O ano de 2020 terminou com os menores índices criminais da década nas três cidades mais violentas da Serra. Somadas, Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Farroupilha tiveram 1.779 assaltos no ano passado. O número é 43,4% menor que o registrado em 2011, quando foram 3.145 assaltos. Uma queda semelhante é vista nos roubos de veículos e furtos. As reduções são explicadas pelo aprimoramento da inteligência policial e pela evolução da tecnologia.
A análise é possível graças à divulgação dos indicadores criminais de dezembro, em coletiva de imprensa online com o governador, Eduardo Leite, e com o vice-governador e secretário da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Júnior. Na apresentação, o governo do Estado destacou a menor de taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes da década. O índice caiu de 15,9, em 2019, para 14,8 mortes a cada 100 mil habitantes, em 2020. É a primeira vez, em 11 anos, que a taxa fica abaixo de 15.
Na Serra, os dados mais positivos vieram dos crimes patrimoniais. A década ficou marcada pelo pico de crimes em 2016, resultado do descontentamento dos servidores da segurança pública com as medidas do governo gaúcho contra a crise nas finanças públicas. Foram 3.644 assaltos em Caxias do Sul naquele ano.
Após esse pico de violência em 2016, a cidade teve quatro anos consecutivos de reduções nos indicadores. Os 1.504 roubos de 2020 são 59% menor que o índice de 2016 e 41% menor que os 2.539 assaltos do primeiro ano da década, no caso, 2011. Ou seja, a reação no combate à violência não apenas reduziu os números da crise, como também levou aos melhores resultados da década.
O comparativo da década mostra que as mudanças nos indicadores criminais são muito semelhantes nas três cidades da Serra escolhidas para o programa RS Seguro, estratégia do governo estadual para o combate à criminalidade nos 23 municípios gaúchos mais violentos. Proporcionalmente, os números de Bento Gonçalves e Farroupilha acompanham os de Caxias do Sul.
Nos roubos de veículos, os dados mais impressionantes vêm de Bento Gonçalves. O município de 120 mil habitantes teve um total de 709 automóveis roubados na década. O dado é menor que os 721 veículos roubados em Farroupilha, que tem 73 mil habitantes.
O alerta dos indicadores fica para o crime de estelionato. Em Caxias do Sul, o salto foi de 636 vítimas em 2011 para 4.074 pessoas enganadas por golpistas no ano passado — um crescimento de 540%. Na década, foram 17.680 vítimas de estelionato nas três cidades da Serra. O aumento dos casos é relacionado à popularização da internet. O maior número de golpes, segundo a Polícia Civil, acontece na compra e venda em sites de produtos usados e por redes sociais.
O que explica a redução dos crimes na década
:: Um dos principais fatores para os índices elevados de violência no início da década era a falta de integração entre as forças policiais da Serra. Mais do que não colaborarem, a Brigada Militar (BM) e a Polícia Civil disputavam espaço e poder. A rivalidade acontecia entre os comandos da forças policiais na época, influenciava os policiais nas ruas e foi nefasta para a segurança pública da região.
:: Outro fator considerável para o aumento da violência foi a evolução do crime organizado em direção ao tráfico de drogas. Inspirados por uma organização paulista, as facções criminosas se espalharam pelo Brasil. Na Serra, os primeiros sinais apontam para 2015 dentro das celas da Penitenciária Estadual do Apanhador, em Caxias do Sul. Foram as facções que elevaram os números de homicídios na Serra em sua busca por dominar a venda de drogas, além de facilitarem a chegada de armas e o comércio ilegal de veículos roubados.
:: O pico da violência da década aconteceu em 2016. A causa foram as medidas contra a crise das finanças públicas adotadas pelo governo José Ivo Sartori (PMDB), que incluiu o parcelamento de salários e o corte das horas-extras de policiais. O descontentamento dos servidores levou à paralisação de policiais civis e à tentativa de familiares de impedirem a saída de brigadianos dos batalhões, pois os policiais militares são proibidos de fazerem greve. Com menos policiais nas ruas, houve aumento de crimes.
:: A reação ao ano mais violento da década passou pelo uso da tecnologia e o aprimoramento da inteligência policial. É em 2016 que a Brigada Militar passa a usar o programa Avante, ferramenta digital que faz a análise automática dos índices criminais e apresenta o mapeamento dos crimes por local e horário em que ocorrem. Após um período de adaptação, o programa se tornou base das ações policiais. É de olho nestes dados que a BM distribui diariamente o seu efetivo pela cidade e planeja operações.
:: A rixa entre BM e Polícia Civil do início da década se resolveu com o tempo. Houve trocas de comando e a necessidade de dar uma resposta à sociedade diante dos índices crescentes de criminalidade. Hoje, a integração das forças policiais é exaltada como um diferencial. As conversas e trocas de informações são constantes, principalmente entre os setores de inteligência. Este apoio mútuo também ajuda a contornar a falta de efetivo policial, que é estimada em metade da tropa necessária. Por isso, a união da BM e Polícia Civil é base do programa RS Seguro, estratégia de governo adotada em 2019.
:: Sobre tecnologia, também é importante destacar o investimento privado em câmeras de segurança. Os equipamentos ajudam a prevenir e esclarecer crimes, sendo apontados como a principal explicação para as quedas de roubos, principalmente ao comércio. A evolução das câmeras ao longo da década facilitam o reconhecimento e a prisão de ladrões.