O presidente da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, disse que o banco estatal fará uma revisão nas operações com as empresas que estão sendo investigadas pela Polícia Federal (PF) pelo pagamento de propinas.
Nesta sexta-feira, a PF deflagrou mais uma etapa da Operação Lava-Jato, batizada de Sépsis, que tem como um de seus alvos a Eldorado Celulose, uma empresa do grupo J&F, holding da JBS, dona da Friboi.
A ação tem origem em duas delações premiadas: a do ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto e a do ex-diretor de Relações Institucionais do Grupo Hypermarcas Nelson Mello.
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Segundo Occhi, o banco não fará uma apuração sobre a conduta de Cleto porque ele não tem mais vínculo empregatício com a Caixa.
– Estamos fazendo uma revisão das operações que foram aprovadas pela Caixa dessas empresas que estão eventualmente sendo citadas – afirmou Occhi, depois de participar de entrega de moradias do Minha Casa Minha Vida em Paranoá (DF).
Ele afirmou que as operações do banco com o grupo J&F estão sendo pagas em dia. Occhi disse que a Caixa está à disposição do Ministério Público Federal e da Polícia Federal para outros esclarecimentos. Cleto relatou, na delação, que o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebeu propinas em 12 operações de grupos empresariais que obtiveram aportes milionários do Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS), que usa parte dos recursos dos trabalhadores para investir em infraestrutura.
Ele contou que Cunha cobrava comissões que variavam entre 0,3% e 0,5% ou até mais de 1% dos repasses feitos pelo fundo. Em relação à Eldorado, Cleto disse acreditar que Cunha tenha recebido valor superior a 1% como comissão. O valor pedido inicialmente era de R$ 1,8 bilhão para obras numa fábrica em Três Lagoas (MT), mas acabou reduzido para R$ 940 milhões.
Brado
Como gestora do FI-FGTS, a Caixa abriu sindicância para apurar os pagamentos feitos pela Brado, sócia do fundo de investimento, a duas empresas de fachada (Link Projetos e Participações e Porte Projetos de Terraplanagem e Construção) que também estão na mira da Lava-Jato.
"A Caixa, por meio da sua corregedoria, vem adotando ações de análises e apuração, que, em conjunto com os resultados conduzidos pela Brado e seus auditores, permitirão conclusões sobre a existência de eventuais irregularidades, permitindo ações de responsabilização, se aplicáveis, para quem as tenha praticado", informou o banco, em nota.
O FI-FGTS tem 22,22% de participação da Brado, que agora pertence ao grupo ALL/Cosan. A empresa não tem capital aberto. Em 2014, o valor da parcela do fundo na empresa de logística era calculado em R$ 410,4 milhões. Mas foi feita uma reavaliação do ativo em março deste ano para o fechamento do balanço de 2015. O valor contábil da participação do FI-FGTS caiu para R$ 217 milhões depois do chamado teste de imparidade (impairment, no jargão em inglês), que busca trazer a valor presente as receitas futuras da companhia.
Depois que a Cosan incorporou a ALL, a Brado contratou uma empresa de auditoria independente e um escritório de advocacia que conduzem, desde o último trimestre de 2015, uma devassa nos contratos da companhia. Nessa análise, foram constatados os pagamentos a empresas de fachada sem a contrapartida em serviços.
"Como resultado ainda não conclusivo, identificou-se uma relação comercial, não deliberada ou previamente conhecida pelo FI-FGTS, da Brado com empresas que tiveram menções, seja diretamente ou via seus executivos, em fases da operação Lava Jato", afirmou, em nota, a Caixa.
Os resultados ainda estão sendo analisados e, segundo o banco, serão entregues às autoridades competentes pelos atuais gestores da Brado. Em meio aos desdobramentos da Operação Lava-Jato, a Caixa determinou que as empresas que fossem sócias do fundo contratassem consultorias para averiguar em que ponto estavam envolvidas no esquema de corrupção revelado pelas investigações.
De acordo com o balanço do fundo de 2015, 19% dos R$ 21,7 bilhões que o FI-FGTS aplicou nas sociedades de empresas sem ação na bolsa e em financiamentos foram direcionados a empresas que são investigadas pela Lava Jato. O fundo teve que baixar uma perda de R$ 900 milhões em 2015, quando teve rentabilidade negativa de 3%, só para cobrir eventuais perdas com a Sete Brasil - empresa criada para construir as sondas da Petrobras para a exploração do pré-sal.
Entre os aportes que estão sendo investigados está a decisão do fundo de aumentar para 30% a participação nas empresas Odebrecht Transport (R$ 2 bilhões) e Odebrecht Ambiental (R$ 1,2 bilhões), ambas fechadas, sem ação na Bolsa.
Com patrimônio líquido de R$ 31 bilhões, o FI-FGTS se transformou em alvo da Lava-Jato com a delação premiada de Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa. Aliado de Cunha, Cleto era membro do comitê responsável por decidir os aportes, o segundo maior financiador de infraestrutura do País, atrás apenas do BNDES. Ele foi exonerado do cargo no início de dezembro pela presidente afastada Dilma Rousseff.