Uma competição interna tensiona os maiores partidos do Estado. Antes de disputarem a preferência dos eleitores, os candidatos estão brigando por acesso ao fundo bilionário que irá financiar as campanhas eleitorais. Com a proibição de doações de empresas privadas, as legendas decidiram priorizar a reeleição de deputados federais, revoltando principalmente quem irá concorrer a uma vaga na Assembleia Legislativa.
A primazia a quem já detém mandato na Câmara dos Deputados obedece ao pragmatismo. Como a distribuição das verbas dos fundos partidário (R$ 888,7 milhões) e eleitoral (R$ 1,7 bilhão) e do tempo de TV, leva em consideração o tamanho das bancadas federais — os partidos querem pelo menos manter a atual configuração, sem riscos de perda de dinheiro e de exposição gratuita na mídia, os principais ativos nas negociações por alianças e na obtenção de apoio político.
Ao estabelecer as regras para a eleição, contudo, o Tribunal Superior Eleitoral não definiu critérios para o rateio dos recursos dentro de cada legenda. A omissão deu às direções nacionais o poder de decidir quem irá receber dinheiro e quem terá de fazer campanha por conta própria.
O favorecimento explícito aos deputados federais logo se tornou motivo de reclamações generalizadas. O MDB, que terá a maior fatia do R$ 1,7 bilhão do fundo eleitoral (R$ 234 milhões), informou que irá repassar R$ 1,5 milhão a cada parlamentar. Ao diretório gaúcho, serão destinados apenas R$ 4,8 milhões para serem empregados na campanha à reeleição do governador José Ivo Sartori, desprezando os integrantes da bancada na Assembleia.
— Estamos irritados. Vai ser muito complicado fazer campanha desse jeito — desabafa o deputado estadual Álvaro Boessio.
Na segunda-feira, Boessio cobrou ação do presidente do partido, Alceu Moreira. O dirigente tentou tranquilizar os colegas, acenando com a criação de um fundo composto por parte da verba dos deputados federais, mas não houve avanços.
— Ninguém vai ficar sem financiamento, mas os critérios são complexos. Quem tem reais chances de se eleger vai receber mais — diz Moreira.
No PSDB, a situação é semelhante. Eduardo Leite deve receber pouco menos de R$ 3 milhões para a campanha ao Piratini, e Yeda Crusius, a única deputada federal, R$ 1,5 milhão. Não há previsão de repasse aos estaduais.
— Vamos atender aos deputados estaduais com material. Dinheiro, não vai ter. Cada um terá de buscar suas formas de financiamento — avisa Leite, que acumula a candidatura com a presidência do partido.
— Isso é muito injusto. A disputa será desigual. Se existe um fundo eleitoral, deveria ser dividido de maneira igual para todo mundo — reclama o deputado estadual Pedro Pereira.
PT e PDT, que com o MDB detêm as maiores bancadas da Assembleia, ainda não definiram a repartição dos recursos. No PT, a decisão será tomada em reunião do diretório nacional, em 3 de agosto. A prioridade será a eleição presidencial e, depois, os deputados federais e os governadores que concorrem à reeleição.
— Por último, ficam os deputados estaduais. O drama é encontrar um critério que não resulte em brutal dispersão dos recursos, com um valor irrisório para todo mundo —afirma o presidente do partido, Pepe Vargas.
— Estamos preocupados, mas fazer o quê? — resigna-se o deputado estadual Luiz Fernando Mainardi.
Quem não seguiu orientação de voto terá menos recursos
Entre os pedetistas, o presidente Pompeo de Mattos tenta tranquilizar os ânimos sobre a situação do partido. Como a sigla terá de oito a 10 candidatos a governador e praticamente o mesmo número de candidatos ao Senado no país, ele adianta que não haverá dinheiro para todo mundo.
— O PDT é um partido pequeno metido a grande. Se fôssemos dividir entre todos, daria R$ 3 mil, R$ 4 mil para cada um. Vamos priorizar governador, senador e deputado federal com mandato. Os estaduais, se tiverem algo, será uma miséria — admite.
Dos maiores partidos do Estado, o PP é o único que definiu um valor para membros da Assembleia. Serão R$ 100 mil para cada um, quantia 20 vezes menor do que a destinada aos deputados federais.
O presidente da sigla, Celso Bernardi, ainda reclama do critério adotado pela direção nacional, que vai penalizar os parlamentares que não seguiram a orientação partidária. Como votou em desacordo com a cúpula da legenda pelo menos três vezes (contra a própria criação do fundo eleitoral e a favor do prosseguimento dos dois processos contra o presidente Michel Temer), o candidato a governador, Luis Carlos Heinze, teve sua verba reduzida de R$ 4,55 milhões para R$ 1,36 milhão.
— Estamos conversando com a direção para ter uma fatia maior. Temos candidato próprio, competitivo, e ele precisa ser fortalecido — justifica Bernardi.