Três pessoas são enganadas por golpistas a cada dia em Caxias do Sul. Esta foi a média apresentada pela Polícia Civil, que alerta para o crescimento dos casos virtuais. Até o dia 5 de fevereiro, foram registrados 110 estelionatos. A maioria dos golpes ocorre por meio de celulares e redes sociais, sem haver contato da vítima com o golpista, o que dificulta a identificação e prisão dos autores. Por isso, a Polícia Civil ressalta que conhecer como funcionam os golpes é a melhor forma de prevenção.
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O delegado Luciano Pereira, da 3ª Delegacia de Polícia, aponta que golpe mais comum neste início de ano é o do falso comprador de produtos usados, um dos tantos estelionatos praticados pelo meio virtual:
— O que verificamos na leitura das ocorrências é que o crime (de estelionato) está migrando do presencial para o virtual. É uma tendência que aparece na cidade. Não precisa a presença, basta um telefone celular e esta pessoa começa a aplicar com golpes. Anuncia, conversa, negocia e pega as informações da vítima por redes sociais.
Para dar veracidade à negociação, o estelionatário encaminha imagens de documentos e cartões de banco, que geralmente são de uma vítima anterior. Com editores de imagens, os criminosos falsificam transferências bancárias. Outra forma de enganar o vendedor é o velho depósito do envelope vazio (leia abaixo).
— O que caracteriza esse tipo de golpe é a velocidade. É muito pouco tempo entre a negociação, o pagamento e o freteiro chegando para buscar o objeto. Eles não dão tempo para a vítima pensar, porque, se pensar, perceberá que alguma coisa está estranha — aponta o delegado Pereira.
OS 10 GOLPES MAIS APLICADOS
:: Falso comprador de produtos usados
O estelionatário busca objetos de seu interesse em sites de anúncios de produtos usados ou nas redes sociais. O mais comum são celulares, mas também há registros de veículos e produtos que podem ser usados em outros crimes.
As negociações ocorrem em aplicativos de mensagens e nunca de forma pessoal. O estelionatário se passa por outra pessoa, geralmente uma vítima anterior que forneceu fotos de seus dados bancários e documentos de identidade.
Fechada a negociação, o estelionatário envia um comprovante de uma transferência falsificada ou de um depósito efetuado em caixa eletrônico (envelope vazio) e, imediatamente, informa que um parente ou um amigo irá buscar o objeto. Na verdade, quem busca é um freteiro contratado legalmente e que não sabe da armação.
A característica deste golpe é a velocidade entre o pagamento e a busca do objeto, além da pressão feita pelo "comprador" para receber logo o produto. Quando o vendedor percebe o golpe, o estelionatário costuma fazer ameaças para que a vítima ainda assim encaminhe o objeto.
:: Conto do bilhete premiado
Um dos golpes mais antigos, mas que continua a fazer vítimas na Serra. Os estelionatários agem em duplas e possuem roteiro para enganar seus alvos, a maioria idosos.
O golpe costuma ocorrer em locais de grande fluxo de pessoas, como praças e regiões comerciais ou com vários bancos. O primeiro estelionatário a abordar a vítima se finge de uma pessoa humilde. Após pedir informações, diz que ganhou um prêmio, mas precisa de alguma ajuda para resgatar o valor.
Logo, aparece o segundo golpista, uma pessoa bem vestida e disposta a ajudar. Como prova de confiança, ele oferece uma mala de dinheiro para o "humilde" e pede para que a vítima faça o mesmo. Acreditando que vai receber uma recompensa maior, a vítima acaba repassando valores.
:: Falso sequestro
Este golpe por telefone é aplicado com base nas informações obtidas da própria vítima. O estelionatário liga aleatoriamente para telefones e, quando é atendido, afirma que sequestrou um parente da vítima.
Com ameaças e aproveitando do pânico que a vítima sente no momento, os golpistas exigem dinheiro para liberar o "parente". É comum, ao fundo, os criminosos imitarem agressões e gritos de dor para exercer ainda mais pressão na vítima ao telefone.
:: Torpedo premiado
Outro golpe antigo, que ficou conhecido por mensagens de celular (SMS). Hoje, também ocorrem por redes sociais e e-mail. A vítima recebe uma mensagem informando que foi contemplada em um sorteio e tem direito a um prêmio, mas para isso é preciso ligar para um determinado telefone.
Os criminosos simulam uma central de atendimento e convencem a vítima a depositar valores em várias contas como encargos. A vítima só percebe que caiu no golpe após vários depósitos.
:: Publicidade em lista telefônica
Os golpistas ligam para empresas oferecendo gratuitamente serviço de propagandas em sites de listas telefônicas, que, supostamente, são muito acessados.
Após a empresa aceitar, é enviado um e-mail para confirmar os dados e a assinatura da vítima. Por não ler o conteúdo, a vítima assina um contrato com valores elevados.
Após alguns dias, a vítima recebe uma ligação do estelionatário com ameaças de protesto da dívida e cadastro em listas de devedores. Para "não sujar seu nome", a vítima aceita um acordo e paga a suposta dívida aos estelionatários.
:: Falso problema mecânico
Outro golpe por ligação telefônica. A vítima recebe uma ligação sobre um parente que quebrou o carro na estrada e procurou uma oficina, mas esqueceu a carteira em casa. Os golpistas pedem que a vítima deposite o valor do conserto na conta do suposto mecânico, pois o parente irá o devolver o dinheiro depois.
:: Sites de compras ou de empréstimos falsos
A vítima procura em sites de pesquisas algum produto ou empréstimo pelo preço mais vantajoso, mas não tem os cuidados necessários na internet.
No caso do empréstimo, o estelionatário exige vários depósitos de dinheiro para pagamento de taxas.
No caso das compras, é emitido um boleto que contém o código de barras de uma compra realizada pelo próprio estelionatário e não a compra da vítima. Após o pagamento do boleto, geralmente o site é deletado.
:: Falso boleto
Por meio de um vírus instalado por sites duvidosos, o estelionatário começa a coletar dados do computador da vítima e aguarda a vítima fazer uma compra pela internet. Na sequência, o golpista envia um segundo boleto da compra para o e-mail da vítima, oferecendo um desconto. Este segundo boleto é falso e se refere a uma outra compra feita pelo estelionatário. Ou seja, a vítima paga uma compra do golpista e não efetua o pagamento da sua compra.
:: Fishing (pesca em inglês)
É uma fraude eletrônica em que os criminosos tentam adquirir dados pessoais das vítimas, como senhas e informações bancárias. O golpista se faz passar por uma empresa ou um ente público confiável e entra em contato por mensagem de redes sociais ou e-mail. O contato inclui um link que dá acesso a uma página falsa ou para instalação de um vírus.
:: Falso teste da máquina de cartões e de recargas
O estelionatário telefona para a vítima fingindo ser o funcionário da empresa responsável e informa a necessidade de fazer uma atualização no aparelho. Com os códigos passados pelo criminoso, o funcionário habilita a máquina para recargas de celular.
Na sequência, o estelionatário diz que é preciso fazer alguns testes e que irá resetar o aparelho depois. Esses testes, na verdade, são recargas para vários celulares, geralmente com valores altos.
FIQUE ATENTO
:: O envelope vazio
O depósito do envelope vazio não é um golpe específico, mas um meio de enganar as vítimas. Este depósito é feito em caixas eletrônicos, onde é informado o valor combinado com a vítima ou até maior. Este valor aparece no extrato como "a compensar", porém muitas vítimas acreditam que o dinheiro já entrou e concluem a negociação. O depósito, contudo, só é compensado após o banco verificar o envelope — que, neste caso, está vazio e a transação é cancelada.
Este truque, que pode ser utilizado em diversos enredos de golpes, é mais utilizado antes de finais de semana ou feriados, pois o banco só irá verificar o envelope no próximo dia útil.