Como legado de uma reincidente eleição de embates ideológicos em todo o Brasil, a política caxiense foi afetada com resquícios dessa polarização, em especial nos trabalhos da Câmara de Vereadores. Diferente cenário foi a relação entre os poderes, pautada e enfatizada pelo diálogo entre Executivo e Legislativo, que inclusive rendeu uma aprovação massiva de projetos de autoria da administração de Adiló Didomenico (PSDB) em seu primeiro ano: 96, ao todo.
Mulheres no comando
A ampliação da representatividade feminina na política caxiense já foi sinalizada na eleição, quando cinco mulheres foram eleitas para a Câmara de Vereadores (na foto), maior número da história do Legislativo. No saldo geral da constituição dos poderes, a participação surpreendeu a expectativa inicial. São 17, ao todo, sem contar suplentes que assumiram temporariamente a vereança (quatro). E a diversidade de autoridade varia de alto escalão da prefeitura (incluindo vice-prefeita e secretárias de pastas estratégicas) ao comando do Legislativo em 2022, com presidente e vice.
Frente anti-PT
O nome surgiu no calor da emoção do vereador Mauricio Marcon (então no Novo, hoje no Podemos) logo após ser diplomado ainda no passado. Lá, ele disse que iria se dedicar a combater o Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara e formaria uma "frente anti-PT". Ao assumir, o grupo se constituiu efetivamente. Do início do ano até o fim de 2021, parte da frente se desintegrou, assim como alguns dos integrantes mais simbólicos acabaram divergindo em votações importantes na simbologia que o grupo se preza. No fim, pode-se dizer que quem compõe a frente são Mauricio Marcon, Ricardo Daneluz (PDT), Adriano Bressan (PTB), Sandro Fantinel (Patriota), Alexandre Bortoluz (PP) e Maurício Scalco. Transitam, ou já foram próximos do grupo: Juliano Valim (PSD), Olmir Cadore (PSDB), Gladis Frizzo (MDB).
Vereador armado e comissão atuante
Historicamente, a Comissão de Ética é um subgrupo acionado por meio de um mecanismo de contestação disciplinar. No primeiro ano da atual legislatura, tornou-se uma ferramenta quase banal: foram remetidos pela Comissão ao plenário quatro processos disciplinares contra vereadores. Um quinto chegou a passar por análise _ contra Wagner Petrini (PSB) _, mas foi arquivado antes de ser instaurado o processo. O mais chamativo foi a denúncia contra o parlamentar Alexandre Bortoluz (PP), que admitiu _ mais tarde negou _ entrar armado nas dependências do Legislativo. Outro foi o processo contra Estela Balardin (PT), que chamou Marcon de "racista, machista e homofóbico". Todas as denúncias foram arquivadas.
Bolsonaro e Caxias
Em julho, o presidente Jair Bolsonaro (PL) visitou Caxias do Sul com uma comitiva de ministros — sete. Eles participaram do lançamento da 1ª Feira Brasileira do Grafeno em Caxias do Sul. Bolsonaro e o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, o astronauta Marcos Pontes, exaltaram a importância e o potencial econômico do material e anunciaram recursos para desenvolvimento estrutural da tecnologia. A passagem do presidente foi rápida e ele recebeu manifestações de apoiadores por onde passou, assim como de opositores.
Ouça a retrospectiva:
Homenagem ao presidente
Longa e desgastante foi também a decisão de entregar o Troféu Caxias do Sul ao presidente Jair Bolsonaro, fruto de uma resolução de Mesa. No auge da pandemia, parlamentares de oposição, assim como críticos da população em geral quanto à atuação do governo federal no enfrentamento ao coronavírus, contestaram o posicionamento do Legislativo. A homenagem foi entregue por um grupo sorridente de parlamentares bolsonaristas (Sandro Fantinel, Adriano Bressan, Alexandre Bortoluz e Ricardo Daneluz) e um sério presidente do Legislativo Velocino Uez (PTB). A presença de Daneluz repercutiria negativamente dentro do seu partido, o PDT.
Posse de Cleo
Momento histórico da Câmara de Caxias, a vereadora Cleonice Araújo (PT) foi a primeira mulher trans a assumir cadeira no Legislativo. Ela ocupou uma vaga por duas sessões, nos dias 14 e 15 de setembro, em substituição a Lucas Caregnato (PT). Na eleição de 2020, Cleo recebeu 1.045 votos, tornando-se a terceira suplente do PT. Cleonice é presidente do Conselho Estadual de Políticas LGBT, do Conselho Municipal de Direitos Humanos e da ONG Construindo Igualdade. O papel na ONG é pioneiro em ter uma casa de acolhimento para a população LGBT+.
Eleição para presidência da Mesa
A meta de Mauricio Marcon de evitar que Denise Pessôa (PT) assumisse a presidência da Câmara acabou falhando. Por 15 votos a 8, a petista foi eleita para o comando da Mesa Diretora. A consagração de Denise ocorreu após um ano de muita articulação de bastidor, nos dois lados. No fim, vereadores acabaram respeitando o acordo informal que define a rotatividade de presidentes pelo critério da proporcionalidade, ou seja, maiores bancadas. Complementam a Mesa, em 2022: Tatiane Frizzo/PSDB (1ª vice), Velocino Uez/PTB (2º vice), Zé Dambrós/PSB (1º secretário) e Clóvis Xuxa/PTB (2º secretário). Denise será a terceira mulher a assumir o posto, depois de Rachel Grazziotin (1985/86) e Geni Peteffi (2012).
1 ano de Adiló
Produtividade, regularização fundiária e diálogo foram os pontos exaltados pelo próprio prefeito, Adiló Didomenico (PSDB), sobre seu primeiro ano de gestão, cuja posse ocorreu em 1º de janeiro de 2021. Ainda referindo uma resposta ao governo do ex-prefeito Daniel Guerra (sem partido), encerrado há mais de dois anos, o tucano destacou a boa relação entre os poderes, que permitiu a aprovação de todos projetos remetidos ao plenário de autoria do Executivo. A administração, no entanto, enfrentou dificuldades. Além da óbvia pandemia, continuidade de insucessos em relação ao Caso Magnabosco (inclusive cancelamento de contratação de escritório de advocacia) e a permanente e agravada situação financeira da Codeca foram problemáticas contínuas. A registrar também um dia de semiparalisação no transporte coletivo da cidade.
Passagem a R$ 3,50 inviável
Uma das principais promessas de campanha acabou sendo descartada ao longo do ano pelo próprio prefeito: a redução da tarifa de transporte para R$ 3,50. No primeiro ano, inclusive, a passagem aumentou dos então R$ 4,65 para R$ 4,75. Adiló argumentou que os aumentos consecutivos do combustível e a queda drástica de passageiros durante a pandemia foram fatores que tornaram _ e tornam _ inviável o cumprimento da promessa. O prefeito terminou o ano ressaltando que a meta para o próximo ano é tentar "manter" a tarifa nos atuais R$ 4,75. Outro tópico relacionado ao transporte que gerou polêmica foi a renovação do contrato de concessão com a Visate _ única a apresentar proposta no certame público.
Marcon expulso, Daneluz na berlinda
Em agosto, o vereador mais votado em Caxias do Sul em 2020, Mauricio Marcon, foi expulso do partido Novo. A expulsão de Marcon decorreu de um processo administrativo disciplinar aberto pelo diretório estadual depois de o vereador ter criticado, em uma transmissão ao vivo em rede social, o processo seletivo para escolha do candidato que vai representar a legenda nas eleições presidenciais em 2022. Marcon não recorreu da decisão e se filiou, em dezembro, ao Podemos. Outro que desgastou sua relação com o partido foi Ricardo Daneluz (PDT), que, divergindo do posicionamento da legenda, manifestou reiterado apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Daneluz responde atualmente processo interno no partido que pode resultar em sua expulsão.