Um dos planos mais ousados da facção criminosa que domina o tráfico em cinco bairros em Caxias do Sul nunca teve êxito: matar policiais militares. A intenção do grupo surgiu como forma de resposta ao confronto na Vila Ipiranga, em 17 de outubro do ano passado, que terminou com quatro integrantes da organização mortos pela BM. A ideia era atacar dois policiais militares que, supostamente, trabalhariam como seguranças de um mercado no bairro Planalto em horas vagas.
Leia mais:
Operação Fratelli indicia facção criminosa que domina o tráfico em cinco bairros de Caxias do Sul
Após denúncia, 13 presos apontados como integrantes de facção são transferidos em Caxias
Para o plano, a facção encomendou uma Zafira blindada na Região Metropolitana. O veículo estaria em posse de um dos líderes da facção, Maicon Cristiano Borges, o Maicon Torto. A ação da inteligência policial, no entanto, conseguiu apreender o carro blindado com outro integrante do grupo, em 17 de novembro de 2016. Deiviti Anderson Paim Seben foi preso com diversas munições e com a Zafira no bairro Santa Fé. Seben estava em liberdade provisória e foi autuado por receptação. A partir dessa apreensão, o suposto plano de atacar PMs foi descartado pelos bandidos.
Recorde de homicídios em 2016 é relacionado à facção
A Polícia Civil relaciona a atuação da facção do Apanhador ao recorde de assassinatos no ano passado em Caxias do Sul – foram 150 mortes. A disputa por território teria provocado diversas execuções de rivais do grupo. A Polícia, no entanto, não estabeleceu quatro crimes foram ordenados pela facção. Um dos casos, porém, ficou escancarado por meio de um vídeo apreendido com os bandidos. Nas imagens, Felipe Sturcio Stumpf, 14 anos, é conduzido por um homem armado em um matagal na Linha 40, interior de Caxias do Sul. O adolescente teria pego drogas da quadrilha e recebeu a sentença de morte dos chefes do bando: levou dois tiros na cabeça. Deixado no mato, o corpo só foi achado um mês depois. Interceptações telefônicas também mostram que os líderes ordenavam assassinatos de outros traficantes ou ameaçavam quem não queria se juntar ao esquema.
Contudo, a onda de execuções parou bruscamente nos últimos 20 dias de dezembro. O relatório da Operação Fratelli apontou que houve a coincidência com o retorno de Daniel Gomes Paim à Penitenciária do Apanhador, de onde ele estava afastado desde 2015. A ordem do líder foi para que a facção retornasse para a discrição e parasse de se envolver em mortes.
A investigação aponta que entre a prisão de Paim em Santa Catarina, em 1º de novembro de 2016, e sua transferência, em 9 de dezembro, o comando da facção ficou a cargo do segundo escalão, pois o líder estava em um presídio catarinense sem acesso a celulares. Neste período, Caxias do Sul registrou média de duas mortes a cada três dias. Após o retorno de Paim, nenhuma morte violenta foi registrada até o final daquele ano.
Outra mudança drástica no cenário de violência da cidade neste ano também é relacionada à facção. Nos primeiros dois meses deste ano, foram registrados 26 assassinatos. Entre março e abril, apenas cinco – até o fechamento desta edição, já eram 27 dias sem homicídios em Caxias do Sul. Na avaliação da Polícia Civil, a redução é decorrência do cerco na fase final da Operação Fratelli. Ou seja, o grupo criminoso teria diminuído a atuação a partir de prisões e apreensões de drogas e armas.
Assassinatos e ameaças por telefone
Por meio de telefonemas com comparsas, um dos traficantes da facção criminosa que agia na Penitenciária Estadual de Caxias do Sul, no Apanhador, ordena a morte de rivais e ameaça quem não se unir ao grupo em Caxias do Sul. Dezenove integrantes da facção foram indiciados pela Polícia Civil. Confira os áudios:
Áudio 1: No dia 9 de janeiro, Jéferson da Silva, o Jé do Reolon, um dos líderes da facção denunciada pela polícia, coordena, por telefone, comparsas que receberam a ordem de matar um traficante rival no bairro Euzébio Beltrão de Queiróz.
Áudio 2: Como o traficante não foi encontrado, Jéferson da Silva determina a morte de um usuário de droga, vizinho do traficante. O crime não foi consumado porque o usuário fugiu.
Áudio 3: Em outro telefonema, no mesmo dia, Jéferson da Silva conversa com Paulo Roberto Maciel de Jesus, que teve o ponto de drogas tomado pela facção no bairro Euzébio Beltrão de Queiróz. Jéferson da Silva faz ameaças a Paulo Roberto: