Pela primeira vez, o Conselho Diretor da Fundação Universidade de Caxias do Sul (Fucs) terá um representante da Mitra Diocesana na presidência. Eleito na semana passada por aclamação, o bispo dom José Gislon assume em maio — a data será marcada em reunião da Fucs em abril.
Dom José terá um mandato de três anos e o desafio de gerir a UCS, o Cetec, as rádios educativas UCS FM e o Hospital Geral (HG). Em entrevista ao Gaúcha Hoje da Gaúcha Serra desta segunda-feira (27), ele destacou a manutenção do HG e a atração de novos alunos como temas que devem ter maior atenção.
— É claro que o Hospital Geral tem toda uma expectativa, o trabalho que foi feito na comunidade, o investimento para concluir aquela ala que estava inconclusa e agora a expectativa para que seja colocada em operação — disse.
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O bispo terá como vice o professor Cláudio Luiz Pessôa de Oliveira, que representa o município no Conselho da Fucs. A vice-prefeita Paula Ioris é a representante do governo Estado, que tem Adir Rech como suplente. O Conselho é formado atualmente por sete membros com direito a voto: dois representantes da CIC — além de Quadros, Jaime Marchet — e um representante cada para o município, o Estado, a Fundação Virvi Ramos — Nelson D'Arrigo permanece no posto — e a Mitra, além do reitor.
Leia a entrevista:
Chama a atenção um representante da Igreja assumir a Fundação Universidade de Caxias do Sul. Como surgiu essa movimentação para que o senhor fosse escolhido presidente?
A Diocese é uma das instituidoras da Universidade de Caxias do Sul. Há cinquenta e poucos anos, quando a Diocese, o Virvi Ramos e outras entidades, CIC, prefeitura, CDL se colocaram juntos e uniram forças para criar a UCS e a Diocese, através do bispo, sempre fez parte do conselho superior da Fucs, que é justamente a fundação que engloba universidade, Hospital Geral, Cetec e UCS FM. Desde o início, a Diocese está envolvida nessa realidade da universidade.
Quais são os seus planos à frente da Fucs? Quais os primeiros passos?
Primeiramente, a gente tem que se inteirar. A transição vai acontecer, só vou assumir no começo de maio. A Universidade de Caxias do Sul tem uma longa história de serviço não só para a realidade de Caxias do Sul, que foi ampliado o Hospital Geral, com a rádio, com o Cetec, mas ela abrange também várias cidades da Serra, do Vale do Caí, da Região das Hortênsias. Eu penso que, com a pandemia, a realidade da educação nas universidades públicas, mas muito mais nas comunitárias, passou por um grande processo de transformação que está acontecendo ainda. Acho que a universidade tem que ser olhada a partir dessa realidade, mas também olhar que universidade queremos para o futuro, e uma mobilização também porque se o número de aluno diminuiu é porque (mudou) a realidade social como um todo, a questão dos jovens que estão no mundo do trabalho, que perderam a renda. Dificultou para muita gente e para muitos jovens a questão de se manter em um curso universitário. É uma realidade que atinge todo o Brasil, tivemos uma queda de mais de dois milhões de alunos nas universidades brasileiras nesse período. Isso é muito preocupante, porque todo jovem que deixa de frequentar a universidade, de se preparar profissionalmente para o amanhã, já está com o seu futuro comprometido. Isso compromete também toda a realidade do mundo da indústria, da educação, da sociedade como um todo. Esse sentido de se colocar a serviço também da universidade, dessa realidade da educação, eu penso naquilo que a igreja faz também com instituições própria em tantos lugares, mas é o intuito também de ajudar a sociedade nesse momento e contribuir para que a UCS continue junto com todas as situações agregadas a elas prestando o seu serviço para a sociedade. Ninguém tem fórmula mágica, o que temos, sim, é que unirmos forças para continuar esse trabalho tão bonito da educação, na saúde, na comunicação.
Tem a questão do Hospital Geral que está com as obras sendo concluídas, mas precisa de todo o mobiliário e tem o valor de custeio. Esse é um dos principais desafios da sua gestão? O que mais pode ser destacado?
É claro que o Hospital Geral tem toda uma expectativa, o trabalho que foi feito na comunidade, o investimento para concluir aquela ala que estava inconclusa e agora a expectativa também que essa ala seja colocada em operação para que possa ampliar o número de atendimentos, mas sabemos que essa é uma parceria que envolve também o Governo do Estado, envolve o Ministério da Saúde. Não é uma realidade que depende só da prefeitura de Caxias do Sul. Sabemos que o Hospital Geral é destinado aos serviços SUS, então, é esse o trabalho também de manter contatos com as nossas autoridades políticas, etc, para que esse trabalho que foi feito, que exigiu tanto empenho da comunidade possa se tornar uma realidade que presta serviço. Em cima disso, temos que bater nas portas e buscar os recursos que precisamos para que essa realidade possa ser colocada em funcionamento. Há muita expectativa e realmente eu acho que nós temos que mobilizar as nossas forças políticas e empresariais para que tenhamos também uma resposta positiva, as entidades que estão envolvida na questão da saúde pra atender também essa demanda da nossa realidade da Serra. Eu acho que essa realidade de saúde é uma realidade que toca praticamente todas as regiões também do Rio Grande do Sul, mas também em outros contextos do Brasil: a demanda pela saúde da população e muitas vezes a carência de recurso das instituições que prestam o serviço.
O senhor falava da redução do número de alunos na universidade. O que o senhor pensa em fazer para reverter essa situação?
Isso terá que ser conversado com todo o complexo da universidade, com o reitor, com a parte acadêmica, questão de marketing, tudo isso que envolve a realidade da universidade, porque esse tempo da pós-pandemia é uma retomada que envolve todos os setores da sociedade. Acho que nesse sentido é um trabalho de conscientização, mas, ao mesmo tempo, um sair daquela realidade onde praticamente nós nos acostumamos a olhar o mundo através dos meios de comunicação dentro das nossas casas e começarmos uma nova realidade de participação, de frequência, de motivação porque quando o mercado de trabalho está numa situação fácil, a própria desmotivação para os estudos acaba afetando toda a sociedade. O jovem não olha a realidade do futuro, ele começa a olhar só a realidade do presente que ele está envolvido: dificuldade financeira, pagar um curso, o retorno do curso que ele vai investir, tudo isso. Não é uma realidade só da UCS, mas atinge todas as universidades comunitárias e também universidades como Unisinos, PUC, as universidades católicas. É um momento onde, digamos, num contexto geral, a desmotivação em se preparar em relação ao futuro através de um curso universitário, uma forma profissional, isso nos faz pensar porque afeta toda a realidade do nosso país. Nenhum país do mundo mudou ou vai mudar passar pelo processo da educação, educação de qualidade que oferece também uma possibilidade de uma boa formação profissional. É importante para qualquer país do mundo, principalmente um país com as dimensões continentais como é o Brasil, com tantos desafios no campo desenvolvimento social, econômico, a realidade industrial. É um momento de somar forças, olhar junto a realidade e refletirmos também os passos que temos que dar. O bispo não assumiu para dar soluções mágicas, mas pra trabalhar junto com todas as entidades envolvidas no conselho superior, a reitoria, o mundo acadêmico e o corpo docente. Esse trabalho em conjunto é que permite que um bispo assuma a Fundação Universidade de Caxias do Sul.
Como o senhor vai conciliar os compromissos da Igreja com os da Fundação?
A Fundação não exige a permanência contínua do bispo. O presidente vai em alguns momentos, porque tem as pessoas que coordenam toda essa parte interna da universidade e das outras instituições também. Nós temos o conselho superior que se reúne justamente uma vez por mês e no conselho que são tratadas as coisas e dado também as diretivas para que as coisas aconteçam. Eu penso que sempre na parte da manhã a gente vai privilegiar uma realidade, um tempo para acompanhar a Fucs. É sempre um desafio, mas penso que também nós temos que sempre olhar a realidade que está ao nosso redor e nós colocarmos a serviço. Quando fui ordenado bispo, escolhi como tema "Na caridade, amar e servir". Penso que esse momento também da história é servir a Fucs, servir essa realidade como parte do meu ministério, ajudar também essa realidade que envolve tantos contextos, não só da Igreja Católica, mas da sociedade como um todo. A Igreja sempre teve essa abertura de olhar a realidade da educação, a realidade da saúde, tantas outras realidades que envolvem a vida da comunidade. No momento não é diferente. Eu penso que se dispor a trabalhar por uma causa tão importante que é o mundo da educação, da saúde, é estar também a serviço do evangelho, a serviço da realidade da vida, alimentando e cuidando também dos sonhos e esperanças dos jovens e da sociedade em relação ao futuro.