O terceiro episódio da série de GZH "Se eu for prefeito" ouviu o atual chefe do Executivo de Porto Alegre e candidato à reeleição, Nelson Marchezan (PSDB), nesta quarta-feira (21). A entrevista, conduzida pelo colunista Paulo Germano, em transmissão ao vivo, durou cerca de uma hora. Marchezan falou sobre como seria seu eventual segundo mandato, comentou as críticas a sua gestão e o futuro da cidade.
Nesta quinta, Sebastião Melo (MDB) será entrevistado em GZH. Antes, foram ouvidos os candidatos José Fortunati (PTB) e Manuela D'Ávila (PCdoB). O critério de escolha dos participantes foi a colocação na pesquisa Ibope divulgada em 5 de outubro – GZH convidou os quatro melhores colocados. A ordem das entrevistas é alfabética.
Por que o senhor quer ser prefeito de novo?
Entre todos os cargos, (o de prefeito) é o que mais entrega, que mais muda a vida das pessoas. Quero continuar, manter, na verdade, as reformas e consolidar as entregas que estão em andamento. Concluir a PPP (parceria público privada) de iluminação pública, a PPP de saneamento, PPP de drenagem. O maior investimento da história da malha viária, reforma na área da saúde, gigantesca, tem de ser consolidada, na área da educação, tem muito o que mudar ainda, na área social também e iniciar outros projetos. São esse motivos que me levam.
Qual seria a primeira medida, caso o senhor assuma o segundo mandato?
Formar a equipe. A primeira vai ser reorganizar a equipe e apresentar a nova estrutura administrativa da prefeitura, que vai ter mudanças.
Sobre a sua relação com a Câmara. O senhor está enfrentando um processo de impeachment, que quando for votado em plenário, a gente sabe que o senhor não tem votos para escapar. Em algum ponto o senhor falhou?
Em algum ponto, não. Devo ter falhado em vários pontos. Por ter chegado nesse ambiente. Agora, é importante a gente olhar um pouquinho, porque nada é muito ou pouco se não for comparado. Então, sem querer utilizar as questões específicas, mas tem que trazer algumas para comparação. O ex-prefeito (José) Fortunati saiu do seu partido, pediu licença do seu partido quando era prefeito, porque não tinha apoio do seu partido na Câmara. A gente lembra que a Dilma se elegeu com maior percentual de votos e aprovação, né? E sofreu impeachment. Na eleição da Dilma, eu estava lá, ela era unanimidade na população, né? E ela mesmo assim sofreu o impeachment. Mesmo não tendo esse apoio, como tu disseste, massivo na Câmara ou tendo esse apoio muito pequeno, fiz talvez, vou dizer na história recente, 30, 40 anos, as maiores reformas estruturais da cidade, aprovadas na Câmara de Vereadores.
Quais são as mais relevantes?
A gente pegou os últimos 25 anos, e só teve aumento de despesa permanente. O último prefeito aumentou despesa fixa em mais de R$ 200 milhões por ano. O anterior em mais de R$ 100 milhões por ano. A gente fez reformas que diminuíram as despesas, ou seja, mexemos em direitos de pessoas, em garantias, em vantagens. Eu diria até em benefícios em desacordo com a realidade da cidade, e consegui fazer isso com maioria na Câmara. A gente fez reforma de IPTU que não era nem sequer tentada há 29 anos e consegui fazer, consegui ter a maioria na Câmara para isso. Então, evidentemente que tive acertos e tive muitos erros, e talvez não saiba identificar todos.
Mas que autocrítica é possível fazer? Lembro que, lá no início de 2017, um dos primeiros momentos de absoluta tensão com a Câmara, foi quando em um congresso do MBL o senhor disse que parlamentar é cagão. E aí eles ficaram muito brabos. O senhor faria diferente agora?
Acho que houve talvez imaturidade política ali naquele momento. É importante dizer, né? Eu estava em São Paulo como uma referência política nacional, onde o governador Eduardo Leite já foi, o governador João Doria já foi, o Michel Temer já foi. Eu estava lá como referência para falar do cenário. Por que não aprovam as reformas? Porque o parlamentar tem medo. Sim, o parlamentar não gosta de receber vaia. Enfim, é verdade isso. Como regra, sim, falta coragem a muitos parlamentos. Isso é um fato. Eu estava lá como comentarista político.
Mas o senhor considera que foi um erro se manifestar assim naquela oportunidade?
Nas conversas com os vereadores (sobre o aumento do IPTU), não só comigo, mas com vários técnicos, os vereadores levavam o seu caso concreto, da sua casa, para dizer que o seu IPTU iria aumentar e que, portanto, iria votar contra. Não acho que essa é uma visão de interesse público coletiva. Talvez, eu não devesse ter expressado isso do ponto de vista de estratégia.
Não era mentira, não era incorreto, era angústia da equipe técnica, que queria fazer o melhor para a cidade, e talvez eu não devesse ter expressado. Realmente, concordo. Isso pode ter sido um dos erros.
O senhor não acha que o senhor pode ter se inviabilizado politicamente. Digamos que o senhor se reeleja, parte expressiva dos vereadores também vai se reeleger. Com que clima o senhor vai governar?
Embora o Ulysses Guimarães diga que "o parlamento sempre piora", né, Tenho a expectativa de que possa melhorar. De que vereadores condenados na Justiça por corrupção, por desvio de recursos, não se reelejam. Tenho a convicção que a postura de muitos vereadores contra interesses da cidade reflita nas urnas. Então, aposto e aproveito aqui a audiência, (para que) renovem a Câmara de Vereadores para que a gente não tenha mais aquele passado obscuro da cidade, que teve vínculo todas as corrupções. Espero que a população entenda isso e renove. Mas farei a política e a relação com o parlamento através dos parlamentares que representarem o parlamento. Na política, tu não escolhe. Quem escolhe é a população. Vou me relacionar no formato mais adequado ao interesse público, coletivo, com quem estiver lá, independente do partido e independente da pessoa.
Como garantir que se votar no Marchezan, ele não será governado pelo Tanger Jardim, o seu vice, do PSL? Não dá para duvidar de novo processo de impeachment, né?
Olha, é a mesma garantia que tem o eleitor de votar num ótimo parlamento e que faça o trabalho que esse parlamento antigo não fez e que não entrou com impeachment contra outros prefeitos, que acobertaram a corrupção. Talvez, se elegerem um prefeito para fazer os mesmos atos de corrupção que os antigos não viram e que a Câmara não fez o impeachment, talvez essa próxima Câmara, se for melhor, seja mais atenta e aí elegendo um prefeito que aceite a corrupção, como os antigos aceitavam, sofra o impeachment por corrupção. A garantia que eu posso dar é que, por corrupção, eu não serei "impeachmado" (afastado), não serei processado.
Seus adversários falam muito sobre falta de diálogo. Minha dúvida é mais profunda, não só com a Câmara. O senhor se considera um agente do diálogo, de fato, com outros setores da sociedade?
Olha, nos primeiros dois anos, que foram os momentos mais difíceis da prefeitura, e evidentemente também da relação com o Orçamento Participativo, eu pessoalmente apresentei as reformas em todas as reuniões do Orçamento Participativo. Se não me engano, foram 18, 19, 20 reuniões regionais, fora as reuniões com o COP, onde foram reuniões na sede da prefeitura, daí foram mais seis, sete durante esses dois anos. Foram momentos em que a gente precisava de apoio para fazer as reformas. Momentos de buscar o apoio do OP, de explicar para o OP, para os delegados, para a população, lá na ponta. Quem foi explicar a situação da prefeitura, explicar as reformas, explicar que a reforma do IPTU era justa, durante esses dois anos, sem a presença de vereadores, porque não foram, fui eu. Em todas as reuniões. Só em reuniões regionais, mais de 20 durante esses dois anos. Então, não acredito que algum outro setor possa dizer falta de diálogo, que não teve reunião comigo. É até meio incoerente isso, né?
E além do OP?
Eu tive muitas reuniões com a sociedade civil organizada. Acho que nenhum presidente de entidade e nenhuma diretoria de entidade pode reclamar. Posso até te dizer que no primeiro ano de governo eu tive uma média de reuniões com o Simpa, o Simpa que tem metade de sua diretoria filiada ao PCdoB e a outra metade filiada ao PT, tive em média uma reunião a cada duas semanas e quem conhece o Simpa sabe, as reuniões com o Simpa não são reuniões, porque todos querem falar e demarcar sua posição ideológica, não são reuniões de menos de três horas. Só encerrei o diálogo com o Simpa quando mais de 200 pessoas, inclusive, que não eram do Simpa, que eram pessoas acho que contratadas ou de outros movimentos de fora cidade, invadiram a prefeitura por mais de 12 horas, com mulheres, inclusive grávidas que não podiam sair, saíram com escolta da Brigada Militar. Arrombaram, chutaram portas, depredaram patrimônio. A partir daí, meu diálogo se encerrou do ponto de vista de conversas presenciais. E só ocorreu por relações documentais registradas.
Em relação ao transporte coletivo. O senhor encaminhou um pacote para a Câmara com série de propostas, algumas bastante polêmicas. O que o senhor pretende fazer para avançar em eventual segundo mandato?
Desde 2017, a gente apresentou várias propostas. Algumas foram aprovadas, outras não. Outras estão lá desde 2017. Temos muitas propostas. Não são uma, duas ou três. As reformas que a gente já fez no transporte também são referência. Hoje, aqueles usuários do ônibus, que usam as linhas que têm as faixas exclusivas economizaram em média 25 minutos por dia de vida, que ficavam no transporte dentro do ônibus. GPS em 100% dos ônibus. 100%. Essas ideias que a gente apresentou são alternativas, que são referência, que estão em debate no mundo inteiro, as nossas propostas. E aceito outras. Só que durante quatro anos foi um deserto, uma escuridão de propostas. Ninguém apresentou. Buscamos pelo diálogo, pela conversa, pela insistência, por conversas com todas as cidades do mundo trazer para cá o que é mais novo. E continuamos tentando trazer e aceitando sugestões, desde que sejam viáveis e não populistas e atendam ao usuário, evidentemente.
Vereadores se queixavam, que em primeiro momento, quando o pacote foi enviado, foi no sopetão, em regime de urgência. Não é sinal de que a relação com a Câmara, às vezes, foi pouco pensada?
Esse é sempre um argumento para quem não tem argumento. Dizer que falta diálogo. É sempre o argumento, mas tá, qual é o outro argumento? Entra no mérito da questão? Não entra. Quando não sabem, não querem entrar no mérito, porque não têm outro argumento, usam a falta de diálogo. É evidente que convidamos, conversamos com todos os líderes, com o presidente do parlamento, que iria assumir e com todos os líderes da Câmara. É evidente que conversamos. Até porque o vereador que não tiver o mínimo de conhecimento de transporte coletivo deveria se envergonhar. Então, conversamos sobre os projetos e foi combinado com os líderes dos partidos, com cinco ou seis líderes que iremos apresentar os projetos. Não obtivemos o número de votos, mas apresentamos. Tanto é que apresentamos depois com mais prazo e não aprovamos. Então, o problema não foi a falta de diálogo. O problema é que não queriam votar.
E a questão de ser em ano eleitoral?
O fato de apresentar em ano eleitoral, primeiro, eu continuo sendo prefeito. Segundo, as pessoas continuam vivendo. Se eu fosse eleitoreiro, não apresentaria uma pauta tão, vamos dizer assim, complexa de ser entendida em período eleitoral. Apresentei porque eu acho que é uma pauta que precisa ser debatida, porque a vida das pessoas é agora, inclusive, no ano eleitoral. E estamos em uma pandemia, precisamos preparar o transporte público para a pandemia e para o pós-pandemia, independentemente de eu ser prefeito, de eu ser reeleito, de ter eleição.
O que vai mudar na cidade se o senhor for reeleito?
A cidade vai mudar em infraestrutura, em qualidade, porque a iluminação pública vai continuar, a PPP do saneamento vai sair, as obras da Orla vão ser entregues. O embelezamento da cidade vai mudar. Talvez a zeladoria não mude tanto, porque a gente teve que reduzir os contratos. A gente tinha melhorado muito no início do ano e agora teve de reduzir por causa da crise financeira.
Sobre a zeladoria, durante bom tempo, especialmente nos primeiros dois anos do seu governo, a gente tinha impressão de uma cidade bastante abandonada…
Igual a como era, né?
Olha, prefeito, no primeiro ano, ali em 2017, buraco nas ruas da cidade, me parecia mais impactante, de fato do que era antes, do primeiro ano pelo menos. Então, a gente teve essa sensação de cidade abandonada, me refiro aí a capina, corte de grama, buraco na rua, vazamentos. Isso deve retornar, embora em menor grau agora no primeiro ano de seu governo por causa dessa perda de arrecadação?
É importante dizer que me elegi depois de um grupo. Tinha um grupo de 16 anos, veio um grupo de 12 anos, a cidade não queria voltar para trás, para 16 anos e não queria continuar com aquele grupo de 12 anos. Ela me elegeu para mudança. Então, a expectativa de mudança era muito grande. E fiz a mudança. Só não fiz tudo rápido como as pessoas gostariam porque era inviável. Então, do aspecto de tapa-buraco, a cidade vai melhorar indubitavelmente. Por quê? Porque temos garantido já em financiamento e reservado no orçamento, muito menor do que o orçamento, investimento em manutenção e recuperação de vias, que equivalem a quase 20 anos. Então, se a gente pegar os últimos 20 anos, este ano e o ano que vem, serão investidos em recapeamento, em melhoria da qualidade do asfalto, esse volume equivalente a 20 anos. Então, vai melhorar, não tem como piorar.
E a zeladoria?
A questão da zeladoria, no início do ano, ela vai estar bem. Mas talvez quando chegue no final do ano que vem, como talvez quando chegue no final deste ano, ela não vai estar tão bem como estava no início do ano. Por quê? Porque tu paga por homem, por serviço entregue. Então, por serviço entregue, ou tu paga uma capina a cada 30 dias, que é o ideal, ou diminui o contrato, quando tu tem crise. Tu diminui o contrato e a capina acontece a cada 60 dias. No inverno, não se nota, mas, no verão, com chuva e sol, a grama cresce muito rápido e talvez apareça. Repito, não aos níveis de 2017, 2016, 2015, mas talvez não chegue aqui aquele nível de excelência que era o nível que acredito que a gente chegou no início deste ano.
O senhor aumentou no início do governo o número de horas aulas semanais nas escolas do município. Isso não se refletiu, aparentemente, na qualidade do ensino. No IDEB mais recente, nos primeiros cinco anos do Ensino Fundamental, Porto Alegre ficou em 25º lugar no ranking das 27 capitais do Brasil. E em 21º lugar quando a gente analisa os quatro anos finais do fundamental. O que o senhor pretende fazer sobre isso?
Isso reforça a necessidade de reformas e de mudança no ensino estatal em Porto Alegre, no Brasil, mas aqui principalmente. Nós temos os mais altos salários de professores em Porto Alegre, temos o segundo professor mais bem formado de todas as capitais, temos a segunda sala de aula com menor número de alunos de todas capitais, temos a primeira, acima da média brasileira, de situação financeira dos pais de alunos que estão nas nossas salas de aulas das escolas estatais, mas tínhamos ao longo dos anos hábitos horrorosos aqui.
Quais?
Primeiro, todos professores do ensino fundamental tinham uma folga por semana. Segundo, todos os alunos, às 10h e às 15h de quinta feira, iam para fora, para a rua da escola. Só com essa mudança a gente aumentou em 30% a carga horária, aprovamos um projeto de lei na Câmara que teremos uma prova anual para acompanhar o aprendizado e aquele diretor que não melhorar os índices de aprendizado do aluno, vai passar por nova eleição. Os pais vão ter que validar se ele continuar sendo diretor.
E o resultado do IDEB? Qual a sua avaliação?
A gente teve baixíssimo índice de escolas que aderiram, tivemos um boicote das nossas escolas. Teve menos da metade das escolas do Ensino Fundamental participando do exame do IDEB, então a gente não sabe efetivamente se esse é o índice real de todas as escolas e o número de alunos também muito baixo, o que demonstra falta de interesse dos próprios diretores e professores de que fosse realizado. Mas é inegável que precisamos fazer reformas.
Mas se todas tivessem participado talvez teria sido pior, porque escolas que estariam boicotando poderiam ter resultado ainda pior...
Pode ser. A gente pode perceber agora nas escolas que abriram, né? No pós-pandemia. Não teve nenhuma rede no mundo inteiro, na área social, tão forte e eficaz, quanto a escola. Tem um papel de ensino, mas tem outro papel social e, nesse período pós-pandemia, todas as escolas conveniadas abriram. Todas as escolas estatais municipais fizeram boicote e ficaram fechadas, até a decisão do juiz, que determina que todas abram.
Na prática, como fazer o ensino melhorar?
Reitero, Porto Alegre sempre teve de 20º a 27º, sempre esteve entre os piores índices, com as melhores condições e os piores índices. Isso não é novidade. Entendemos que temos que avançar. Primeiro, fizemos uma lei, onde os pais têm mais participação na escolha dos diretores. Segundo, esse pais podem trocar o diretor, se a aprendizagem do seu filho não melhorar. Terceiro, aumentamos a carga horária dos professores. Hoje, só no nosso governo, as aulas acontecem de segunda a sexta, das 8h ao 12h. Trocamos o contra turno da FASC, com visão mais assistencial, para um contra turno para seis mil crianças, para educação, onde vai ter foco no ensino, com cinco horas, nível mundial de cargo horária. Mais, isso vai ser contratualizado, com entidades conveniadas, não estatais, que vão poder levar outra visão de ensino para dentro da escola estatal. Acreditamos que todas essas medidas, além de outras, vão melhorar.
O Mercado Público tem um dos prédios mais bonitos de Porto Alegre e segue funcionando pela metade, o segundo andar segue interditado após sete anos. Tem justificativa para isso?
Tem justificativa para ter tantos buracos dos governos anteriores no meu primeiro ano de governo? Tem justificativa para mato crescer? Tem justificativa para o valor repassado para as creches ser tão miserável? Tem justificativa para as pessoas irem às 3h da manhã, antigamente, para tirar consulta com o médico? Uma cidade amiga do idoso? Então, prioridade. A minha prioridade foi botar a marcação de consultas no celular e botar 150 mil porto-alegrenses que não tinham acesso ao SUS, que passaram acessar. A nossa prioridade foi dar o mínimo de zeladoria na cidade e sabendo que a saúde é com a gente, a educação é com a gente, a manutenção da zeladoria é com a gente, mas os investimentos do Mercado Público podem ser privados e a gente quer trazer através da concessão R$ 100 milhões de investimentos, no mercado e, se a empresa apresentar o projeto, na região do entorno do mercado. A gente fez escolhas. Hoje, ele é dos concessionários, por isso a guerra deles, tem contratos ultrapassados, alguns não pagam, alguns têm valores baixos.
Claro, entendo que seja a intenção do governo conceder a administração do Mercado para iniciativa privada. O fato é que se passaram quatro anos e o segundo andar continua interditado.
Não, manutenção ele teve. Ele não teve ampliação, teve algumas reformas, mas não teve ampliação para o uso do segundo andar.
Mas o segundo andar tem um problema elétrico, que pode ser encarado como questão de manutenção.
A gente tem problema de PPCI (Plano de Prevenção Contra Incêndios), que ainda não é o definitivo. Tem vários problemas lá. Para pegar o PPCI definitivo tem que fazer mais obras, mais investimentos, escolhas. A resposta é essa: escolhas.
Não houve negligência?
Tudo é responsabilidade da prefeitura quando é patrimônio público. Nessa fizemos uma escolha. Entre botar ali R$ 12 milhões, R$ 15 milhões, a gente escolheu botar em outras áreas. Foi uma escolha e deixar para a iniciativa privada fazer. Como foi um processo de muito diálogo e é concessão, é algo muito técnico, somos a cidade que mais apresentou editais de concessão, de PPP, de consulta de PPP do Brasil. Então, a gente tem uma equipe, mas não é tão robusta para conseguir fazer tudo.
Quais são as próximas? Teve várias PPPs que não avançaram.
A gente teve o sucesso na questão das placas com nome de ruas, que foi a primeira do Brasil. Com uma empresa de Porto Alegre, que venceu. Tivemos os relógios, 168 que vão das Ilhas à Restinga, todos com câmeras de monitoramento, só recursos privados, que foi R$ 80 milhões de outorga, que é a maior empresa de gestão de mobiliário do mundo, que olhou para cá e disse "vou investir lá" e veio para cá. A gente teve a de iluminação pública, que devemos assinar a ordem de início na semana que vem. A concessão do saneamento, esgoto, 40% do esgoto do porto-alegrense é in natura, está espalhado pela cidade e vai para alguns riachos e vai para o Guaíba. Esta a gente deve ter uma publicação de consulta para a sociedade em dezembro. Então, se a gente continuar, devemos ter uma PPP, com investimentos privados, para a drenagem, que é um problema da cidade. A concessão do trecho 2 (da Orla) também deve avançar e o trecho 3 que está sendo feito com recurso de financiamento. A concessão do Parque Harmonia, se falhar, a gente deve readequar e apresentar de novo. Tem o edital já na rua que é o do abrigo dos ônibus, reformados, com câmeras de segurança também, todos com monitoramento de placa de veículos, com luminárias, informações.
São quantos abrigos, prefeito?
Em Porto Alegre, são 4 mil, se não me engano. Ela vai fazer só alguns, são algumas centenas nos lugares que têm mais movimento, fazer o abrigo, com banco, com carregador, com painel de informação.
Sobre a Orla, no horário eleitoral o senhor tem usado como realização sua, mas o senhor era crítico a esse projeto da Orla, que foi inaugurado no seu governo.
A gente, no início, tinha ideia que o melhor modelo era concessão, como a gente quer fazer no Trecho 2, fazer por concessão com recursos privados. Fazer com PPP, concessões, contrapartidas, ou financiamentos é uma hipótese. A gente achava que (a decisão da gestão anterior) não era o melhor, mas que foi bom e assumo que foi bom. Agora, a revitalização da Orla era promessa nossa e, quando a gente chegou, tinha 35% da obra, do ponto de vista financeiro, entregue. Então, fizemos 65% da execução financeira, acho que tivemos participação.
Mas entregou atrasado.
Como tudo que a gente recebeu, a maioria das obras e dos financiamentos atrasados. A gente colocou o projeto de câmeras de segurança, que não tinham na Orla, então demorou pouco mais. E a gente chamou o prefeito (José) Fortunati no dia da entrega, inclusive ele falou, teve a palavra, nunca negamos, mas quem concluiu, quem botou segurança, quem fez 65% da execução financeira foi nosso governo.
A prefeitura começou recentemente um processo de demissão de cerca de 1.300 profissionais da saúde, que trabalhavam no Imesf, o órgão responsável pela gestão dos postos de saúde. Em paralelo a isso, o senhor começou a botar em prática o seu processo de terceirizar a administração dos postos de saúde para organizações privadas, sem fins lucrativos. Que alternativas o senhor tem oferecido para esses funcionários demitidos?
É justamente para acabar com essas faltas de médicos e essas filas que a gente está contratualizando. Não é privatizando, terceirizando, é a Santa Casa, é 100% SUS. Alguém que vai na Santa Casa não entende que lá é público, pago pelo Estado. Divina Providência, Vila Nova, 100% SUS, atende quem ninguém mais quer atender na cidade, quase que duplicou com a gente a sua estrutura hospitalar. Assumiu lá na Restinga e duplicou todos os serviços, implantou dezenas de serviços, botou a CTI, que não tinha. Uma série de serviços. O que a gente quer é parceirizar. Santa Casa, Vila Nova e Divina Providência, alguém é maltratado lá? Nessas unidades, onde não tem médico e o serviço não é da qualidade que o usuário merece é que são administrados pelo Imesf, porque é uma forma ruim de gerir e quem extinguiu foi uma ação de inconstitucionalidade pelo sindicato em 2011. Todos os profissionais, inclusive, o sindicato médico fez acordo e os médicos foram todos para essas entidades, estão lá na Santa Casa, Divina Providência, Vila Nova e todos os profissionais que não foram enganados pelos sindicatos ou até por decisões ideológicas do Judiciário e ações ideológicas do Ministério Público, estão contratados lá, com qualidade de serviços muito melhor.
Qual o seu lugar preferido da cidade?
Atualmente, minha casa, com a minha família, para curtir os meus filhos.
Lugar que é a cara da cidade?
A Orla.
Lugar triste?
Alguns gabinetes da Câmara de Vereadores, obscuros, que contribuem para Porto Alegre não avançar nas suas mudanças. Eleitor, está na hora de mudar, botar vereador que represente o teu interesse público da cidade como um todo.
O senhor está dizendo para o eleitor mudar os vereadores, mas o prefeito o senhor não quer que mude...
Isso. Bom, se ele quiser um prefeito que tem um diálogo mais amplo, voltar às páginas policiais, não respeitar o dinheiro público, quebrar a prefeitura de novo, não ter dinheiro para fazer o que precisa ser feito, escolher prioridades com seus amigos e não coletivos, não vota em mim.
Para finalizar, um lugar que um senhor nunca foi? O senhor conheceu o Buraco Quente?
Conheci (risos). São tantos lugares que eu nunca fui, muitas igrejas, muitas praças e parques. São tantos lugares, que realmente não saberia te dizer.