O delegado da Polícia Civil Rodrigo Kegler Duarte é o primeiro a testemunhar, na manhã desta quarta-feira (10), no júri sobre o esquartejamento ocorrido em 2017 em Caxias do Sul. A sessão começou às 9h, mas, por ser o primeiro plenário do mês, o ato inicial foi um procedimento de escolha dos jurados. O crime ocorreu em 1º de agosto daquele ano. João Carlos da Rosa Gomes, 67 anos, e Mirto Gritti, 57, são acusados do assassinato de Luciano Vargas Silva, 45 anos.
A vitima, que era ex-genro de Gomes, teve o corpo cortado em pedaços e espalhado por contêineres de lixo da cidade. Partes do cadáver foram encontradas dentro de sacos plásticos em uma caixa coletora da Rua Sinimbu, no bairro São Pelegrino, na madrugada do dia seguinte. Não foram encontradas a cabeça ou as mãos da vítima. Foi uma carta de baralho espanhol (Às de espada), tatuada num antebraço achado no lixo, que levou à identificação do santa-mariense, conhecido como Pig.
O depoimento do delegado que, à época, era titular da Delegacia de Homicídios e conduziu a investigação sobre o crime, iniciou as 10h05min.
— Vivíamos um tempo de intensa prática de homicídios por facções criminosas. Está foi nossa primeira hipótese. O que tínhamos para identificação eram duas tatuagens, um às de paus do baralho espanhol e parte de um nome. Divulgamos isso na imprensa e veio informações que levaram a identificação da vítima, que era jogador de truco. Descobrimos que ele tinha uma filha com aquele nome tatuado — relatou o delegado no plenário.
Duarte conta que os policiais foram até a casa do casal suspeito, ex-sogros da vítima, e que eles tinham se mudado naquela manhã de forma bastante urgente, segundo relato da esposa do locatário (Gritti). Um dos policiais decidiu verificar a lixeira do imóvel e encontrou uma caixa de serra elétrica, luvas e outros objetos que poderiam ter sido utilizados em um esquartejamento. A perícia foi acionada para verificar algum vestígio de sangue, que foi encontrado em paredes, tetos e portas, o que indicava que lá tinha sido o local do esquartejamento.
A Polícia Civil conseguiu mandados de prisão contra o casal fugitivo e Gomes foi preso em Santa Catarina. Trazido para Caxias do Sul, o réu ficou em silêncio.
— Na presença do advogado, posteriormente, confessou o crime. Relatou todo o histórico de relacionamento com Luciano, com supostas ameaças e relação conturbada. Sobre o dia específico (do crime), Luciano teria estado lá e houve uma desavença, que virou uma briga — referiu a testemunha.
O delegado seguiu o relato do que disse Gomes quando preso:
— Tinha um passado de açougueiro, sabia o que fazia (no esquartejamento) e como fazer a limpeza do imóvel. Alegava ter feito tudo antes da chegada da esposa. Ele alega ter esquartejado, fracionado e embalado o corpo. Dispensou parte do corpo no bairro Desvio Rizzo e o resto foi no final da tarde. Como tinha muita movimentação de gente, foi até a área central. Segundo ele, quando ficou sabendo da localização do cadáver, contou a esposa e decidiram fugir porque tinha um histórico criminal (foragidos por estelionato).
A mulher de Gomes responde por ocultação de cadáver, portanto, não participa no júri. Já Gritti, segundo a polícia e Promotoria, teve participação na morte. No dia do crime, houve uma briga entre o açougueiro (Gomes) e a vítima. Ainda conforme a acusação, Gritti deu uma paulada na cabeça do ex-genro, depois, o açougueiro o esfaqueou e esquartejou.
Durante os questionamentos as testemunhas, a estratégia das defesas já se desenharam. As perguntas do advogado Nelson Lilioso de Freitas Silveira, que representa Gomes, são direcionadas para demonstrar a relação conturbada entre o réu e ex-genro, um suposto comportamento violento da vítima e sua maior compleição física, para argumentar uma legítima defesa do açougueiro quando esfaqueou Luciano Vargas Silva.
Já os advogados Mauricio Adami Custodio e Ivandro Bitencourt Feijó buscam evidenciar que a única prova contra o seu cliente, Gritti, é o depoimento do outro réu.
A acusação é feita pelo promotor Manoel Figueiredo Antunes e a sessão é conduzida pelo juiz Silvio Viezzer. Houve desistência de algumas testemunhas, por isso, das 11 arroladas a previsão é que nesta quarta sejam ouvidas apenas cinco. Desta forma, é possível que o júri siga até o término ainda nesta noite.
Menos de 20 pessoas assistem a sessão em função das restrições causadas pela pandemia de covid-19. Aparentemente tranquilos, os réus estão em Plenário acompanhando o depoimento. Gomes está recolhido ao sistema penitenciário desde sua prisão em Santa Catarina no dia 17 de agosto de 2017.