Três caxienses foram mencionados por envolvimento nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro em Brasília até o momento. Um deles, Telmo José Reginatto, está preso no Complexo Penitenciário da Papuda, de acordo com uma lista divulgada pela Polícia Federal. Armando Valentin Settin Lopes de Andrade também está preso no complexo, e passou 50 dias nas manifestações em frente ao Quartel General (QG) do Exército na capital. Já Sheila Ferrarini, segundo a empresa Alex Godoy Transportes Ltda., a Gravatinha Tur, contratou um ônibus para levar um grupo até Brasília naquele final de semana.
O Pioneiro busca contato com os dois, ou seus representantes, para que possam dar suas versões e esclarecer as informações. Sem conseguir contato telefônico, a reportagem foi aos endereços de cada um nesta segunda-feira (16).
Sheila Ferrarini é caxiense, mas mora atualmente em Farroupilha. Segundo seu perfil no Facebook, ela tem experiências profissionais como analista e consultora de recursos humanos e estuda Psicologia Organizacional e do Trabalho na FSG Centro Universitário. O Instagram de Sheila traz vídeos dela em frente ao quartel do 3º GAAAe, em Caxias do Sul, durante manifestações antidemocráticas depois das eleições. O conteúdo foi publicado entre os dias 28 de novembro e 24 de dezembro, quando foi realizada a última postagem do perfil, que mostra os bolsonaristas celebrando o Natal em meio aos protestos.
Atualmente, Sheila divulga trabalhos terapêuticos nas redes sociais e tem registrada em seu nome a empresa Magatanka, cuja atuação principal é a fabricação de artefatos diversos de madeira, além de comércio de itens como suprimentos de informática, plantas, cosméticos e suvenires.
A empresa está registrada no endereço residencial de Sheila, em Farroupilha. A reportagem foi até o local para tentar contato, após tentativas por telefone, e foi informada de que Sheila de fato reside no endereço, mas não estaria em casa. O local fica em um bairro residencial tranquilo, em frente a uma escola. Quem recebeu a reportagem na casa de Sheila não soube informar horários em que ela está em casa ou outras formas de contato.
Já Telmo José Reginatto está preso no Complexo Penitenciário da Papuda, com pelo menos 900 outros bolsonaristas extremistas. Recluso nas redes sociais, possui um CNPJ como microempreendedor individual (MEI) em seu nome para realizar obras e manutenções em geral. Morador do bairro Desvio Rizzo, a reportagem foi até o endereço registrado no CNPJ e localizou a esposa dele, Janete. Ela confirmou que ele está preso em Brasília e afirma não ter sido contatada por nenhuma autoridade até o momento. Também diz que ainda não conseguiu falar com o marido.
– Tudo o que sabemos é o que sai nos jornais – disse.
O programa Fantástico, em matéria no domingo (15), revelou que o caxiense Armando Valentin Settin Lopes de Andrade foi preso nos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro, em Brasília. De acordo com a reportagem, o homem estava sendo monitorado pela Polícia Civil desde o final de 2022, como suspeito de planejar atentados contra as estações de energia do Distrito Federal. Ainda de acordo com o programa da Globo, o homem está respondendo a um inquérito.
Armando é sócio da empresa Goov Soluções Tecnológicas Ltda., com sede em Brasília. No quadro social, consta o nome de Marcos Araujo de Miranda, que foi candidato a deputado federal pelo PTB nas eleições de 2022, no Distrito Federal (DF). Em contato com Marcos, ele confirmou que Armando é caxiense. Além disso, não soube precisar quanto tempo Armando mora no DF, mas disse acreditar ser "mais de dez anos". Ainda segundo o ex-candidato, Armando passou 50 dias no acampamento em frente ao QG do Exército em Brasília, desde o segundo turno das eleições.
– Ele estava lá todos os dias durante as manifestações – confirmou Marcos.
Financiadora por engano
Questionada sobre a situação da caxiense citada por engano em uma nota fiscal da empresa GravatinhaTur, a Advocacia-Geral da União (AGU) afirmou que as próprias pessoas terão oportunidade de apresentar provas de eventuais erros na relação de pessoas físicas e jurídicas repassas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) à AGU. Confira a nota na íntegra:
"A ação judicial apresentada pela Advocacia-Geral da União (AGU) na última quinta-feira (12/01) foi uma “Ação Cautelar Preparatória De Ação Civil Pública Para Proteção Do Patrimônio Público”, que visa angariar elementos para futuro ingresso de ação civil pública. Trata-se de medida cautelar para garantir que, após investigação dessas pessoas físicas e jurídicas, em caso de confirmação do envolvimento delas no financiamento dos ataques e consequente condenação, haja bens disponíveis para futuro ressarcimento aos cofres públicos por conta dos danos causados.
Caso haja algum erro na relação de pessoas físicas e jurídicas repassada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) à AGU, a própria pessoa terá oportunidade de, no curso do processo, apresentar provas do erro ao Judiciário e ser retirada do polo passivo da ação. O objetivo da AGU ao pedir a medida cautelar de bloqueio de bens é única e exclusivamente cobrar reparação a quem de fato é responsável pelo prejuízo causado à União."