Apesar da pequena estrutura e da pouca experiência, o partido Novo conseguiu sair das eleições de 2018, a primeira de nível nacional da qual participou desde sua fundação, com resultados significativos.
Elegeu Romeu Zema para governar Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, e garantiu oito cadeiras na Câmara e 12 assentos em assembleias legislativas de cinco Estados. Na corrida presidencial, mesmo sem participar dos debates e prejudicado pelo voto útil em Jair Bolsonaro (PSL), João Amoêdo anotou 2,5% da preferência do eleitorado, à frente de nomes tradicionais como Marina Silva (Rede). Ter ultrapassado a cláusula de barreira, medida pela votação ao Congresso, também foi relevante. Agora, além de serem chamados aos debates, os candidatos do Novo ganharão mais tempo no horário eleitoral e direito a maior parcela da verba pública para financiamento de campanha.
— Tínhamos receio em não superar a cláusula. O acesso aos fundos partidário e eleitoral não faria diferença, não usamos esse recurso, mas para ter mandatos com maior robustez. Ter superado, tenho certeza, nos permitirá crescer mais na próxima eleição — analisa o vereador de Porto Alegre Felipe Camozzato, um dos principais nomes do Novo no Rio Grande do Sul.
Integrantes da legenda reconhecem que foram surpreendidos pela eleição de Zema em Minas. A jovem sigla de discurso empresarial terá de aplicar os conceitos na prática, justamente em um dos Estados mais endividados do país, com salários atrasados e sem investimentos. Há muita coisa em jogo, desde a consagração até a decepção a partir dos atos do futuro governador mineiro.
Paulo Peres, professor do curso de pós-graduação em Ciência Política da UFRGS, diz que é preciso avaliar se o crescimento do Novo foi "conjuntural", pela demanda da sociedade por rostos diferentes, ou se, de fato, a sigla começa a se consolidar como força. A resposta, diz o pesquisador, passará pelo desempenho de Zema, mas também pelos posicionamentos partidários. Caso siga a linha "liberal na economia e conservador nos costumes", o Novo poderá se mostrar nem tão novo assim, além de correr o risco de virar linha auxiliar do PSL. Por outro lado, se seguir o caminho da direita libertária, não admitindo que o Estado interfira na vida do indivíduo, poderá afrontar setores fortalecidos pelo pleito, incluindo os fiéis das igrejas neopentecostais.
— O que ganhou a eleição foi o discurso da direita conservadora. E a direita libertária atinge parcela muito menor do eleitorado. Para onde o Novo vai crescer? Eles terão uma encruzilhada e, nela, terão de decidir se serão mesmo novos na ação programática ou se vão fazer arremedo de direita conservadora, se aproximando do Bolsonaro. A dificuldade do Novo para crescer estará no limite do seu discurso — avalia Peres.
Camozzato entende que a sigla irá se diferenciar do PSL sobretudo na pauta econômica.
— A bancada mais aliada do Paulo Guedes (futuro ministro da Economia) poderá ser a do Novo. E a bancada do PSL mais alinhada com o Bolsonaro — analisa o vereador.
Mas Peres alerta que se limitar à pauta do mercado pode não ser suficiente para sustentar a audaciosa nomenclatura:
— O discurso pró-mercado do João Amoêdo (candidato da sigla à Presidência) é parecido com o do Fernando Collor nos anos 1990. A lógica empresarial no Estado não é novidade. O novo seria reduzir o Estado nas duas esferas, a econômica e a moral. Isso os distinguiria dos conservadores.
O partido ainda tem o desafio de se expandir ao Norte, ao Nordeste e às zonas periféricas da sociedade. O descolamento das massas se mostra em situações corriqueiras. Para o tradicional café da manhã em dia de eleição, no primeiro turno, o candidato do Novo ao governo do Rio Grande do Sul, Mateus Bandeira, reuniu apoiadores em uma "boulangerie". No popular, e em português, uma padaria.
NOVO EM NÚMEROS
4 vereadores foram eleitos pelo Novo em 2016, em Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte (um em cada capital).
8 deputados federais foram eleitos este ano, três por SP, dois de MG, um de SC, um do RJ e um do RS — Marcel van Hattem, o mais votado do partido em números absolutos e proporcionais.
12 deputados estaduais eleitos, quatro em SP, três em MG, dois do RJ, um do DF e dois do Rio Grande do Sul — Fábio Ostermann e Giuseppe Riesgo.
Curiosidades
— Os filiados do Novo precisam contribuir com o partido. Eles podem optar pela contribuição mínima de R$ 28,81 ao mês ou pela parcela única de R$ 345,75 ao ano.
— Em agosto de 2018, antes do início da campanha, o Novo tinha 23 mil filiados. Passado o segundo turno eleitoral, o partido ultrapassou a marca de 30 mil filiados no país.
— A sigla possui filiados em mais de 1,6 mil cidades. O Novo está organizado com diretórios e núcleos em 21 Estados. Ainda não está presente em Roraima, Amapá, Maranhão, Tocantins, Acre e Piauí.