A votação em primeiro turno da eleição para a prefeitura de Caxias do Sul, em um dia de votação tranquila neste domingo, confirmou o perfil de predominância do eleitorado de direita no município. Os candidatos Maurício Scalco (PL), com 38,04% dos votos válidos, ou 89.260 votos, e Adiló Didomenico (PSDB), com 27,50%, ou 64.537 votos, credenciaram-se para disputar o segundo turno em 27 de outubro.
O resultado da eleição significou um revés significativo para a frente de centro-esquerda, representada pela candidatura de Denise Pessôa (PT) e Alceu Barbosa Velho (PDT), que ficou distante do índice histórico de um terço dos votos válidos para a esquerda e centro-esquerda, que foi atingido pelo candidato Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2022 e pelo então candidato à prefeitura Pepe Vargas (PT) em 2020 – respectivamente com 33% e 34% dos votos válidos. O índice obtido por Denise foi de 26,29%, ou 61.684 votos. Quer dizer, o teto de votos do campo político se rebaixou. Faltaram 2.854 votos para a candidata petista chegar ao segundo turno, o que representa 0,8% do eleitorado caxiense. Pouco, mas uma diferença decisiva para os rumos da eleição caxiense.
Dobradinha da direita
Uma previsibilidade possível de ser feita a partir da forma como se deu a corrida sucessória era que os candidatos Adiló e Scalco disputassem uma vaga para o segundo turno, havendo menos chance para Felipe, pela amplitude menor de sua coligação e pela definição mais tardia da candidatura. As dificuldades para Felipe se confirmaram: ele fez 19.172 votos, ou 8,17% dos votos válidos. Mas, apesar da predominância do eleitorado de direita em Caxias, não era tarefa simples às duas candidaturas juntas empurrar a chapa de centro-esquerda para fora do segundo turno. Pois conseguiram. Somados, os percentuais de Scalco e Adiló sobre os votos válidos totalizaram 65,54%. Quase o mesmo dado ao então candidato Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno da eleição de 2022 em Caxias.
Assim, apesar da eleição local e da ênfase em torno das questões locais, a evidência do voto ideológico se confirmou. O candidato Scalco, em sua primeira manifestação, trouxe sua avaliação para as questões locais:
– Dois terços do eleitorado caxiense querem mudança – disse, em referência ao somatório das três candidaturas de oposição ao governo Adiló, que atingiram um índice de 72,5% dos votos válidos.
Na verdade, é mais de dois terços. Somadas, as três chapas obtiveram 170.116 votos, ou 72% dos votos válidos, quase três em cada quatro, mas 49% do eleitorado total.
Já o candidato Adiló, em sua primeira manifestação, bateu na tecla do que ele entende diferenciá-lo da candidatura de Scalco, que trabalhou ao longo da campanha em primeiro turno:
– Vamos (para o segundo turno) sem aventura, no rumo certo, com segurança e sem falsas promessas.
Logo de saída, também partiu para a ofensiva pelos votos em relação ao segundo turno:
– A gente nunca rejeita apoio em eleição nenhuma.
Se a presença de Scalco em segundo turno sempre pareceu tranquila, pois representava a direita e ostentou o apoio do ex-presidente Bolsonaro, a presença de Adiló era mais incerta. Falou mais alto a desconfiança política do eleitorado caxiense com a opção de esquerda, que não se revelou a alternativa desejada, e a candidatura de Adiló foi buscada como uma espécie de “porto-seguro” diante de uma chapa que o próprio candidato à reeleição sempre tratou de associá-la à “aventura”, lembrando o governo do ex-prefeito Daniel Guerra. A candidatura de esquerda não soube captar a fatia do eleitorado que não queria Scalco.
Abstenção estrondosa
Ainda na eleição à prefeito chamou atenção a estrondosa abstenção, de 87.257 eleitores, ou 25,13% do eleitorado. Foi abstenção de pandemia. Essa fatia se soma a 12.407 eleitores que votaram em branco, ou 4,77% dos votos totais, e 12.867 que anularam o voto, ou 4,95%, descrentes das alternativas que estavam colocadas na urna eletrônica.
A partir desta segunda-feira começa uma nova corrida para Scalco e Adiló: a corrida pelos votos que faltam.