radisson já estava reservado para a coletiva às 10h desta quinta-feira (29) quando Nádia reafirmou a candidatura em entrevista a Paulo Sérgio Pinto no programa Pampa Debates, da TV Pampa, no fim da tarde de quarta-feira.
Consumada a renúncia, os prefeitos e vereadores se dividiram, mas nas redes sociais e nos grupos do PP a pergunta mais repetida era se Nádia devolveria os R$ 3,7 milhões do fundão. Quem já estava com Ana Amélia Lemos (PSD), como a prefeita de Santa Cruz, Helena Hermany, sentiu-se encorajado a buscar o apoio de outros colegas. Quem trabalhava por Nádia, como o prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal, escolheu seu lado e entrou em campo para defender o apoio a Ana Amélia, entendendo que, se existe voto útil para impedir a vitória de Olívio Dutra é o da ex-senadora, que saiu do PP porque o partido fechou-lhe as portas para uma candidatura. Na última pesquisa do Ipec, Ana Amélia tinha 24% das intenções de voto e Mourão, 21%.
De outro lado, o prefeito de general Câmara, Helton Barreto, tentou encabeçar um movimento pró-Mourão, mas refluiu ao constatar que o partido estava rachado.
_ Como presidente da Associação dos Prefeitos do PP, vou atacar a decisão da maioria que é liberar seus eleitores. Meu foco será somente o Heinze.
Vendo que o partido sairia rachado, o presidente do PP, Celso Bernardi, que viajara para Santa Maria na quarta-feira em campanha com Heinze, começou a costurar um acordo com o presidente do PTB, Elizandro Sabino, para que os dois partidos liberassem seus filiados. Assim foi: os filiados votarão de acordo com as suas convicções.
No PP, a renúncia de Nádia é atribuída ao clima de radicalização no país e ao comentário feito pelo presidente Jair Bolsonaro em uma live, na qual a elogiou e pediu que renunciasse para evitar a vitória do PT. Líderes do partido lembram que, em 2014, as pesquisas indicavam a vitória de Olívio (que estava empatado com Lasier Martins) e ninguém falou em voto útil. A candidata do partido, Simone Leite, fez 660 mil votos.
Na nota divulgada nesta tarde, Bernardi apela aos progressistas para que escolham um candidato alinhado com a ideologia do partido, sem citar nomes, concentrem sua energia na campanha para que Heinze chegue ao segundo turno e trabalhem pela eleição de Bolsonaro.
Confira a íntegra da nota:
Para onde foi o dinheiro
Dos R$ 3,7 milhões que a Comandante Nádia recebeu do fundão eleitoral, R$ 3,5 milhões foram repassados pelo diretório nacional, presidido pelo ministro Ciro Nogueira, e R$ 200 mil pela candidata a deputada federal Jolisa Duarte.
Na prestação parcial de contas à Justiça Eleitoral, Nádia declarou já ter contratado despesas no valor total de R$ 3.727.464,80 e pago R$ 3.235.005,27.
Estes são os principais pagamentos feitos pela campanha (a coluna considerou os gastos acima de R$ 100 mil):
- Anderson Gracioli – R$ 700 mil
- Pública Comunicação - R$ 500 mil
- Orus Uniformes – R$ 391,7 mil
- Citycar aluguel de veículos - R$ 193 mil
- Izar Filmes – 179,4 mil
- Candidata Patrícia Beck – R$ 150 mil
- Paim & Dos Santos Advogados – R$ 150 mil
- Gráfica Igigraf – R$ 101,6 mil
- Candidata Mônica Leal – R$ 100 mil