A mãe de Matheus da Silva dos Santos, 21 anos, jovem morto durante uma abordagem da Guarda Municipal na madrugada deste domingo (7), se pronunciou sobre a morte do filho em Caxias do Sul. Durante o velório do rapaz, Terezinha da Silva de Souza conversou brevemente com a reportagem sobre o caso. Abalada e amparada por familiares e conhecidos, lembrou que o rapaz havia comprado havia três dias a Parati envolvida na perseguição que o levou à morte.
Para isso, o jovem havia pego R$ 2 mil emprestados com a mãe e parcelou os outros R$ 2 mil da conta. Matheus não tinha carteira de habilitação e mesmo assim decidiu sair com o veículo na companhia de amigos. No passeio, acabou caindo em uma blitz na Rua Moreira César quase na esquina com Rua José de Carli, no bairro São José. A partir desse momento, aconteceu uma sequência de fatos ainda não totalmente esclarecida.
Segundo relatos dos amigos dele à polícia, o jovem temia ser flagrado pela infração e decidiu não parar na barreira montada pela BM, Guarda e Fiscalização de Trânsito, o que gerou a perseguição. Ele trafegou pelas ruas do bairro São José e acabou perdendo o controle do carro próximo à rótula da Ludovico Cavinato com a Perimetral Norte, caminho que leva aos pavilhões da Festa da Uva. Segundo as primeiras informações da Guarda à Polícia Civil, os servidores desembarcaram da viatura e tentar fazer uma abordagem. Nesse momento, Matheus, pela versão dos servidores, jogou o carro contra eles. Os guardas então reagiram a tiros e um desses disparos atingiu a cabeça do rapaz, que morreu no hospital.
De acordo com a mãe de Mateus, que ouviu a história dos amigos do filho, Matheus só teria batido o carro após começarem os tiros. Em seguida, o carro já parado, os dois amigos que estavam no veículo desembarcaram da Parati e se atiraram no chão.
— Os amigos dele falaram que ele tentou fugir, a Guarda foi atrás e começou atirar. Os dois conseguiram abrir a porta e se jogaram no chão. Eles (guardas) pisavam na cabeça, tanto que os guris estão machucados. Os guardas disseram que o Matheus tinha jogado alguma coisa para fora pelo vidro, queriam que os meninos assumissem. Mas o vidro estava estragado e não abre — conta Terezinha.
Embora o filho tenha sido baleado durante a madrugada, ela só soube da morte no meio da manhã. Antes da confirmação, Terezinha foi informada por meio da mãe de outro jovem que estava na Parati que havia ocorrido algum problema. Após várias tentativas de falar com a polícia, Terezinha não obteve retorno. A família de Matheus recebeu a informação de que o jovem havia morrido próximo das 9h, após ter comparecido na delegacia da Polícia Civil e também no Departamento Médico Legal.
— Eu pensei que (Matheus) estava preso porque tinha bebido e dirigido. Mas não por matar assim, meu Deus — desabafou Terezinha.
Mateus morava no bairro Planalto e trabalhava numa empresa de peças automotivas do bairro Bela Vista desde novembro.
— Ele fazia serão todo dia até as 4h da manhã e feriados. Ele era trabalhador, não tinha passagem (na polícia). Nada! Ele só ficou com medo, porque não tinha carteira. Não precisava matar. Desse tiro no carro, mas não nele e na cabeça — emocionou-se Terezinha.
Matheus está sendo velado na Sala D da Capela São Francisco e será sepultado nesta segunda (7), às 10h, no Cemitério dos Santos Anjos, no bairro São Vitor Cohab
O secretário municipal de Segurança Pública de Caxias do Sul, Paulo Roberto Rosa, afirma que as circunstâncias da fuga, perseguição e morte serão apuradas em inquérito policial e investigação administrativa da prefeitura. Conforme o secretário, os quatro guardas municipais envolvidos diretamente na abordagem seriam colocados em funções administrativas até o esclarecimento do caso.