Estelionatários tentam aplicar, em moradores de Caxias do Sul, um velho golpe, mas dentro de um novo contexto. Os criminosos estão se passando por advogados para tentar receber dinheiro de vítimas que estão envolvidas em processos de imóveis. Os golpistas se aproveitam, por exemplo, de casos em aberto no município, como o de pessoas que adquiriram apartamentos em condomínios não finalizados e que aguardam uma resposta na Justiça ou de moradores que têm processos em aberto contra construtoras.
De acordo com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Caxias, "vários escritórios realizaram a denúncia" para a ouvidoria da entidade, que não revelou a quantidade. O método usado pelos criminosos é parecido. Como explica o advogado Rodrigo Balen, que teve o nome utilizado por golpistas, os estelionatários aproximam-se de clientes com a história de que o processo foi ganho. Para que a indenização seja liberada, a vítima é informada de que precisa pagar uma nova taxa do processo ou um imposto. Os criminosos geram um recibo falso com uma chave Pix e pedem que a pessoa faça o pagamento.
— Como os processos judiciais têm domínio público, e qualquer um pode acessar, eles (golpistas) tinham informações. Tinham nomes das partes, valores da causa, nomes dos advogados, informações assertivas sobre o processo. Então, eles contatavam os clientes por um aplicativo de conversas, se passando pelo advogado — relata Balen.
O que chama atenção do advogado são termos jurídicos específicos utilizados pelos criminosos e o fato de que os estelionatários disponibilizam um número de telefone para informações, onde eles se passavam pelo escritório. Quando o advogado teve conhecimento do golpe, nove clientes tinham sido abordados pelos criminosos. Uma delas acabou caindo na "armadilha", perdendo quase R$ 3 mil.
Moradora da Zona Leste, a cliente foi abordada ainda no fim do ano passado pelos criminosos. O contato foi por telefone e aplicativo de conversas, com a notícia de que a mulher teria ganhado um processo que está há mais de 10 anos na Justiça. O valor a ser recebido seria de R$ 160 mil. Ela relata que os golpistas utilizaram documentos que realmente pareciam ser do processo. A justificativa para liberar o valor da indenização era uma cobrança para a emissão de certidões. Para pagar o valor, ela usou todo o dinheiro que estava guardado e também pegou uma quantia emprestada.
— Acreditamos porque tinha tudo. Tinha a foto do advogado, a secretária que falou comigo, eles tinham tudo certo. Ele mandou uma guia com todos os dados. Tem que ver os documentos que enviaram, tudo certinho, da forma que eu tinha — descreve a vítima.
Após o pagamento de quase R$ 3 mil, uma outra solicitação surgiu: a cobrança de um imposto, que também deveria ser pago para a finalização do processo. A vítima e os familiares começaram a desconfiar. Foi quando procuraram pessoalmente Balen e descobriram o golpe. As conversas com os golpistas duraram um dia. Os documentos falsos usados não se assemelham a guias e alvarás verdadeiros, mas passaram uma impressão de ser algo sério para a vítima.
— Eles falavam assim, "faz logo isso, que estou aqui na frente do juiz, não posso sair daqui". Eu não sabia o que fazer, eles disseram que tinha que ser pago no mesmo dia — relembra a vítima.
"Se encaixava numa ação que eu tenho"
Outro morador de Caxias que foi abordado pelos criminosos relata que os estelionatários tentaram aproximar-se da mesma maneira. Os golpistas se apresentaram como do escritório de advocacia. Da mesma forma que ocorreu com a outa vítima, eles afirmaram que o homem teria ganhado um valor em dinheiro por conta de um processo do ramo imobiliário, mas que para receber deveria pagar uma nova taxa. O homem notou que se tratava de um golpe e não caiu na conversa dos criminosos.
— O trabalho do meu advogado já estava pago. As custas do processo também. Me lembro que era um valor alto (que pediram) e que se encaixava numa ação que eu tenho — relembra o homem.
Polícia Civil investiga os golpes
A Polícia Civil está com inquérito aberto para investigar os golpes dos falsos advogados. De acordo com o titular do 3º Distrito Policial de Caxias, delegado Edinei Albarello, pelo menos quatro ocorrências foram registradas na delegacia. A autoridade explica que o modus operandi dos criminosos é similar.
— Até tem textos que eles mandam, via aplicativo de mensagens, que é bem formulado, muito bem escrito, bem redigido o português e que tem um certo conhecimento na área jurídica para convencer a pessoa — descreve o delegado.
Casos também foram denunciados no 1º Distrito Policial de Caxias do Sul, mas não foram contabilizados por estarem dentro de registros gerais de estelionatos. As ocorrências também estão sendo investigadas. Já no 2º Distrito Policial de Caxias são quatro registros desde janeiro deste ano.
O que fazer para não cair no golpe
Para não cair no golpe, o delegado alerta para tentar buscar o contato com o escritório ou advogado por um outro número, como do telefone fixo. Outra alternativa é buscar este contato e também marcar uma reunião com o profissional.
— Teve um caso em que o falsário tentou aplicar o golpe e a vítima ligou para o fixo do escritório. E aí, confirmaram que era golpe — lembra Albarello.
Em nota sobre este tipo de golpe, a OAB dá orientação semelhante aos clientes:
"A Ordem orienta cautela aos profissionais e aos clientes com o fornecimento de informações em decorrência da grande quantidade de golpes. Em caso de dúvidas, entre em contato diretamente de forma pessoal, via chamada telefônica ou por meio de videoconferência".