A 58 horas da abertura das urnas, Eduardo Leite (PSDB) e José Ivo Sartori (MDB) fizeram na noite desta quinta-feira (25) o debate mais contundente de toda a eleição. Em quatro blocos de confronto direto na RBS TV, os dois postulantes ao governo do Estado trocaram palavras ríspidas, a ponto de fazerem um pedido mútuo de desculpas ao final do programa.
Em desvantagem nas pesquisas, Sartori passou quase todo o debate acusando o adversário de incoerência. Logo na primeira pergunta, investiu contra o tucano.
— Vamos falar sobre coerência e verdade. Você prometeu muito, e muitas vezes mudou de ideia durante a campanha. Mas não respondeu a uma questão central: de onde vai tirar o dinheiro para cumprir todas as promessas?
Leite não se intimidou. Repetindo que sabia governar na dificuldade, citou medidas como a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal da União, o combate à sonegação e a revisão dos benefícios fiscais. Ao lembrar que Sartori havia vendido ações do Banrisul, revidou:
— O senhor queimou o futuro do Rio Grande do Sul.
O ambiente no estúdio refletia o comportamento da militância do lado de fora da emissora. Pouco antes de os candidatos chegarem para o debate, simpatizantes de ambos os lados disputaram espaço na esquina dos estúdios da RBS TV. Monitorados de perto pela Brigada Militar, trocavam provocações enquanto agitavam bandeiras e gritavam palavras de ordem.
No estúdio, o clima seguia quente, a ponto de os dois candidatos solicitarem uma redução na temperatura do ar-condicionado. Ao discorrer sobre concessões de rodovias, o governador subiu o tom dos ataques:
— Falar é fácil, o difícil é fazer. E quem quis ser ligeiro nessa área, inclusive um governador do seu partido, foi preso.
— Não venha colocar pra mim o que não está no meu colo. Se é para falar de partido, vamos falar do seu, o MDB, com tantos escândalos, inclusive com o presidente da República —retrucou Leite.
Embora o debate fosse a oportunidade derradeira para que os candidatos esgrimissem suas propostas diante dos telespectadores, Leite e Sartori seguiam na tática do confronto. Tentando surfar na onda do antipetismo revelada pelas urnas no primeiro turno, trocavam acusações de vinculação a aliados do PT e de oportunismo eleitoral. Ao tratarem sobre segurança, o tema voltou à tona, com alusões ao vice do tucano, o delegado Ranolfo Vieira Júnior. Instalado numa sala ao lado do estúdio com os demais assessores, Ranolfo gargalhou com as citações ao seu nome.
— O seu candidato a vice foi chefe de polícia de Tarso, fez campanha para Dilma e Lula. Vai adotar o modelo de segurança que foi desenvolvido pelos modelos do PT no Rio Grande do Sul? — provocou Sartori.
— Tenho ao meu lado um delegado da Polícia Civil. Ao contrário do que diz o meu adversário, nunca foi do PT. É do PTB. E chefe de polícia é uma carreira de Estado — rebatia Leite.
Não havia assunto sem que a conversa não terminasse em provocações. Quando o mediador, o jornalista Elói Zorzetto, sorteou como tema a infraestrutura do Estado, Leite comentou sobre atraso nos investimentos da duplicação da RS-118, mas concluiu o raciocínio resgatando uma manifestação na qual Sartori dissera que atendia a uma convocação partidária ao concorrer à reeleição.
— Afinal o senhor quer ser governador ou não quer?
— Nós recebemos uma missão e vamos cumprir. O senhor fala em São Paulo, no Paraná, em Santa Catarina. Se eu quisesse puxar a brasa para o meu assado, diria que foram Estados que reelegeram governadores — devolveu o emedebista.
Em um Estado com previsão de déficit de R$ 4 bilhões para 2018 e há 34 meses atrasa salários do funcionalismo, os dois candidatos falavam sobre desenvolvimento econômico, mas não detalhavam medidas capazes de estancar a crise financeira. Apontadas como alternativas por ambos os lados, a privatizações de estatais e a manutenção das alíquotas majoradas do ICMS foram citadas de forma superficial e quase sempre como se as posições fossem antagônicas, dado o tom beligerante das manifestações.
— Parole, parole, parole. Não diz de onde vai tirar o dinheiro – repetia Sartori.
— O candidato gosta muito de falar parole, parole, Mas na verdade é o candidato do desculpa, desculpa, demora, demora, parcela, parcela – retrucou Leite.