Em meio às repercussões do resultado das urnas no primeiro turno em Porto Alegre, o quebra-cabeça de apoios aos candidatos que seguem na disputa começou a ser montado nesta segunda-feira (16). As primeiras peças não causaram surpresa e foram uma para cada lado do espectro político. Como a escolha entre Sebastião Melo (MDB) e Manuela D’Ávila (PCdoB) ocorrerá no dia 29 de novembro, eventuais aliados deverão anunciar suas preferências nos próximos dias.
Vice-prefeito, desafeto do atual prefeito e responsável por uma candidatura que exaltou a direita, Gustavo Paim (PP) foi o primeiro a definir seu futuro. Menos de 12 horas após a consolidação do resultado das urnas, ele confirmou apoio a Melo.
— É algo muito natural e é pessoal. Até porque deixei bem claro desde o primeiro dia de campanha que não apoiaria (Nelson) Marchezan ou Manuela — disse.
Paim ficou na oitava colocação entre os 12 concorrentes ao Paço Municipal. Foi o prefeito de 1,24% do eleitorado, com 7.989 votos. O PP elegeu dois vereadores à Câmara.
Já a candidata Fernanda Melchionna (PSOL) confirmou apoio para Manuela, que participou de um evento com os principais representantes das duas campanhas. Sem deixar de pontuar que as bandeiras defendidas pelas possuem diferenças, mesmo ambas à esquerda, a atual deputada federal afirmou que a intenção é oferecer uma alternativa frente a grupos políticos que passaram pela prefeitura nas últimas legislaturas.
— Ainda há representantes da velha direita na candidatura de Sebastião Melo, que governaram nossa capital por 16 anos, atacando servidores, trabalhadores, fazendo negociata, toma lá dá cá. É preciso derrotar a velha direita — pontuou.
Fernanda foi a quinta candidata mais votada na Capital, com índice de 4,34% e 27.994 votos. O PSOL conquistou quatro cadeiras na Câmara, elegendo a vereadora mais votada em Porto Alegre, Karen Santos.
Projeções
Pela diminuta campanha para o segundo turno, duas semanas, grande parte dos anúncios de apoio aos candidatos deverão ser realizados até quarta-feira (18). Informalmente, partidos já discutem o futuro e, em alguns casos, a definição depende apenas de um ato formal. Esse é o caso de Valter Nagelstein (PSD), mais afinado ao discurso de Melo. Ele foi escolhido por 3,1% dos eleitores, somando 20.033 votos.
O atual prefeito, Nelson Marchezan (PSDB), não quis comentar a tendência de apoio. Ao ser questionado pela reportagem disse que vai reunir com os quatro vereadores eleitos pelo partido para definir uma posição. A análise dentro do partido é que a maior parte dos votos recebidos por ele (136.063, 21,07% do total) acabe endereçada a Melo em 29 de novembro.
Quarta colocada com 6,41% e 41.407 votos, Juliana Brizola (PDT) é a maior incógnita entre os candidatos que deixaram a disputa. Apesar de integrar um partido que traz na história o trabalhismo e uma posição identificada atualmente com a centro-esquerda, há indícios de que a maioria da sigla possa seguir com o Melo.
Os dois vereadores eleitos, Mauro Zacher e Marcio Bins Ely, integraram o governo formado por José Fortunati (então no PDT, hoje no PTB) e Sebastião Melo. Ainda, integrantes históricos do partido não se empolgam com eventual aliança que conte com o PT. Outro fator que pode empurrar a legenda para os braços do MDB é a restrição do presidente nacional pedetista, Carlos Lupi, à chapa de Manuela.
Além disso, Juliana, que é amiga pessoal de Melo, ocupou a vaga de vice na chapa de Melo que foi derrotada por Marchezan em 2016.
Por outro lado, filiados mais identificados a Ciro Gomes pregam a distância de Melo, devido à aproximação do candidato a bolsonaristas durante o primeiro turno. O próprio Ciro poderá anunciar apoio a Manuela. Há ainda uma terceira possibilidade, que é a liberação dos filiados para apoiarem quem quiserem. Nesse cenário, a avaliação é que o candidato do MDB seria beneficiado.
No final da tarde desta segunda, Manuela recebeu o apoio da direção municipal da Rede Sustentabilidade, que integrava a coalizão de Juliana Brizola. Conhecida pela ex-ministra Marina Silva, que foi candidata à presidência pela legenda em 2018, a Rede não teve vereadores eleitos nesta disputa.
Discussão
João Derly (Republicanos) ainda discute com o partido, mas deverá apoiar Melo no segundo turno, com quem apresenta maior afinação no discurso. O ex-judoca iniciou a carreira política no PCdoB, mas deixou a legenda após discussões com Manuela.
Montserrat Martins (PV) e Rodrigo Maroni (PROS) afirmam que estão abertos para conversar com ambas as candidaturas. No caso de Maroni, a tendência é neutralidade ou apoio a Melo, após embates com Manuela durante o primeiro turno. Montserrat afirma que apoiará quem garantir a inclusão de suas propostas em eventual plano de governo.
Julio Flores (PSTU) irá se posicionar após decisão do partido, que deverá ser anunciada nesta terça-feira (17).
A reportagem não conseguiu contato com o candidato Luiz Delvair (PCO).