Há um otimismo contagiante circulando pelos palácios de Brasília. Desde as articulações para o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, não se via tantos auxiliares de Michel Temer esbanjando sorrisos e autoconfiança. O motivo para tamanha euforia é a candidatura do peemedebista à reeleição.
Presidente mais impopular do período democrático, Temer tem o governo rejeitado por 70% da população e exibe índices indigentes de intenção de voto. O último levantamento do Datafolha mostra que apenas 1% dos eleitores está disposto a votar nele – no Nordeste, esse percentual não sai do zero. A desaprovação recorde assustava a base de sustentação no Congresso. Temendo prejuízos eleitorais, ninguém queria votar a reforma da Previdência e houve parlamentares apagando fotos com o presidente.
A reviravolta se deu justamente a partir de uma leitura atenta das pesquisas. Em reuniões com o cientista político e especialista em marketing Antonio Lavareda, Temer foi convencido de que havia espaço para viabilizar uma candidatura. Para tanto, seria preciso sepultar a maior aposta de seu governo até então, a reforma da Previdência, e abraçar pautas populares.
— Lavareda mostrou que a aceitação do governo é maior do que a do presidente. Isso dá margem de crescimento. Essas pesquisas também revelaram o grande apelo da segurança pública junto ao eleitor — conta um assessor palaciano.
A avaliação do consultor animou Temer, mas ainda havia o medo da reação do mercado ao abandono da reforma previdenciária, confirmada nesta sexta-feira (23) com o rebaixamento da nota de crédito soberano do Brasil pela agência internacional de risco Fitch. Apesar do receio, a cobertura massiva da imprensa ao surto de violência no Carnaval do Rio e à inoperância das autoridades locais convenceram o presidente a agir. Aconselhado pelo secretário-geral da Presidência, Moreira Franco, Temer decretou intervenção federal no Estado, colocou um general no comando das forças de segurança e viu três quartos da população fluminense apoiar a medida.
— É uma jogada de mestre, mas não é eleitoral — admitiu o presidente na sexta-feira.
Ainda no final de semana passado, Temer chamou novamente Lavareda a Brasília. Não havia planejamento para o emprego das tropas, mas ele queria discutir maneiras de faturar politicamente com a ação. Em reunião no domingo com Moreira Franco, Lavareda e o marqueteiro Elsinho Mouco, pediu novas pesquisas sobre a repercussão da medida e encomendou uma campanha publicitária. Quatro dias depois, os jornais fluminenses traziam anúncios gigantes, dizendo que "o governo que está tirando o país da pior recessão da sua história, agora vai tirar o Rio de Janeiro das mãos da violência".
— A política vive do noticiário, da criação de fatos. A Previdência não vai mais sair, mas a economia estará bombando e a segurança vai melhorar. O pessoal todo está empolgado — diz o vice-líder do governo na Câmara, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).
No horizonte vislumbrado no Planalto, Temer crescerá nas pesquisas a partir do desencanto com os candidatos de centro. A projeção tem por base que todos os postulantes desse campo político — Geraldo Alckmin (PSDB), Rodrigo Maia (DEM) e Henrique Meirelles (PSD) — seguem patinando nos índices de intenção de voto.
A preferência de parte da população por Jair Bolsonaro (PSC) assusta, mas, segundo conselheiros do peemedebista, ele tem vida curta sem a polarização com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado em segunda instância e ameaçado pela Lei da Ficha Limpa. Ao apostar na segurança, Temer tenta esvaziar o discurso do ex-capitão do Exército.
— Lula foi jogado para escanteio e Bolsonaro não vai aguentar. Quem vai ser o candidato de centro? Temer. Com inflação abaixo de 3%, juro a 6%, PIB crescendo e desemprego caindo, ele é muito competitivo — projeta Perondi.
O inesperado movimento do governo provocou reações nos aliados. Maia, até então alinhado com o Planalto, detonou a pauta econômica anunciada para substituir a reforma da Previdência. Meirelles demitiu a equipe de marketing que o assessorava, consultou especialistas e admitiu que pode concorrer mesmo com Temer na disputa.
— Acho que a etapa como ministro da Fazenda foi cumprida. Estamos agora contemplando essa nova etapa de uma possível candidatura à Presidência — afirmou Meirelles na quinta-feira.
Desde a posse, em maio de 2016, Temer nega qualquer intenção de tentar um novo mandato. Na sexta-feira, repetiu à Rádio Bandeirantes que não é candidato. Contudo, nem mesmo a eventual inelegibilidade — foi condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) paulista em 2016 por doação ilegal ao PMDB — diminui seu ímpeto. Após apostar na segurança como mote eleitoral, busca agora uma marca na área social. O governo deve conceder reajuste ao Bolsa Família e tenta anunciar algum programa de apelo popular. Elsinho Mouco já foi convocado a criar ações publicitárias.
— O presidente vai esperar algumas ações efetivas e depois botar a cara — avisa um interlocutor.