Com o desafio de frear o avanço do antipetismo, conter o crescimento vertiginoso de Jair Bolsonaro (PSL) e convencer o eleitorado a dar uma nova chance ao Partido dos Trabalhadores, Fernando Haddad (PT) foi alçado, neste domingo (7), ao segundo turno da eleição presidencial mais virulenta dos últimos anos no Brasil — e mais difícil da história recente do PT. Com 96% das urnas apuradas, o candidato do PT obteve 28,50% dos votos válidos contra 46,62% do rival.
Em pronunciamento no Hotel Pestana, em São Paulo, onde acompanhou a apuração dos votos, o candidato à Presidência da República deu o tom da campanha daqui para frente, que incluirá a busca de apoio entre concorrentes e antigos rivais. Nos bastidores, nem mesmo o PSDB de Geraldo Alckmin e Fernando Henrique Cardoso está descartado.
O clima no QG petista era de confiança no fim da noite, embora, ao longo do dia, a tensão tenha sido o sentimento predominante. A cada atualização na contagem da Justiça Eleitoral, aliados gritavam, batiam palmas e repetiam, eufóricos: “Eu tô com ele, eu tô com ela, eu tô com Lula, Haddad e Manuela” — a candidata a vice, Manuela D’Ávila (PCdoB), também marcou presença no local. Mas, do lado de fora, a militância não demonstrou a mesma força de outrora. Na maior parte do dia, sob chuva fina, o local esteve vazio, sem sinais de bandeiras vermelhas.
Nada disso parece ter abalado Haddad. Convencido de que é capaz de derrotar o ex-militar nos próximos 20 dias se conseguir unir outros partidos em torno de si, ele já havia dito, pela manhã, que procuraria Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Henrique Meirelles (MDB) nos próximos dias. A tarefa de costurar alianças será dividida com o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner.
— Marina, Ciro e Boulos já mantiveram contato conosco. Tenho muito respeito por todos e, sobretudo, por aqueles que trabalharam comigo. O Boulos é uma grande e boa novidade no país. Espero que possamos manter as pontes do diálogo aberto, porque o Brasil merece que nós nos entendamos — destacou o candidato.
Em seu discurso, Haddad também procurou se descolar da imagem de “extremista”, pregando diálogo e tolerância. Não deixou transparecer medo de fracassar diante da tarefa hercúlea. A ordem, de hoje em diante, é apresentá-lo como a antítese de Bolsonaro — e a única alternativa capaz de preservar a democracia e o legado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
— Me sinto extremamente honrado pelos votos que recebi e que garantem o Partido dos Trabalhadores no segundo turno. Me sinto também desafiado pelos resultados, que são bastante expressivos. A oportunidade do segundo turno é, particularmente em 2018, inestimável — disse o petista.
Haddad afirmou ainda que quer “unir os democratas do Brasil”:
— Esta é uma eleição incomum, diferente do que aconteceu de 1989 (primeira eleição direta para a presidência na redemocratização) para cá. É muito diferente de todas as que nós já participamos. Coloca muita coisa em jogo, em risco. Eu diria que o pacto da Constituinte de 88 está em risco. Queremos enfrentar esse debate muito respeitosamente. E vamos com uma única arma: o argumento. Nós não portamos armas. Vamos com a força do argumento para defender o Brasil e o seu povo.