Um Congresso à direita, fragmentado e com tradicionais siglas desidratadas são o cenário à espera do novo presidente da República a partir do início de 2019. O recado das urnas foi dado: os eleitores cansaram dos grandes partidos. PT, MDB e PSDB, as legendas mais fortes no Parlamento eleito pela população em 2014, viram suas bancadas reduzirem, enquanto o PSL, puxado pela popularidade do presidenciável Jair Bolsonaro, pulou de nanico para a segunda bancada mais forte na Câmara.
O PT segue como o partido com mais cadeiras na Câmara, mas perdeu força: viu sua bancada cair em 17,6%, passando de 68 deputados na eleição de 2014 para 56 neste pleito. No Senado, reduziu de 13 para seis cadeiras. O melhor desempenho foi, como esperado, no Nordeste, responsável por eleger 21 deputados federais petistas, seguido do Sudeste, onde o PT levou 18 nomes.
Agora, o segundo partido mais forte na Câmara é o PSL, que viveu neste domingo um dia de glória: viu sua bancada na Casa crescer de um deputado para 53. No Senado, não tinha nenhuma cadeira – agora, terá quatro. O Sudeste foi a região que mais elegeu parlamentares da sigla: 29, seguido pelo Sul, com 10. O Rio Grande do Sul contribuiu com três cadeiras ao eleger Bibo Nunes, Sanderson Federal e Nereu Crispim.
O MDB deixa a posição de segundo partido com mais nomes na Câmara e passa para o quinto lugar, despencando de 65 deputados para 34, redução de 47,7%. No Senado, passou de 19 nomes para 12.
O PSDB, que era o terceiro partido mais forte na Câmara conforme o resultado das urnas em 2014, agora é o décimo: se no último pleito elegeu 54 deputados federais, agora só conseguiu 29, uma redução de 46%. No Senado, passou de 10 parlamentares para oito.
O Novo, criado em 2015, terá oito cadeiras na Câmara. A bancada feminina também ganhou força, passando de 51 deputadas para 77, cerca de 15% de todas as cadeiras. O Rio Grande do Sul contribuiu com três, ao eleger Fernanda Melchionna (PSOL), Maria do Rosário (PT) e Liziane Bayer (PSB).
— O PT em 2016 já havia eleito menos prefeitos e vereadores, então até que não se saiu tão mal. Mas o MDB e o PSDB foram os grandes responsabilizados pela frustração da população — avalia Augusto Oliveira, cientista político e professor da PUCRS. — Nos primeiros cem dias, Bolsonaro teria mais facilidade para aprovar sua agenda do que Haddad, já que elegeu uma bancada razoável. Mas tanto um quanto outro devem ter dificuldade em governar no presidencialismo de coalizão — acrescenta.
Congresso mais pulverizado dificulta a vida do presidente
Caso seja eleito, Bolsonaro pode ter uma Câmara mais favorável do que seu adversário, Fernando Haddad (PT). O berço mais amigável ao militar da reserva se explica pela maior força do PSL neste Congresso e pelos acenos favoráveis do Centrão, grupo de partidos sem ideologia definida que apoia o presidente conforme negociações.
Além disso, a Frente Parlamentar Agropecuária, composta por 261 deputados federais e senadores, já declarou apoio a Bolsonaro. O presidenciável também tem simpatia da bancada da Bíblia - cerca de 40% dos evangélicos neopentecostais manifestaram intenção em votar nele. A Frente Parlamentar Evangélica, envolvendo Câmara e Senado, tem 199 nomes.
Mas surge um problema. Com o vácuo de poder das grandes siglas , outras legendas ganharam espaço no Congresso. Na Câmara, em vez de 29 siglas, há 34. No Senado, o número subiu de 16 para 21. Não há um grande partido para negociar: PT e PSL, por exemplo, detém cada um cerca de 11% das cadeiras – em outros países, há partidos que detêm metade de todos os nomes do Parlamento.
Essa capilaridade deve dificultar o trabalho do novo presidente. Até agora, o presidencialismo nacional se baseia em negociar com partidos. Mas como dar conta de agradar a tantas siglas no típico toma-lá-da-cá de cargos em estatais e ministérios?
— É preciso identificar se Bolsonaro de fato receberá apoio dessas bancadas. Se sim, há uma questão: é muito mais difícil negociar com bancadas do que com partidos. A bancada evangélica tem demandas diferentes da bancada "da bala" e "da Bíblia". Como agradar a apenas metade de uma sigla que faz parte de uma bancada e à outra metade que não faz parte, não? Isso pode até gerar uma debandada de parlamentares insatisfeitos em direção ao PSL — reflete o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) Eduardo Grin.
Ao mesmo tempo, o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) opina que Bolsonaro pode enfrentar obstáculos no Senado. Se na Câmara o PSL representa 10,14% de todos os deputados federais, no Congresso a representatividade da sigla cai para 4,94%. Aqui, o PSL é o nono partido mais forte.