As forças de segurança confirmam que Caxias do Sul vive uma nova guerra de facções. Desta vez, a desavença iniciou pelo domínio de um ponto de venda de drogas conhecido como "Buraco Quente", no bairro Jardelino Ramos. A rixa espalhou tiroteios pela cidade e seria a explicação por seis dos sete homicídios ocorridos nestes 13 dias de maio.
O crime mais recente, no bairro Vila Ipê, na madrugada desta sexta-feira (13), seria mais um indício deste crime organizado. Um grupo de três criminosos executou seu alvo rival com 16 tiros e depois ateou fogo em uma casa de lanches, o que destruiu outras residências de madeira próximas.
— Identificamos (o ataque) como uma tentativa de demonstração de força de uma das facções que atua na cidade. Acreditamos que há uma disputa por esta determinada região, o tal Buraco Quente, que é um conhecido ponto conflagrado de venda de drogas. Este foi um ataque de uma a outra facção, para demonstrar poderio — avalia o delegado Caio Márcio Fernandes, titular da Delegacia de Homicídios.
Desta sequência de sete assassinatos em 13 dias, apenas um caso é tratado de forma diferente. Foi o crime no bairro Salgado Filho, na madrugada do último sábado (7), quando um homem foi esfaqueado em uma briga. As outras seis mortes, que envolvem ataques a tiros, são investigadas neste contexto de disputa de facções.
A comparação que a Polícia Civil faz é que esta é uma disputa "comercial", com as facções disputando o controle da venda ilegal de drogas. E esta desavença é o motivo da sequência de crimes.
— O pano de fundo é sempre a droga, a traficância. Estamos buscando uma pronta-resposta. É um trabalho que fazemos permanente, monitorando e identificando membros de facções, com uma troca constante de informações entre as forças de segurança. Inclusive de ordens judiciais, que inicialmente são sigilosas, e compartilhamos com a BM para conseguir prisões mais céleres — aponta o delegado da Homicídios.
Sobre as investigações, o delegado Fernandes lembra que nesta quinta-feira (12) um suspeito foi preso. O homem de 19 anos é apontado como o autor de uma tentativa de homicídio no bairro Jardelino Ramos, no último domingo (8). Também há buscas por um segundo investigado, um foragido que é suspeito de pelo menos três homicídios tentados e consumados recentemente. Mais detalhes sobre estes crimes e suspeitos não são divulgados para não prejudicar as investigações, segundo o delegado Fernandes.
A vítima da execução desta madrugada foi Allisson Eduardo de Brito dos Santos, que estava comemorando o aniversário de 28 anos com familiares quando aconteceu o ataque. Ele estava com a mãe e o irmão em uma esquina, bebendo em frente a uma casa de lanches, quando ao menos três homens armados chegaram atirando. Santos tentou fugir, mas foi alvejado com ao menos 16 tiros de pistola calibre 9mm.
Após atingirem o alvo, os atiradores foram até casa de lanches, espalharam combustível e atearam fogo. No mesmo terreno, havia quatro moradias. As chamas consumiram as casas de madeira, mas ninguém ficou ferido.
Na manhã desta sexta-feira (13), os agentes da Delegacia de Homicídios buscavam câmeras e testemunhas que possam ajudar a identificar os autores deste homicídio e incêndio criminoso. A investigação, contudo, é muito mais complexa. Um dos pontos principais é descobrir quem ordenou estes ataques e execuções.
— Acreditamos, em razão da configuração estrutural das facções, que existe uma coordenação que fica dentro dos estabelecimentos prisionais. Mesmo com líderes espalhados, pois há líderes de facções daqui que não estão em Caxias (foram transferidos devido a investigações semelhantes), isso acontece em razão do acesso aos celulares. É uma realidade conhecida não só aqui no Rio Grande do Sul, mas em todo o Brasil, infelizmente — salienta o delegado Fernandes.
Procurada pela reportagem, a Brigada Militar manifestou, por meio de nota, que tanto o 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM) quanto o 4º Batalhão de Choque (4º BPChq) têm intensificado ações, saturando áreas conflituosas, com incidência de homicídios, trocando informações e trabalhando de forma integrada com a Polícia Civil e a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe).
A sequência de assassinatos no mês de maio:
:: O primeiro crime foi um duplo homicídio no dia 3 de maio. Gabriel Teles Rosa de Melo e Kauã Souza de Abreu, ambos de 18 anos, foram mortos por criminosos que invadiram uma residência na Rua Glória, no bairro Cruzeiro. As características do crime remetem às execuções praticadas por facções que disputam o tráfico de drogas.
:: Menos de duas horas após as primeiras mortes, Guilherme Pagnonceli da Silva, 18, foi executado com cinco tiros na Rua Amábile Fontana, no bairro Nossa Senhora de Fátima. O ataque aconteceu às 21h30min.
:: Na noite de 4 de maio, criminosos efetuaram diversos disparos de arma de fogo e atearam fogo em uma residência na Rua Rachel Cousseau, bairro Mariani. O corpo de Jeferson Rosa dos Santos, 37, foi encontrado carbonizado.
:: O quinto homicídio do mês de maio é o único que não é relacionado às facções. Rodrigo Antonio de Bittencourt, 42, foi esfaqueado durante uma briga em via pública no bairro Salgado Filho. Câmeras de monitoramento registraram o tumulto e auxiliam a investigação.
:: A sexta morte aconteceu no último domingo (8). Égon Vieira da Silva, 29, foi morto com cinco tiros dentro de um Corsa no bairro Jardelino Ramos. A namorada dele, uma mulher de 23 anos, também estava no veículo, mas não foi ferida.