Oito candidatos à Presidência da República participaram do debate promovido pela Record TV no fim da noite deste domingo (30) — todos pertencentes a partidos ou coligações com ao menos cinco representantes no Congresso Nacional (Câmara e Senado), segundo determina legislação eleitoral.
Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede) fizeram questionamentos entre si e responderam perguntas de jornalistas. Jair Bolsonaro (PSL) não participou porque, embora já tenha recebido alta no Hospital Albert Einstein, ainda se recupera de um ataque a faca sofrido em 6 de setembro.
O debate
No primeiro bloco do programa, os candidatos escolheram um adversário para fazer questões. Temas como corrupção, desemprego, economia, saúde, radicalismo e polarização política permearam as discussões. Bolsonaro e Haddad foram os principais alvos.
Cabo Daciolo abriu a série perguntando a Haddad sobre qual seria a solução dele para investir em infraestrutura e saneamento no Brasil, completando em seguida:
— Quem é o presidente Lula para o senhor?
Em resposta, Haddad ressaltou que, com a emenda 95 (que limitou por 20 anos os gastos públicos), "não será possível retomar as obras de infraestrutura que se encontram paradas no país". Ele propôs substituir o teto de gastos "por outra fórmula fiscal, que garanta investimentos". Quanto a Lula, Haddad declarou que foi "o maior presidente da história do Brasil". Daciolo retrucou, afirmando que Lula "se corrompeu", e Haddad chamou Daciolo de "desinformado".
Em seguida, o petista questionou Meirelles sobre políticas para idosos e pessoas com deficiência. O candidato do MDB disse que o Brasil precisa de "boa política econômica" para criar empregos e, a partir daí, adotar políticas para que essa parcela da população tenha acesso às oportunidades. Na réplica, Haddad disse que todos os programas da época de Lula foram adaptados para atender idosos e pessoas com deficiência. Meirelles rebateu, lembrando que tudo "demanda recursos" e que, para isso, é preciso que o país tenha um presidente que "conheça a economia".
Ao fazer sua pergunta, Meirelles escolheu Ciro Gomes como interlocutor. Inicialmente, ressaltou que "nenhum país democrático tem um Bolsonaro como presidente", para em seguida concluir a questão:
— O que podemos fazer para promover mais confiança e um melhor entendimento entre brasileiros para que não se caia no radicalismo?
Ciro disse que "nenhum país do mundo suportará o desdobramento que o país está visualizando no momento" e lembrou da eleição de 2014, que terminou com o país rachado, afirmando que, desde então, o Brasil não discute "a massa de desempregados". Na réplica, Meirelles afirmou que "os radicais sempre tentam fugir do problema" e afirmou que o Brasil precisa de um presidente que apresente propostas baseadas em resultados. Ciro disse que a "capacidade de diálogo" é o maior requisito para encerrar a polarização.
Voltando a falar de Bolsonaro, Ciro então escolheu Marina para questionar sua opinião sobre a recente afirmação do capitão reformado de que não reconhecerá o resultado das eleições. Marina disse que Bolsonaro tem "atitude autoritária e antidemocrática" e que com essa frase ele também "desrespeita a Constituição". O pedetista ressaltou que todos os candidatos deveriam reafirmar "o compromisso com a democracia". Na tréplica, Marina destacou que Bolsonaro vem sendo "desconstruído nas suas atitudes pelos seus próprios atos".
Dirigindo-se a Alvaro Dias, Marina quis saber a posição do candidato em relação à polarização da eleição, em que a população, segundo ela, está "sendo induzida a votar pelo medo". Dias declarou então que "estamos assistindo à marcha da insensatez nessa campanha eleitoral", condenando a divisão entre bolsonaristas e petistas. Marina disse que pode "unir o Brasil" e que "o PT acabou criando o Bolsonaro e o Bolsonaro é o maior cabo eleitoral do PT". Ao final da rodada, Dias concluiu que as pessoas "com inteligência" estão "ressuscitando a esperança dos escombros da corrupção" e "evitando a marcha da intolerância".
Dias então direcionou-se a Alckmin para peguntá-lo sobre sua posição a respeito do fim dos privilégios das autoridades. Alckmin começou saudando as mulheres pelo "exemplo de civismo". Afirmou que é favorável às reformas e que a primeira delas deve ser a reforma política. Ele então perguntou a Boulos sobre suas propostas para a saúde.
O candidato do PSOL disse que o primeiro passo é "desfazer o estrago" causado pelo "desgoverno" de Michel Temer, revogando a emenda constitucional 95. Ele também afirmou que é preciso fazer investimento necessário no SUS, fazendo "rico pagar imposto". Alckmin disse que saúde e educação "estão fora" da PEC do teto de gastos, o que foi classificado como "mentira" por Boulos.
No encerramento do primeiro bloco, Boulos perguntou ao Cabo Daciolo o que ele fará em relação ao estatuto das cidades. Daciolo disse que não tinha tempo a perder, disse estar sendo alvo de perseguição e acusou os concorrentes de terem contribuído para a atual situação do país. Boulos afirmou que não faz parte "desse clube de amigos" e que vai fazer valer o estatuto das cidades, destinando imóveis abandonados para sem-tetos.
No segundo bloco, o enfrentamento direto entre os candidatos teve continuidade. Boulos começou questionando Haddad sobre as alianças entre PT e MDB nos Estados. O petista afirmou que decidiu apoiar Renan Filho em Alagoas e Camilo Santana no Ceará, porque foram "vitoriosos no empenho de melhorar as condições de vida das pessoas mais pobres". Boulos declarou que muitas pessoas estão desiludidas com o sistema e que as velhas formas de fazer política e que isso tem alimentado saídas autoritárias. Disse que ele e Haddad têm responsabilidade em aprender "com os erros do passado".
Haddad então dirigiu-se a Ciro Gomes para questioná-lo sobre suas propostas para a educação. Ciro disse que, para ele, educação é "um compromisso de vida" e citou o Ceará como exemplo. Ele também falou em fazer "uma aposta mais clara no ensino público e gratuito". Haddad disse que "ninguém investiu mais em ensino público e gratuito" do que ele próprio.
Citando sua proposta para tirar os brasileiros do SPC, Ciro quis saber de Alckmin qual é seu projeto para ajudar as famílias brasileiras a saírem do endividamento. O tucano disse que é preciso aumentar o crédito, reduzir a taxa de juros, apoiar as pessoas endividadas, procurar reduzir sua dívida e renegociá-la e dar crédito para os pequenos empreendedores.
Para Meirelles, Alckmin perguntou por que o Brasil não está crescendo, neste ano, o que era esperado. Meirelles disse que tirou o Brasil "do fundo do poço", que o país voltou a crescer e que "cresceria mais este ano não fossem as propostas radicais de alguns candidatos", levando empresários a adiarem investimentos.
Meirelles então escolheu Marina para a próxima pergunta, na qual voltou a criticar Bolsonaro, dizendo que o adversário é contra o Bolsa Família e que o economista Paulo Guedes, autor de seu plano econômico, quer acabar com o 13º salário e retomar a CPMF. Marina prosseguiu nas críticas, ressaltando que o presidente da República deve defender os "mais frágeis, que mais precisam".
— É uma pena que ele não esteja no debate para explicar todas essas coisas — destacou Marina, que na sequência escolheu Cabo Daciolo para a próxima pergunta.
A questão foi sobre a visão de Daciolo a respeito "desse momento da política brasileira", em que as pessoas estão sendo "levadas a votar pelo medo". Daciolo respondeu, afirmando que "ama" todos os concorrentes, mas que não permitiria que a nação "continue sendo enganada". Disse, por fim, que "não se retribui o mal com o mal". Marina concluiu, afirmando que "os graves casos de corrupção que nós temos são as principais testemunhas de que essas pessoas que criaram o problema não podem resolver o problema".
Daciolo perguntou a Dias sobre qual é a importância das Forças Armadas para o Brasil e qual o plano dele para evitar o sucateamento do setor. Dias afirmou que o sonho dos políticos é ter o prestígio que os integrantes das Forças Armadas têm junto à população brasileira e deu razão a Daciolo sobre a falta de recursos.
Na sequência, Dias questionou Boulos sobre o que fará em relação aos prejuízos da Petrobras. Boulos disse que é preciso combater a corrupção é preciso reformar o sistema "que está podre", dar transparência aos negócios públicos e maior participação à população. Na avaliação dele, não se resolve o problema entregando as empresas públicas. Dias disse que o que houve na Petrobras foi "roubalheira" e afirmou que pedirá ressarcimento dos cofres públicos.
No terceiro bloco, em mais uma rodada de perguntas diretas entre os presidenciáveis, o primeiro a perguntar foi Ciro Gomes. Ele escolheu Haddad e pediu que o petista explicasse sua proposta de convocar uma Constituinte para fazer mudanças no Brasil. Segundo Ciro, essa não é uma prerrogativa do presidente da República. Haddad rebateu, afirmando que quer mudar o Brasil de forma democrática.
O petista então voltou-se a Boulos para questioná-lo sobre o fato de candidatos que se dizem de centro apoiarem o atual governo. Boulos disse que "aqui há 50 tons de Temer" e que vários candidatos "apoiaram Temer". Ele voltou a repudir a declaração de Bolsonaro de que não aceitará o resultado da eleição, se perder.
O concorrente do PSOL perguntou a Meirelles se ele defende que o tema LGBT seja abordado desde cedo, em sala de aula, para que o Brasil vença o preconceito. Meirelles disse que o tema da violência como um todo tem de ser tratado em sala de aula, sem privilegiar um grupo específico. Boulos disse que Meirelles defende o projeto Escola Sem Partido em seu plano de governo e defendeu o fim do preconceito.
Geraldo Alckmin fez um apelo para que eleitores se unam contra os radicalismos representados, segundo ele, por Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. O candidato do PSDB disse ainda que ambos os adversários são parecidos e afirmou que tanto o PT quanto Bolsonaro votaram contra o Plano Real e contra as quebras dos monopólios de comunicação e do petróleo.
Em uma resposta indireta a Alckmin, Marina Silva relacionou o PSDB com o quadro polarizado entre PSL e PT. — O projeto autoritário do Bolsonaro foi chocado no ninho da polarização do PT e do PSDB. Não venham agora dizer que vão unir o Brasil — declarou.
Alvaro Dias criticou o PT por propor reduzir impostos e, durante o governo, ter ficado "ao lado dos banqueiros".
O quarto, e último, bloco foi marcado pelas considerações finais dos candidatos, que tiveram um minuto para se dirigir diretamente ao espectador.
Geraldo Alckmin ressaltou o objetivo de pacificar o Brasil, melhorar o emprego e disse que as mulheres terão um papel predominante nesse "novo país".
Fernando Haddad relembrou os 20 milhões de empregos criados no período de Lula no poder e disse que vislumbra imagens da população "com a carteira assinada e com livro na mão, não com armas".
Alvaro Dias salientou o desejo da refundação da república para iniciar um novo tempo de austeridade, responsabilidade pública e ética na administração do país.
Ciro Gomes pediu uma oportunidade para reconciliar o país e disse que a polarização só fará com que a crise continue e se aprofunde.
Guilherme Boulos pediu que os eleitores depositem seus sonhos nas urnas e afirmou que o primeiro turno é o momento de se votar em quem se acredita, "na mudança que efetivamente tem visão nova para o Brasil".
Marina Silva disse que uma casa dividida não tem como subsistir e afirmou estar pronta para unir o Brasil.
Cabo Daciolo utilizou suas considerações finais para realizar agradecimentos, entre eles a Deus e à sua vice, Suelene Balduino Nascimento, disse que acredita em "sinais" e destacou que faltam sete dias para o primeiro turno.
Henrique Meirelles afirmou em sua derradeira manifestação que sua briga será por emprego, crescimento, renda e dignidade ao povo brasileiro.