Elas estão por todos os lados. Às vezes, praticamente imperceptíveis, mas estão lá. Em inúmeras ruas e pontos de Caxias do Sul, moradores são acompanhados de perto. O motivo da instalação delas é óbvio. Mas, para a segurança pública, o efeito é ainda maior. Sistemas de monitoramento, mesmo que privados, flagram momentos-chave de crimes graves ou detalhes fundamentais para a solução de um caso. A contribuição mais recente foi no assassinato de Naiara Ketlin Pereira, 18 anos. As imagens de câmeras de segurança auxiliaram a localizar o principal suspeito do crime.
— Além de resguardar o âmbito interno do titular da câmera ou dono do local, ela acaba sendo muito interessante porque acaba de uma forma, ainda que indireta, auxiliando os agentes de segurança pública. Na medida em que elas acabam revelando se não o momento exato do crime, mas muitas vezes contextos anteriores ou posteriores, que nos ajudam a esclarecer as circunstâncias do delito — explica o titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Caio Márcio Fernandes.
Este não foi o único crime que marcou Caxias e teve este auxílio. O titular da DHPP lembra que pontos fundamentais do caso da menina Naiara Soares Gomes, sete, estuprada e morta em 2018, por exemplo, foram elucidados com imagens, como o trajeto feito pelo sequestrador e o veículo que levou à identidade do autor do crime.
— Graças a uma determinada câmera, nós conseguimos iniciar uma trajetória realizada pelo veículo. Ou seja, em algumas outras câmeras, pegávamos detalhes importantes. Inclusive, chegamos a uma câmera final, que captou pequenos detalhes do veículo que foram importantíssimos para identificá-lo, como alguns detalhes nos vidros e no retrovisor. Esse é apenas um dos casos — descreve o delegado.
Fernandes relembra ainda como as câmeras capturaram momentos importantes em crimes, como o assassinato do médico Guilherme de Oliveira Lahm e de Angélica Schena, arrastada por um veículo e morta, no final do ano passado. Como explica o delegado, as imagens se tornam provas irrefutáveis, podem corroborar ou não com versões de testemunhas e se tornam fundamentais também para o julgamento.
— Uma coisa é uma narrativa e uma percepção que uma pessoa ou testemunha viu. Ela tem, como todo ser humano, a percepção dela. Ela traz para o magistrado, traz para o delegado, as pessoas que estão investigando, o que os olhos dela captaram. Então, nós enxergamos por intermédio dos olhos de outra pessoa. Com a câmera, o próprio investigador, promotor, defensor ou magistrado está observando diretamente. Não é ninguém que está falando para ele uma percepção — conclui o delegado.
Não há como calcular quantas câmeras existem em Caxias no setor privado, que são inúmeras. Do outro lado, são 51 equipamentos públicos.
Casos marcantes de Caxias do Sul ganham respostas com câmeras de monitoramento
:: Caso Naiara: a menina Naiara Soares Gomes, sete anos, foi violentada e morta em março de 2018. Com câmeras de segurança, a investigação descobriu o veículo usado pelo autor do crime e refez o trajeto do sequestro da menina.
:: Assassinato em serralheria: em fevereiro de 2021, Henrique Camícia, 21, foi morto dentro de empresa no bairro Diamantino. Com melhoramento de imagens de câmeras de monitoramento, uma tatuagem de um dos dois autores foi identificada, levando ao reconhecimento do suspeito e do seu comparsa.
:: Médico assassinado: Guilherme de Oliveira Lahm foi morto em março de 2022, no bairro Rio Branco. Câmeras capturaram todo o crime, desde a chegada do autor dos disparos até a fuga.
:: Atropelamento de estudante: Biatriz Xavier Menuzzo, 16 anos, foi atropelada em maio de 2022. Gravações capturaram o atropelamento e o veículo que atingiu a jovem.
:: Angélica Schena: mulher foi arrastada por veículo e morta, em novembro de 2022. Câmeras registraram o trajeto feito pelo carro e o momento de início da ação.
“Traz tranquilidade”, diz lojista
O setor privado em Caxias do Sul é responsável pela instalação de inúmeras câmeras que, como mostrado, ajudam na segurança pública. A lojista Idalice Manchini é favorável às câmeras de segurança e recomenda que colegas, que possuem os estabelecimentos de rua, invistam no sistema de monitoramento.
A decisão de colocar os equipamentos surgiu depois de um arrombamento há alguns anos, quando grande parte do estoque de uma das quatro lojas da Pole Modas foi roubada — trazendo grande prejuízo. Hoje, as três lojas da marca que estão no Centro possuem segurança 24 horas. A outra loja da rede está em um shopping de Caxias do Sul.
— É um custo mensal, mas posso dizer que, com certeza, ele se paga. Traz uma tranquilidade muito grande e não só para o proprietário, mas também para os clientes que estão circulando dentro da loja — destaca Idalice.
Idalice observou como o sistema inibe ações criminosas. Por isso, a lojista, que é diretora financeira do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) de Caxias e vice-presidente de comércio da Câmara de Indústria e Comércio (CIC) de Caxias, também é favorável ao cercamento eletrônico. A empresária, que ainda foi presidente do Sindilojas, lembra que o comércio está aberto a este sistema.
— É uma segurança maior para quem transita, para quem precisa disso. Sou muito a favor do cercamento porque diz que o assalto anda sobre rodas também. Então, com o cercamento eletrônico você tem dados para que isso não aconteça — afirma a lojista.
O projeto de cercamento eletrônico, inclusive, está em andamento em Caxias. Com previsão de lançamento de edital neste mês, o sistema poderia entrar em funcionamento no segundo semestre.