O prefeito de Bagé, Divaldo Lara (PTB), entregou um relho, na quarta-feira (26), ao candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), o general Antônio Hamilton Mourão (PRTB), durante visita ao município da Campanha. O gesto ganhou repercussão porque, em março, durante protestos à caravana de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ruralistas e petistas entraram em confronto na cidade, e o rebenque foi usado contra os apoiadores do ex-presidente, preso em Curitiba desde abril.
Na tarde desta quinta-feira (27), Lara aceitou responder a perguntas de GaúchaZH sobre o evento com Mourão, mas somente por escrito. Na avaliação do prefeito, que faz críticas ao PT, sua atitude não incita violência ou ódio. Lara afirma buscar a paz e diz que "a recepção e o presente foram gestos que caracterizam Bagé".
Abaixo, confira a entrevista com o prefeito, que ainda entregou a Mourão uma foto de um ginete durante os protestos à caravana de Lula.
Por que o senhor resolveu participar do evento em Bagé com o general Mourão?
O general Mourão tem uma ligação afetiva muito forte com Bagé. Sua mãe, Vanda Mourão, é bageense. Seu pai foi comandante de Brigada (Militar) no município e ele próprio serviu aqui. Mas, acima de tudo, somos do mesmo campo político e não queremos a volta do PT no comando do Brasil, não queremos que um país seja governado de dentro de um presídio, não queremos nos tornar um povo miserável como o que se transformou o povo da Venezuela.
Como surgiu a ideia de entregar um rebenque e um quadro com uma fotografia de um ginete ao candidato?
O nome original, fronteiriço, do presente é mango, peça de nosso artesanato campeiro. Faz parte dos utensílios do gaúcho, assim como a cuia, o laço e a pilcha que faz parte da indumentária. O ginete na fotografia é parte de nossa tradição e retrata o momento de defesa da justiça, ainda este ano aqui em Bagé, mostrando que defendemos a bandeira brasileira verde e amarela e não a bandeira vermelha.
O que simboliza, na avaliação do senhor, a entrega do rebenque e do quadro para o candidato a vice-presidente?
Em primeiro lugar, são dois símbolos marcantes do povo riograndense e sua cultura. Simboliza que somos fortes, arraigados em nossa tradição. Tradição que o general conhece muito bem. Com esse gesto no Parque do Sindicato e Associação Rural, representamos instituições, associações e sindicatos, simbolizando a vontade da maioria, de Bagé e da Região da Campanha, que clamam por um novo Brasil, de oportunidades e de respeito à família, ao empreendedor e a todos que trabalham pelo bem do país.
O país vive, nos últimos anos, ambiente político marcado pela polarização. Na avaliação do senhor, a entrega do rebenque ao candidato pode significar que os adversários devem ser tratados a relho e não com o debate de ideias?
Não. Não se trata de apologia à violência. Pelo contrário, buscamos a paz, a ordem e o progresso. Ninguém mais do que nós, que respeitamos as instituições e a Justiça, defende o debate de ideias na busca da paz. Não foi o nosso campo político que semeou no Brasil a luta "do nós contra eles", do pobre contra o rico. O PT esteve por 16 anos governando Bagé, um tempo marcado por dívidas imensas, obras inacabadas e escândalos na gestão do município. Nós não queremos a violência, queremos um futuro de paz. Para isso é preciso dizer em alto e bom som que o PT não pode voltar ao poder.
Esse gesto pode incitar ainda mais a violência no país ou não? Por quê?
Não. Não se trata de incitar o ódio ou a violência. Pelo contrário. O Rio Grande do Sul é um celeiro de políticos idealistas que ao longo da história propuseram soluções para o Brasil com ideias de pacificação. Sempre buscamos a justiça, desde antes da Revolução Farroupilha. Em sua história o gaúcho só partiu para a luta armada como último refúgio para defender suas ideias contra as injustiças que sofreu. Por favor, não tentem encontrar nesse gesto o que não existe. A recepção e o presente ao general Mourão foram gestos que caracterizam Bagé, a hospitalidade, a gentileza e o carinho que ele nos merece. E nada melhor do que simbologias de nossa cultura.