O pronunciamento do vereador caxiense Sandro Fantinel (Patriota), ao abordar o caso dos trabalhadores resgatados em situação similar à escravidão, em Bento Gonçalves, repercutiu nacionalmente. Fantinel afirmou na sessão desta terça-feira (28) que "com os baianos, que a única cultura que têm é viver na praia tocando tambor, era normal que fosse ter esse tipo de problema." Ele também sugeriu a agricultores, produtores e empresas agrícolas da região para dar a preferência a "trabalhadores argentinos", que seriam "limpos, trabalhadores, corretos".
A fala provocou indignação entre autoridades e população e motivou notas do governo da Bahia e do Rio Grande do Sul e das Defensorias Públicas baiana e gaúcha. As ofensas também provocaram questionamentos da sociedade, especialmente em Caxias do Sul, sobre o que a Câmara de Vereadores de Caxias do Sul fará a respeito da manifestação.
Em entrevista ao Gaúcha Hoje, na Gaúcha Serra, na manhã desta quarta-feira (1º), o presidente do Legislativo, Zé Dambrós (PSB), lamentou a repercussão negativa, mas deixou claro que se trata de um posicionamento do vereador e que Fantinel deve responder pelas falas. Ao ser questionado se a Casa emitirá um pedido de desculpas, Dambrós afirmou que não acha necessário um documento ou manifestação oficial sobre o assunto. Mesmo que não veja motivo para retratação em nome do Legislativo, ele irá reunir a Mesa Diretora, depois da sessão desta manhã, para discutir as manifestações preconceituosas de Fantinel.
— Caxias é muito grande em hospitalidade. Esse é o pensamento dele. A cidade já mostrou, e isso vem de séculos, que é hospitaleira e recebe gente de todo o mundo e de todo o país. E, vejam, tem mais de 30 nacionalidades em Caxias, tem 600 crianças matriculadas em escolas, crianças de outros países — afirmou.
Ouça a entrevista:
Ele reitera que a responsabilidade pelo ataque aos baianos é de Fantinel:
— Pegou mal essa questão da cultura porque seria quase similar a falar da nossa bombacha, mas ele deve se retratar e as consequências são dele. A tribuna, a palavra, o livre arbítrio da fala é de cada vereador e ele deve responder pelas consequências da sua fala.
Dambrós reunirá a Mesa Diretora para tratar do assunto no final da sessão desta quarta-feira, mas reiterou mais uma vez que cabe ao vereador e não à Câmara se retratar ou até mesmo pedir desculpas publicamente.
— Ninguém tem dúvida que é a fala dele, que os vereadores não falam assim. Devo reunir a Mesa para verificar isso, mas não tem porque, nós temos tantos tantos problemas na cidade. Era uma questão de Bento, que resolvessem por lá. Então, foi uma fala dele e ele deve sofrer as consequências e se tiver representação tem a comissão responsável, e os próximos passo vamos acompanhar. Não há porque nós dizermos, não. Nós pensamos diferente, o Brasil e o mundo sabem que pensamos diferente.
Sobre a possibilidade de representação na Comissão de Ética, até o início desta manhã não havia nada protocolado. Questionado se será avaliado possível quebra de decoro e preconceito no pronunciamento de Fantinel, disse que a Casa irá avaliar.
— Podemos emitir nota, mas hoje não penso dessa forma porque a cidade mostrou que é acolhedora, e foi uma fala dele, todos têm liberdade e são responsáveis sobre o que falam. Vamos avaliar, sim, a fala e ele vai responder pelos seus atos. Por enquanto, não existe representação contra o vereador.
Ao final do programa ele se desculpou com a comunidade caxiense, mas não com os baianos:
— Peço perdão em nome da Câmara por ter que falar nesta manhã sobre uma situação dessas quando deveríamos estar falando da Maesa, dos cuidados com idosos e tantas outras coisas importantes para nossa cidade.
Ele foi mais uma vez questionado sobre o pedido oficial de desculpas aos baianos:
— Eu não estou me contradizendo. Eu acho que não é necessário, isso é da prerrogativa de cada vereador falar e responder por seus atos, mas mesmo assim vou reunir a Mesa, temos uma Mesa plural e se ela achar por bem faremos, sim, uma nota, não tem problema nenhum. Eu, como presidente, acho que não, não é obrigação do presidente fazer uma resposta assim, porque o vereador vai responder todas as consequências no transcorrer do tempo.