Integrante da executiva nacional do PT e da coordenação da campanha de Fernando Haddad (PT) à Presidência da República, o deputado federal reeleito Paulo Teixeira, de São Paulo, faz um balanço da disputa eleitoral e antecipa o papel da sigla daqui para frente – que, na avaliação dele, precisa se reconectar com as bases, fazer oposição cerrada a Jair Bolsonaro (PSL) e reassumir a dianteira na construção da frente em defesa da democracia, fracassada no segundo turno.
Advogado e mestre em Direito pela USP, Teixeira sustenta que a investigação sobre o suposto uso irregular do WhatsApp no disparo em massa de mensagens contra Haddad não pode parar. Ele reconhece erros do PT na condução da campanha e volta a defender a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – preso desde abril em Curitiba. A seguir, leia os principais trechos da entrevista:
Que balanço o senhor faz da campanha?
Essa campanha tem de ser vista em sua totalidade. Destaco três pontos. O primeiro deles foi a mídia que o candidato vencedor recebeu por meio de uma possível fraude. A denúncia da Folha de S.Paulo de que houve caixa 2 no disparo de mensagens em massa pelo WhatsApp, com notícias falsas contra Haddad, se caracteriza em fraude eleitoral. O candidato se beneficiou de financiamento empresarial. O resultado da eleição não pode interromper a investigação sobre esse fato.
E os outros dois pontos?
Em segundo lugar, acredito que houve uma campanha de rede assessorada pelo norte-americano que auxiliou Trump (Donald Trump, presidente dos Estados Unidos). Foi uma campanha atípica, com influência estrangeira. Quem pagou pelo serviço? Isso precisa ser respondido. E, por fim, acho que não demos a ênfase necessária e demoramos a colar o governo de Michel Temer a Jair Bolsonaro. Também demoramos a iniciar a construção da frente democrática. E não acho que esse movimento deu a resposta esperada. A frente não foi o que poderia ter sido.
Mesmo sem a adesão de Ciro Gomes (PDT), a consolidação da frente teria sido possível?
Sim, mesmo sem Ciro. O PSB, por exemplo, poderia ter aparecido mais.
Havia uma expectativa de virada na reta final. O que houve?
É isso. Faltou mexer lá embaixo, nas classes D e E. Se nós tivéssemos associado com mais força a candidatura de Bolsonaro ao governo Temer, com todos os seus retrocessos e a retirada de direitos da população, isso iria mexer com a classe trabalhadora. Também faltou um esforço maior em dar visibilidade e amplitude à frente democrática.
Muito se fala na dificuldade do PT de fazer autocrítica. Até que ponto isso influenciou no resultado? É um imperativo daqui para frente?
Talvez nós devêssemos ter dialogado mais com esse desejo. Quando Mano Brown (rapper e compositor) fez críticas ao partido (em um comício no Rio de Janeiro, ele declarou apoio a Haddad, mas disse que o PT precisava falar a “língua do povo”), deveríamos ter admitido ali mesmo. Ele tem razão. O PT tem de voltar para as bases. Outra coisa: nós erramos com o tema do caixa 2. Se tivéssemos reconhecido que erramos, as críticas ao caixa 2 de Bolsonaro, que repetiu o mesmo erro das eleições passadas, teriam maior peso.
Como será a atuação do PT na oposição?
Temos de formar uma frente democrática contra Bolsonaro, suprapartidária e que inclua artistas, pessoas de fora dos partidos políticos, gente que se preocupa com o futuro do país.
Ciro Gomes (PDT) já indicou que pretende liderar a oposição. Como ficaria isso nessa frente democrática?
Agora Ciro vai ter de estar junto. O que está em jogo é a democracia brasileira.
O líder do PT é Lula. Haddad é uma pessoa que teve um papel muito importante nesse momento, mas Lula continua sendo o líder do partido.
PAULO TEIXEIRA
Integrante da coordenação da campanha de Haddad
Mas ele quer liderar esse movimento. O PT aceitaria?
Liderar já é demais. Uma frente não pode ser hegemonizada. Tem de ser horizontal, não vertical, com PT, PCdoB, PSB, PDT, todos juntos.
Haverá um “terceiro turno” no Congresso?
Haverá uma oposição. O que acho que vai acontecer é uma reação à fraude eleitoral à qual me referi antes.
O fato de Haddad não ter ligado para Bolsonaro após a vitória é um indicativo de que a relação será mais tensa do que de costume?
O que Bolsonaro falou no domingo retrasado (no dia 21 de outubro, o então candidato disse que os “marginais vermelhos” seriam “banidos” do país) não tem nada de civilizado. Querem cobrar civilidade com quem não tem.
Qual será o papel de Haddad daqui para frente? Será um novo líder do PT?
O líder do PT é Lula. Haddad é uma pessoa que teve um papel muito importante nesse momento, mas Lula continua sendo o líder do partido. E tem de ser solto. Se vinha sendo mantido preso por causa da eleição, agora já não existe mais esse impedimento.
O senhor acredita que ele será solto no governo de Bolsonaro?
Não é Bolsonaro quem decide isso.
Não estaria na hora de uma nova liderança ter espaço no partido?
Não é por decreto que se decide isso. Lula foi muito importante para esse resultado. Sem ele, Haddad não teria chegado ao segundo turno.