Há uma semana, a prefeitura de Caxias do Sul apresentou uma mudança de planos em relação ao projeto de ocupação da Maesa. Antes planejado para que o complexo fosse restaurado como um todo, ao longo de 12 anos a partir de uma concessão patrocinada, com aportes do poder público, agora os prédios da antiga metalúrgica terão sua ocupação “fragmentada”, nas palavras da secretária da Cultura, Cristina Calcagnotto. É ela, inclusive, que vai comandar todo esse processo, já que o projeto passa a ser responsabilidade da pasta cultural.
O primeiro espaço a ser ocupado será o Mercado Público, por meio de concessão comum. Os trâmites, nesse caso, serão comandados pelo secretário de Parcerias Estratégicas, Matheus Neres da Rocha, e devem seguir o cronograma definido para a concessão patrocinada. O restante será definido por um grupo de trabalho, composto por representantes da prefeitura.
Em entrevista ao Pioneiro, Cristina Calcagnotto detalha o papel da Secretaria da Cultura no processo de ocupação da Maesa e explica de que forma isso irá acontecer.
Pioneiro: Qual será o papel da Secretaria da Cultura na ocupação da Maesa?
Cristina Calcagnotto: A partir de agora, a gestão de uso e de ocupação do espaço da Maesa vai se dar pela Secretaria da Cultura, no intuito de dar andamento ao processo que já vem sendo feito. Todos esses estudos, da análise de vocações dos espaços, das consultas públicas, estão sendo levados em consideração e vão continuar sendo avaliados. O escritório de Parcerias (Estratégicas) passa a dar andamento nessa concessão simples para o Mercado Público, mais ou menos no mesmo cronograma que já vinha sendo trabalhado (para a concessão patrocinada) para lançar o edital e para abrir o chamamento público. Esse trâmite da concessão em si é feito pelo escritório (Secretaria de Parcerias), mas, a partir disso, a própria gerência passa a ser por aqui (Secretaria da Cultura), porque o todo vai ser por aqui. Temos que entender que as secretarias trabalharão em conjunto. Segue sendo uma gestão da prefeitura, centralizada aqui na Cultura.
E como serão definidos os próximos passos?
Para os próximos passos, a gente constitui um grupo de trabalho, formado por diversas secretarias. E agora a gente também fica de olho e analisa outras possibilidades de captação de recursos, seja por lei de incentivo à cultura, captação a fundo perdido, editais de empresas, daqui a pouco alguma nova concessão. Considerando as vocações dos espaços, vão se organizar os próximos. A gente continua na linha de que as medidas tomadas sejam viáveis, sustentáveis. Não é uma simples reforma, essa revitalização é detalhada, complexa. (Mercado Público) seria o primeiro passo. Depois, esse grupo de trabalho vai definir por onde que nós vamos seguir, porque hoje não existe de fato uma clareza de qual vai ser o próximo momento. Nós vamos definir concomitantemente a essa concessão andando. Não quer dizer que vamos esperar todo esse processo terminar para começar o próximo, que é uma preocupação que eu tenho e sei que as pessoas também têm. Não vamos esperar tudo acontecer para então pensar no resto, também não vamos jogar fora ou inutilizar tudo o que foi feito até agora. São muitos anos de estudos, isso tudo continua sendo considerável. Não seria coerente da nossa parte começar tudo do zero. Se depender de mim, isso não vai acontecer.
Não vamos esperar tudo acontecer para então pensar no resto, também não vamos jogar fora ou inutilizar tudo o que foi feito até agora.
CRISTINA CALCAGNOTTO
Secretária da Cultura
O novo rumo da prefeitura se aproxima da proposta defendida por grupos contrários à concessão patrocinada. Como encara esse “recuo”?
Eu encaro isso com muita naturalidade. Essa proposta da concessão patrocinada era um desejo real de se pensar o todo num único momento. Com o passar do tempo, sendo consideradas todas essas provocações e colocações, frente às dificuldades financeiras que a prefeitura enfrenta hoje em dia, se verificou que era necessário que se fizesse de uma outra maneira. Aquele sentimento de pensar no todo junto ainda existe, mas, com o passar do tempo, se viu que realmente não ia ser viável neste momento.
Como vai ser o diálogo com estes grupos?
A escuta está permanentemente aberta. Muito deles já trouxeram (contribuições) e podem continuar trazendo. A gente precisa pensar no todo de uma forma responsável, porque, senão, alguns espaços vão acabar ficando para trás sem condições de uso ou de restauro. A conversa permanece aberta, o estudo feito anteriormente é levado em consideração e sempre foi, o estudo para a concessão patrocinada da mesma maneira, sem o formato, mas o estudo de argumentos, impactos e vocações. Se me perguntar qual vai ser o próximo espaço ocupado depois da concessão do Mercado Público, eu não sei te dizer, eu também me pergunto. Uma demanda muito iminente é a questão do espaço para cultura, seria o meu desejo que focássemos nisso agora. Eu não vou poder dizer isso, talvez a gente foque nesse lugar junto com outro ambiente, a ideia é só não esperar uma coisa terminar para começar a outra.
Os espaços propostos no projeto de concessão patrocinada serão revistos?
Existe uma demanda da comunidade artística dizendo que o tamanho do espaço destinado à área cultural não condizia com as expectativas. Bom, é possível nesse momento rever isso. Temos que fazer algo mais rentável para pagar essa conta? Vamos pensar. Vamos procurar as leis de incentivo à cultura para restaurar esses espaços específicos? Também é um caminho. A gente sabe a dificuldade que é de fazer o projeto. A destinação da Maesa para um espaço cultural começa pela preservação do seu valor histórico, cultural, arquitetônico e artístico. Vamos analisar o impacto do entorno. Se houver necessidade de um estacionamento, por exemplo, parte dele provavelmente vai entrar em um desses projetos. Como agora ele é fragmentado, é impossível dizer que tudo permanece ou que nada fica.
Como garantir que esse processo seja mantido após as eleições do ano que vem?
Isso é uma preocupação minha muito latente. Temos que pensar em algum mecanismo, seja por alguma lei ou algum processo, que de fato amarre algumas pontas. E não entendo que tenham que ser todas, porque algumas situações ainda podem ser movimentadas, mas eu concordo que precisamos buscar algo para assegurar uma diretriz. Porque senão pode ser que se volte ao status quo e se comece tudo de novo. A gente tem uma linha responsável e coerente, e é o que a gente espera da próxima gestão. Nós não podemos deixar um legado de algo imutável, engessado, porque daí podemos acabar prejudicando o processo, e não é nosso intuito. Queremos cada vez mais tornar esse lugar real, viável, sustentável e ocupado.