Aos 55 anos, depois de ter disputado a Vice-Presidência da República em 2014, ao lado de Marina Silva (Rede), Beto Albuquerque (PSB) volta à cena em busca de uma vaga ao Senado. Com mais de duas décadas dedicadas à política, promete representar o Estado independentemente de governos e partidos.
Ex-secretário estadual de Transportes e de Infraestrutura, com oito anos de experiência na Assembleia Legislativa e 16 anos na Câmara, o advogado nascido em Passo Fundo é um homem de muitas bandeiras – do trânsito seguro à doação de medula óssea. E assim pretende continuar:
— Não serei um senador monotemático. O que quero é representar o Estado em todas as frentes porque entendo que está faltando força de representação aos gaúchos. Vou lutar para que as obras iniciadas no Rio Grande do Sul sejam concluídas e quero ser um senador amigo da vida, liderando um esforço nacional para zerar as filas do SUS, incentivando transplantes, buscando recursos para a saúde.
Beto é o terceiro entrevistado da série de GaúchaZH sobre o que pensam os postulantes ao Senado a respeito de temas relevantes em pauta no Estado e no país. As entrevistas seguem a ordem da pesquisa Ibope divulgada na última sexta-feira.
Qual é a sua posição sobre a revisão do foro privilegiado?
Sou a favor de extinguir o foro privilegiado para todos. Talvez possa se avaliar apenas o caso dos presidentes dos três Poderes, mas acredito que o foro tem sido aliado da impunidade, da demora nas decisões. Não há por que ter foro, especialmente sobre o que não tem nada a ver com a atividade do parlamentar.
O senhor é a favor ou contra a reforma da Previdência? Qual deve ser o eixo da mudança?
Estamos envelhecendo mais rapidamente e com maior longevidade. É preciso fazer ajustes na Previdência, mas temos de criar uma equação que equilibre a balança e não gere injustiças. Não é possível que a conta pese sobre quem ganha menos e deixe de fora quem ganha muito. A reforma tem de ser para todos. O maior rombo está no setor público e há redutos do setor público que têm ficado fora. Isso precisa ser debatido. É preciso ter cálculo atuarial e pensar em um sistema que sirva para municípios, Estados e União.
E sobre a reforma tributária, qual é a sua posição? Qual seria o modelo ideal?
A reforma é necessária. Temos uma carga tributária muito grande e precisamos simplificar o sistema e também os impostos. Mas não temos como reduzir essa carga de uma hora para outra. Temos de escolher caminhos que permitam uma transição. Defendo que, depois da eleição, seja debatida a possibilidade de se criar uma Constituinte exclusiva não congressual para levar a discussão adiante, porque não consigo ver no Congresso a independência necessária para fazer reformas estruturantes.
O Estado deve aderir ao regime de recuperação fiscal da União?
Não é o ideal, mas é necessário. Precisamos parar de pagar a dívida, mesmo que isso gere estoque a pagar mais para frente. Agora, essa economia não pode ser gasta em folha de pagamento. É uma economia para fazer o ajuste fiscal e para buscar a estabilidade fiscal do Estado.
É favorável à criação de novos municípios, com a regulamentação para futuras emancipações?
Não sou contra, mas acho que não é prioridade. Já apoiei emancipações, quando era deputado estadual. Agora, acho que já temos um número significativo de municípios. Para novas emancipações, as regras deveriam ser mais rígidas e rigorosas, porque vivemos um momento de escassez, bem diferente de 30 anos atrás. Do contrário, é mais um ente que se cria para ser sustentado pelos outros.
O que pensa sobre o projeto Escola sem Partido? Votará a favor ou contra?
Sou contra qualquer tipo de mordaça, à direita ou à esquerda. Acho que lutamos muito para ter democracia no Brasil, portanto a liberdade de opinião tem de ser preservada. Essa é uma lei daqueles que não veem que seus filhos estão na internet diariamente. Para eles, a escola falar sobre sexualidade é pecado, mas eles não se dão conta de que a criança já está vendo e lendo o que não deve no tablet do pai. A escola não deve ser de direita nem de esquerda, mas tolher a opinião é retrocesso.
Qual a sua posição sobre a política de cotas nas universidades públicas?
Sou favorável às cotas. Sei que tem gente que reclama, mas os negros têm um histórico de exclusão muito grande. Não adianta o Brasil querer negar o óbvio.
As cotas de negros, índios e outras miscigenações cumprem uma tarefa de resgate histórico. Se pudessem ser ampliadas, com caráter social e de renda, seria muito importante, porque também temos muitos brancos pobres.
A Constituição diz que segurança pública é responsabilidade dos Estados. O senhor mudaria esse preceito?
Claro. Essa é uma atribuição que a União não quer ter, mas deve ter. A União é omissa sobre a realidade da segurança pública. Agregaria aí a federalização do sistema prisional. Os Estados não têm mais condições de construir e manter presídios. Outra coisa importante: as armas e drogas entram pelas fronteiras, então é urgente pensar em uma força nacional de fronteiras.
O senhor é a favor da privatização de estatais? Quais poderiam ser vendidas e quais são estratégicas para o país?
Não tenho dogmas em relação a isso. Tudo que é público tem de funcionar e dar resultado. A população não tem de pagar a conta por estatais que não funcionam. Se as coisas vão mal ou se o Estado se vê incapaz de fazer investimentos, a privatização pode ser um caminho. Sou defensor de que o Brasil comece a adotar mais referendos e plebiscitos sobre essas grandes questões. O Estado também tem de consultar a população para as coisas que o parlamento não tem coragem de decidir sozinho.
Qual sua opinião sobre a descriminalização das drogas e do aborto? Por quê?
Vejo a descriminalização das drogas com reservas e gostaria de ter um case de sucesso que não abrisse as portas para todo tipo de drogadição. A maconha é uma coisa, mas junto dela vêm coisas piores. Antes de avançar nisso, temos de acompanhar a experiência do Uruguai. Quanto ao aborto, sou a favor de descriminalizar, porque não posso chamar de criminosa a mulher que, com todas as consequências de uma sociedade machista e violenta, depara com uma situação dessas. Não se pode fechar a porta do hospital para a mulher que abortou. Ninguém é a favor do aborto, nem a mulher que aborta.