O prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico (PSDB), emitiu nesta quarta-feira (1º) uma nota sobre a fala do vereador Sandro Fantinel (Patriota), que repercutiu após o político dizer para produtores que "não contratem mais aquela gente lá de cima", referente ao caso dos 207 trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão, em Bento Gonçalves.
Na nota, Adiló afirma que "não cabe ao prefeito fazer um julgamento de mérito sobre a fala de um vereador, em respeito à autonomia do Legislativo, mas reforça que Caxias do Sul é uma cidade acolhedora e referência em recepção e capacitação de migrantes.
Confira a nota na íntegra:
"NOTA OFICIAL - PREFEITO ADILÓ DIDOMENICO:
Adiló Didomenico entende que não cabe ao prefeito fazer um julgamento de mérito sobre a fala de um vereador, em respeito à autonomia do Legislativo, mas reforçar que Caxias do Sul é uma cidade acolhedora e referência em recepção e capacitação de migrantes.
'Repudiamos qualquer forma de discriminação e preconceito. Com relação ao fato ocorrido no município vizinho, reiteramos nossa inconformidade e determinamos reforço a todas as ações destinadas a garantir condições dignas de trabalho e assistência a todos que procuram Caxias em busca de oportunidades, sejam elas temporárias ou permanentes. Nosso município, desde sua fundação, é formado por pessoas que vieram de outros países e estados em busca de melhores condições de vida. O acolhimento está no DNA do desenvolvimento de Caxias. Um exemplo: só no ano passado, a prefeitura, em conjunto com a Polícia Federal, regularizou a situação de mais de 1.800 estrangeiros de 30 nacionalidades que viviam de forma irregular no país'."
Relembre o caso
Em sessão na Câmara de Vereadores desta terça-feira (28), o vereador caxiense Fantinel mencionou o caso dos trabalhadores, fazendo referência à contratação de mão-de-obra baiana para atuar na vindima: "com os baianos, que a única cultura que têm é viver na praia tocando tambor, era normal que fosse ter esse tipo de problema".
Ele sugeriu a agricultores, produtores e empresas agrícolas da região dar a preferência a "trabalhadores argentinos", que seriam "limpos, trabalhadores, corretos". A fala foi dita na sessão ordinária, no plenário da Câmara. Após a manifestação, a situação causou revolta e críticas por parte de outros parlamentares, como Lucas Caregnato (PT) e Rafael Bueno (PDT), além de um boletim de ocorrência registrado pelo deputado estadual Leonel Radde (PT).
" Sou contra qualquer tipo de maus-tratos a funcionários de qualquer área. Conheço vários produtores da Serra, conheço os alojamentos onde os funcionários ficam. São simples, humildes, mas são temporários. O importante é que sejam limpos. Por causa desse caso, visitei um alojamento aqui próximo de Caxias que o produtor me chamou para ir ver. Ele havia contratado os funcionários por 30 dias e cedeu o alojamento. Os caras trabalharam uma semana e meia e pediram as contas. Não dava para entrar no alojamento, com o fedor de urina e podre, e com a imundícia que eles deixaram em uma semana e meia. E a culpa é de quem?", proferiu no discurso.
Ao fim, o vereador mencionou ainda que agora "o patrão vai ter que pagar empregada para fazer a limpeza todo dia pros 'bonito' também?" e questionou ainda se é preciso "botar eles em hotel cinco estrelas para não ter problema com o Ministério do Trabalho". O órgão está investigando o caso dos trabalhadores desde a noite da operação, no dia 22.