Às vésperas de uma das eleições mais dramáticas da História, com o país dividido e os ânimos acirrados, anormalidades não podem ser tratadas com naturalidade. A democracia exige compostura dos protagonistas da eleição, sejam candidatos, juízes ou cabos eleitorais.
Cinco fatos dos últimos dias exigem explicação, retratação ou punição, para que não se cristalize a ideia de que o Brasil virou terra de ninguém e que as leis são para inglês ver. A eles:
1. Líder nas pesquisas de intenção de voto Jair Bolsonaro disse em entrevista a José Luiz Datena, da Band TV, que não aceita outro resultado que não seja sua vitória. A declaração é mais uma da série em que o candidato coloca em dúvida a credibilidade da urna eletrônica, apesar de ter sido eleito por esse sistema nos últimos 22 anos.
Quem concorre pode ganhar ou perder. A ideia de virar a mesa em caso de derrota, atribuindo a culpa ao sistema de votação, é infantil e antidemocrática. No fim de semana, questionado pelo jornal O Globo, Bolsonaro reconheceu que nada pode fazer se perder a eleição, mas seus simpatizantes seguem na mesma toada. A Justiça Eleitoral não pode permitir é que um candidato incite seus eleitores a desqualificarem o sistema que vigora desde 1996, sem qualquer caso comprovado de irregularidade.
2. Em diferentes cidades, circulam panfletos em forma de “cola”, com o nome do ex-presidente Lula como candidato ao lado de Fernando Haddad. Petistas dizem que o material foi impresso antes de a Justiça negar o registro a Lula, mas não fazem nenhum esforço visível para recolher os papeis.
3. Condenado por uma série de crimes, mas em liberdade por decisão judicial, José Dirceu disse ao site El País uma frase de sentido dúbio: “E dentro do país é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”. Dirceu não foi questionado sobre o que queria dizer com isso, mas Haddad deveria ter vindo a público para esclarecer que o ex-ministro não fala pelo PT.
4. Na sexta-feira, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, autorizou o ex-presidente Lula a dar uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. No dia seguinte, seu colega Luiz Fux revogou a decisão e impôs censura prévia para que nenhuma eventual entrevista já concedida por Lula seja publicada até análise definitiva do tema. Se o STF passa ao país a ideia de confusão, é o Poder Judiciário que fica vulnerável aos olhos dos brasileiros.
5. Por fim, descobriu-se que o juiz Eduardo Luiz Rocha Cubas, do Juizado Especial Federal Cível de Formosa (GO), pretendia conceder uma liminar em ação popular que questiona a segurança e a credibilidade das urnas eletrônicas. O juiz pretendia determinar o recolhimento de urnas, atropelando os ritos legais. O corregedor do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Humberto Martins, afastou o magistrado, mas ficou no ar a certeza de que há inimigos na trincheira do Judiciário.