No total, são mais de 190 mil votos que estão na disputa dos candidatos Adiló Didomenico (PSDB) e Maurício Scalco (PL) para o segundo turno em Caxias do Sul. O montante é uma soma dos 61.684 de Denise Pessôa (PT) e dos 19.172 de Felipe Gremelmaier (MDB). Ainda há os votos em branco e nulos, que totalizaram 25.274 em primeiro turno, e os 87.257 eleitores que não compareceram às urnas no dia 6 de outubro, mas que mesmo assim podem votar no dia 27 de outubro. Tudo isso totaliza 193.387 votos pairando no ar, o que corresponde a 55,7% do eleitorado da cidade.
Com as movimentações dos partidos que não foram para o segundo turno, uma fatia desses votos se inclina para o atual prefeito depois que ele recebeu o apoio do PT, com a justificativa de "combater a extrema-direita", o apoio do MDB e outras siglas como PCdoB e PV. O PDT optou pela neutralidade, embora o presidente da sigla, Rafael Bueno, tenha anunciado voto em Scalco e o ex-prefeito Alceu Barbosa Velho tenha dito que não vota em Adiló. Segundo o cientista político Fábio Hoffmann, essas ações das siglas ainda têm um grande impacto no cenário eleitoral e podem, sim, influenciar o eleitor a votar em determinado candidato. No entanto, dependerá das coordenações de campanha saberem conversar com esse público.
— Todo apoio político redireciona cadeias de energias ao que chamamos de capital político-eleitoral. Isso é ainda mais válido no caso de Caxias do Sul, onde os dois candidatos que não foram ao segundo turno, Denise Pessôa e Felipe Gremelmaier, detiveram quase 35% dos votos válidos. Isso não é pouca coisa, e acaba demandando uma boa reformulação da estratégia de campanha do candidato que passou ao segundo turno em primeiro lugar, no caso, o Scalco. Nesse sentido, sua estratégia de campanha não vai poder apenas triangular na sua plataforma. O candidato do PL vai ter que ajustar o foco da candidatura e se reposicionar no tabuleiro eleitoral de disputa, o que é um empreendimento altamente complexo, do ponto de vista da engenharia do marketing político eleitoral — explica Hoffmann.
Além disso, Adiló precisará buscar quase o dobro de votos para conseguir ultrapassar os 89.260 de Scalco no primeiro turno. Contudo, com o apoio do PT tendo apenas uma motivação — derrotar o PL — e não um apoio "escancarado", é possível que, mesmo com uma boa estratégia, o eleitor que votou em Denise Pessôa prefira anular/votar em branco em vez de seguir o posicionamento do partido. E esse caso se referencia muito com o que aconteceu nas eleições para governador do Rio Grande do Sul em 2022, onde o PT apoiou o governador Eduardo Leite (PSDB) — com a mesma justificativa — em vez de Onyx Lorenzoni (PL). Porém, os votos da esquerda, daquela vez, conseguiram reeleger Leite para mais um mandato. Com isso, o cientista político afirma que essa situação com o eleitor é uma possibilidade, mas reforça que dependerá das ações dos candidatos.
— O voto crítico aposta no pragmatismo do eleitor cativo, mas sua transferência não é automática, sua taxa de sucesso depende de muitas variáveis. Uma dessas variáveis é o alinhamento de propostas, ou seja, a inclusão na plataforma eleitoral de quem está recebendo o apoio de certas propostas, propostas viáveis. E além dessa variável mais programática, há também a ideológica, e isso depende do histórico de grau de atrito da oposição durante o mandato. Então o caso de transferência de votos em caso de apoio crítico é algo complexo, e em algumas realidades muito incerto — destaca Fábio.
VOTOS NO AR
- Eleitores aptos: 347.184
- Votos dos candidatos que não foram eleitos : 80.856
- Votos nulos/brancos: 25.274
- Abstenções: 87.257
- Total: 193.387 votos
Diferença de votos entre Scalco e Adiló - 24.723 votos
Resultado do 1º turno
- Maurício Scalco (PL) 89.260 votos (2º turno)
- Adiló Didomenico (PSDB) 64.537 votos (2º turno)
- Denise Pessôa (PT) 61.684 votos (não eleito)
- Felipe Gremelmaier (MDB) 19.172 votos (não eleito)
- Votos válidos em 1º turno: 234.653
Considerando-se os votos válidos do 1º turno e a necessidade de 50% dos votos válidos mais 1 para se eleger:
- Votos que faltaram a Scalco: 28.068
- Votos que faltaram a Adiló: 52.791
* Os votos que efetivamente faltarão a Scalco e Adiló para atingir 50% mais um dos votos válidos em segundo turno depende exatamente disso, de qual será o número de votos válidos, isto é, destinados somente aos dois candidatos, no dia 27 de outubro
O que dizem os coordenadores
Com o início da contagem regressiva para o dia do voto, no próximo domingo (27/10), a reportagem questionou os coordenadores das campanhas Grégora Fortuna dos Passos (do candidato Adiló) e Marcelo Borella (do candidato Scalco) para saber quais serão as estratégias para buscarem os votos dos eleitores.
Grégora Fortuna dos Passos
"O voto de todos os cidadãos é importante para nós. Nossa campanha tem buscado unir as pessoas, assim como no primeiro turno, mostrando que Adiló é uma pessoa agregadora. Ele governa para todos, independentemente de serem simpatizantes ou não. Esse é o papel essencial do prefeito. Estamos mostrando que o compromisso do Adiló e do (Edson) Néspolo é sempre com o bem comum, buscando diálogo e consenso para garantir que todos se sintam representados. Continuamos focados em ouvir, respeitar diferentes opiniões e trabalhar pelo interesse de toda a comunidade, sem distinções. Se considerarmos votos brancos, nulos e abstenções do primeiro turno, um em cada três eleitores de Caxias não votou, esse é um número muito alto.
Marcelo Borella
"No primeiro turno, a população de Caxias disse em alto e bom som que quer mudança. Mas o atual prefeito parece que não ouviu e segue fazendo aliança com os mesmos políticos de sempre, que estão há décadas no poder. Políticos que se vitimizam ao receber críticas e sequer são capazes de apresentar soluções para os problemas que eles mesmos criaram em suas administrações ao longo dos anos. Por isso, a estratégia para fidelizar nosso eleitor que quer mudança e conquistar novos no segundo turno é saber ouvir e seguir dialogando de forma construtiva com a população, por uma Caxias do tamanho dos caxienses."