Novata na política, a corretora de imóveis Ana Varela (Podemos) vive dias de euforia. Casada com o deputado federal Cajar Nardes (Podemos), a candidata ao Senado conta que não teve como negar o convite feito pelo senador e candidato à Presidência Alvaro Dias (Podemos). Foi chamada a concorrer na convenção do partido, em 5 de agosto. Aceitou o desafio "com brilho nos olhos", diz.
Desde então, tem estudado temas em pauta no país — muitos deles novos para ela — e rodado o Interior para se apresentar. Ana nasceu no Pará e mora no Rio Grande do Sul há oito anos com seus dois filhos. Afirma que quer ser senadora para banir a corrupção e promete votar conforme o desejo dos eleitores, que poderão opinar por meio de um aplicativo para celular desenvolvido pelo partido.
— Não tive como dizer não ao convite, porque a gestão é materna. A mulher nasce com essa missão. Conheço as dificuldades do povo, sei onde o calo aperta. E o povo está cansado. Sou uma cara nova, uma cidadã comum. Acho que o Brasil está precisando disso — relata.
Ana é a quinta entrevistada da série sobre o que pensam os postulantes ao Senado a respeito de assuntos relevantes.
As entrevistas seguem a ordem da preferência de votos revelada da pesquisa Ibope divulgada no dia 17 de agosto.
Qual é a sua posição sobre a revisão do foro privilegiado?
A revisão tem de acontecer e vou lutar pela revisão do foro. Essa, inclusive, é uma proposta do senador Alvaro Dias, que foi quem me indicou para concorrer a senadora. E vamos falar como mulher? É necessário que a gente limpe a casa. Estamos em um mar de corrupção. Infelizmente, isso está no DNA do brasileiro e precisa mudar. Se a gente não começar, nada vai acontecer. Essa proposta não foi votada neste ano porque traria consequências para quem precisa se reeleger porque precisa do foro. A gente sabe disso.
É a favor ou contra a reforma da Previdência? Qual deve ser o eixo da mudança?
A reforma tem de acontecer. A gente não vai ter como fugir disso. Mas acredito que a mudança tenha de ser feita em três partes, começando pelos militares e pelo funcionalismo público e, por último, pela classe menos favorecida, que não tem de pagar a conta. Vou lutar por isso, para que seja dessa forma. Essa vai ser a primeira pauta que a gente vai ter de resolver, porque a dívida é muito grande.
Sobre a reforma tributária, qual é a sua posição? Qual seria o modelo ideal?
Tem de mudar. Hoje quem paga a conta é a classe média e a classe menos favorecida. Tem de ser simplificado, mas tem de ser muito bem avaliado, para não trocar seis por meia dúzia. No fim, é o que vão tentar fazer: juntar todos os impostos em um só para virar seis por meia dúzia. Não pode ser assim. Outra coisa: a gente tem de fazer com que os municípios recebam uma fatia maior dos recursos, porque, se não, quem paga o preço somos nós. Se fica tudo com a União, a corrupção toma conta.
O Estado deve aderir ao regime de recuperação fiscal da União?
Acho que sim, porque não tem mais de onde tirar dinheiro. O poço secou. Então, tem de renegociar e ir levando em frente, até para a gente conseguir ter segurança pública de qualidade e professores valorizados.
É favorável à criação de novos municípios, com a regulamentação para futuras emancipações?
No momento, não é bom negócio. A gente já tem muita conta para pagar, e isso gera custos, porque a gente vai ter de pagar prefeitos, vereadores, botar hospital, posto de saúde. O Brasil não tem dinheiro para isso. Tem uma dívida externa enorme e uma dívida interna explodindo. No futuro, acho que temos de municipalizar alguns lugares, mas isso tem de ser visto com muita cautela.
O que pensa sobre o projeto Escola sem Partido? Votará a favor ou contra?
Acho muito legal e votaria a favor. Penso que tem de existir uma matéria sobre política, mas que não seja algo direcionado, partidarizado. O jovem tem de saber o que é a política e como funciona a máquina pública e tem de saber, também, que ele pode, no futuro, fazer algo pelo país. Antigamente, tínhamos a disciplina de moral e cívica. Seria bom se tivesse uma cadeira desse tipo de novo, para estimular os jovens lutarem pelo nosso país.
Qual a sua posição sobre a política de cotas nas universidades públicas?
Sou totalmente a favor do regime de cotas. Por incrível que pareça, sofri muito preconceito por ser branca no meio de índios, no Pará, onde nasci. Tenho certeza de que tem de existir cotas, porque o preconceito é muito forte no Brasil. O índio e o negro não têm acesso à educação de forma igualitária. E todos têm direitos. Sou a favor das cotas exatamente para que elas acabem um dia, para que a gente viva num país onde todo mundo seja igual.
A Constituição diz que segurança pública é responsabilidade dos Estados. Mudaria esse preceito?
Já existe uma discussão sobre isso, envolvendo o Susp (Sistema Único de Segurança Público), mas isso tem de ser muito bem elaborado e fiscalizado para que não tenhamos problemas como temos no SUS, que é um programa fantástico no papel e está corroído pela corrupção. O meu medo em relação ao Susp é exatamente esse. A corrupção hoje é o câncer do país. Aí, o que era para ser solução vira outro problema.
É a favor ou contra a privatização de estatais? Quais poderiam ser vendidas e quais são estratégicas para o país?
Sou contra privatizações e a favor de mais transparência na fiscalização da sociedade e de mais controle e auditoria externa. O grande problema é que a corrupção tomou conta das empresas públicas, e isso precisa mudar. Vou lutar por isso, mas também quero ouvir meus eleitores. Quero dar autoridade para os eleitores. O Podemos criou um aplicativo de celular para que o povo ajude a gente nas votações de temas importantes. Se for eleita, quero que eles me ajudem a decidir. Vou pedir para que votem no aplicativo e vou me basear nisso para votar no Senado.
Qual sua opinião sobre a descriminalização das drogas e do aborto?
A droga é um câncer da sociedade, para o qual todo mundo faz vista grossa. É um problema que só cresce e que atinge muito os jovens. Isso tem de ser combatido. Não devemos liberar as drogas. Como mãe, isso me preocupa muito. Quanto ao aborto, também sou contra. Se foi um estupro e a mulher não quer, acho que tudo bem. Agora, se foi uma irresponsabilidade, não sou a favor. É a vida. Existem vários métodos contraceptivos e vou lutar para que sejam oferecidos às mulheres, como nos Estados Unidos.