Um novo vídeo ajuda a reconstituir o que aconteceu durante a perseguição que terminou na morte de Matheus da Silva dos Santos, 21 anos, em Caxias do Sul. A gravação de uma câmera de monitoramento mostra as viaturas da Fiscalização de Trânsito e da Guarda Municipal cercando a Parati branca, na Rua Ludovico Cavinatto. O motorista, no entanto, não desiste da fuga. Neste momento, ele engata a ré, ação esta que os guardas municipais alegaram ser uma agressão (tentativa de atropelamento) e o motivo para responderem atirando.
O vídeo foi divulgado nas redes sociais pela Página "Marcos Castilhos Abreu". Este novo elemento já foi incorporado na investigação da Delegacia de Homicídios, responsável por elucidar o caso. O delegado Vitor Carnaúba prega cautela e afirma que o primeiro passo é confirmar que as imagens realmente são da perseguição da madrugada de domingo (6).
A gravação mostra o horário de 00:38:38 do dia 06 de junho. No canto, é possível ver a Parati branca de ré com uma viatura da Fiscalização de Trânsito na sua frente. Os dois veículos chegam a se encostar. Em segundos, mais três automóveis se aproximam e cercam a Parati. Os agentes municipais, então, desembarcam.
O motorista seria Matheus, que, segundo os amigos que estavam juntos no automóvel, está fugindo de uma barreira policial na Rua Moreira César por não ter Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Ele percebe um espaço entre as viaturas à sua direita e decide continuar a fugir. Para tal, ele dá a ré para manobrar e tentar escapar.
Neste movimento para trás, a Parati atinge um guarda municipal, que desembarcava de sua viatura. O vídeo não tem som, mas é possível perceber pelas reações que disparos foram feitos — o que é corroborado pelos relatos e o outro vídeo que a investigação já possui.
Na sequência, os veículos saem do enquadramento da gravação. Poucos metros depois, com Matheus já baleado, a Parati colidiu contra o muro de uma residência da Rua Ludovico Cavinatto e a perseguição termina.
Prova significativa para as investigações
Este novo vídeo é uma prova importante para investigação, porque mostra o veículo em ré, manobra que foi feita pelo motorista em fuga. Este movimento foi descrito pelos guardas municipais, em depoimento à Polícia Civil, como uma agressão que justificou os disparos realizados. Cabe a investigação analisar este contexto para determinar se o caso foi de legítima defesa ou não.
Com base no primeiro vídeo sobre a perseguição, o delegado Carnaúba já havia apontado que o número de tiros efetuados era maior do que o descrito nos relatos iniciais. Outro ponto que chamou atenção é que os servidores municipais, segundo a Polícia Civil, relataram que a ré teria acontecido após a Parati colidir com o muro. Estes dois vídeos revelam que a manobra em ré existiu, mas aconteceu antes do acidente, durante o cerco na rótula, entre a Rua Ludovico Cavinatto e a Perimetral Norte.
— Este vídeo mostra alguma reação da parte dele (motorista), mas não nos leva a conclusão sobre o ocorrido ainda. O importante será depois, quando recebermos os laudos (da perícia) com a possível localização do projetil. É uma imagem a mais que recebemos. Estamos coletando elementos ainda — desconversa o delegado Carnaúba.
A Delegacia de Homicídios busca mais imagens e testemunhas para ter o melhor entendimento possível da situação para fazer um novo interrogatório com todos os envolvidos. Quem tiver informações ou outras imagens da perseguição pode repassar diretamente para a Delegacia de Homicídios pelo aplicativo WhatsApp no número (54) 98414-9840.
Testemunha afirma ter ouvido de 15 a 20 tiros em duas sequências
A esquina em que a perseguição terminou possui várias residências. São moradores que relatam momentos de terror com o barulho de sirenes, tiros e uma batida de carro. As testemunhas apontam que foram muito mais estampidos do que os sete ouvidos no primeiro vídeo divulgado.
Um desses moradores é um autônomo de 26 anos, que relata já estar dormindo quando tudo aconteceu. A identidade dele é preservada.
— Recém tinha pego no sono, quando acordei com os barulhos de tiros e sirenes. Minha esposa foi até a janela, daí peguei ela e fomos para o banheiro. Eram muitos tiros e parecia que estavam dentro de casa — relata.
O homem acredita que os disparos iniciaram muito antes do cerco a Parati na rótula com a Perimetral Norte. Ele relata ter ouvido duas sequências de tiros. Naquele momento, o autônomo acreditava ser um confronto entre criminosos e policiais.
— Enquanto vinham (se aproximando da casa) já tinham tiros. Foram umas duas sequências de tiros. Porque acordamos, deu um intervalo e deram mais tiros. Lembro de ter levantado e me abaixado porque começou de novo. Acredito que ouvi uns 15 a 20 tiros. Depois houve o estouro, acho que foi quando bateu (o carro no muro de uma residência vizinha).
Quando terminaram os estampidos, o morador foi verificar o que acontecia do lado de fora. Ele relata ter ouvido os agentes municipais perguntando mais de uma vez porque os tripulantes da Parati estavam fugindo da blitz. A reposta sempre era a falta de documentos do motorista e que Matheus não queria perder o carro.
— Quando olhamos para fora, estava o carro lá (batido) e dois algemados no chão. Os agentes estavam todos em volta. As ambulâncias também chegaram bem rápido. A situação estava controlada. A viatura dos fiscais de trânsito estava mais para frente, estavam verificando se estava amassado de uma batida na perseguição — descreve a testemunha.