O trânsito das ruas Moreira César, Perimetral Norte e Ludovico Cavinato será novamente alterado nesta terça-feira (12) para a segunda noite da reprodução da perseguição que resultou na morte de Matheus da Silva dos Santos, 21 anos, em Caxias do Sul. Desta vez, serão recriados os passos dos cinco investigados pela Polícia Civil: quatro guardas municipais e um servidor municipal da Secretaria de Urbanismo, que possui porte de arma. Na semana passada, os trabalhos começaram às 19h e foram até 3h da madrugada.
A chamada reprodução simulada dos fatos, feita pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP), irá tomar o depoimento de 12 envolvidos, entre suspeitos e testemunhas, e levá-los de volta ao local dos fatos, para posicionar cada um e possibilitar o confronto de versões. A simulação foi dividida em dois dias, ouvindo seis versões em cada noite.
Na primeira noite, o trânsito na Rua Moreira César foi deixado em uma pista nas proximidades do nº 1.099, próximo à Casa de Carnes Altas Horas. Conforme a demanda da perícia, os bloqueios eram remanejados até na Avenida Ruben Bento Alves (Perimetral Norte) até a rótula que leva aos Pavilhões da Festa da Uva. O trânsito da Rua Ludovico Cavinato ficou totalmente bloqueado durante as nove horas da perícia.
A expectativa dos investigadores é determinar quem disparou o tiro fatal. A tendência é que apenas o autor do disparo fatal seja indiciado por homicídio.
Relembre a perseguição
A perseguição aconteceu na madrugada do dia 6 de junho de 2021. Matheus da Silva dos Santos era o motorista de uma Parati branca e estava acompanhado de dois amigos. Segundo amigos e familiares, ele decidiu fugir por não ter CNH e pelo temor de que o veículo fosse apreendido em razão de multas não pagas.
Com a fuga, diversos agentes municipais que estavam na barreira iniciaram a perseguição. A Parati trafegou por ruas do bairro São José até a rótula da Perimetral Norte com a Rua Ludovico Cavinato, caminho que também leva aos pavilhões da Festa da Uva, onde o veículo foi cercado.
Uma câmera de segurança gravou essa parte da perseguição, à 00:38:38. As imagens mostram a Parati branca dando marcha à ré com uma viatura da Fiscalização de Trânsito na sua frente. Os dois veículos chegaram a se encostar. Em segundos, mais três carros se aproximaram e cercaram a Parati. Os agentes municipais, então, desembarcaram.
O motorista percebeu um espaço entre as viaturas e decidiu continuar a fuga. Para tal, fez uma manobra de ré. Nesse movimento para trás, a Parati atingiu um guarda municipal, que desembarcava de uma viatura. O vídeo não tem som, mas foi possível perceber pelas reações que disparos haviam sido feitos.
Na sequência, os veículos saíram do enquadramento da gravação. Poucos metros depois, com Santos já baleado, a Parati bateu contra o muro de uma residência na Rua Ludovico Cavinato e a perseguição terminou.
Afastados, guardas municipais alegam legítima defesa
A identidade dos cincos suspeitos não foi divulgada oficialmente. Quatro deles são guardas municipais que, além do inquérito policial, respondem a um procedimento administrativo instaurado pela corregedoria da prefeitura. Esse procedimento segue em andamento. Desde o ocorrido, os quatro servidores têm trabalhado apenas em atividades internas na Guarda Municipal — prática que é um padrão para não atrapalhar as investigações e estar à disposição das autoridades policiais e da sindicância.
Segundo a Polícia Civil, os guardas municipais alegaram legítima defesa de terceiros para justificar os tiros durante a perseguição e legítima defesa para o momento em que o motorista, supostamente, jogou o veículo contra eles.
Os quatro guardas são representados pelos advogados Ivandro Bitencourt Feijó e Maurício Adami Custódio, que afirmam que os servidores públicos agiram dentro da técnica policial de abordagem, com o uso progressivo e consciente da força. A defesa está confiante que o resultado das perícias faltantes irá corroborar com o narrado pelos guardas.
O quinto suspeito é um servidor público municipal que tem porte de arma, por isso estava armado na ocasião. Ele não tem função de polícia. A reportagem não conseguiu contato com o servidor ou seu representante legal.