A vigilância permanente no entorno de bares e boates do Largo da Estação Férrea, em Caxias do Sul, começa na sexta-feira à noite. Essa é uma nova tentativa de acabar com a insegurança do local, que teve mais um episódio de violência na madrugada de sábado passado, quando um jovem foi assassinado durante uma briga. Nos últimos 10 anos, outra pessoa também morreu e pelo menos 11 ficaram feridas em brigas ou em assaltos na área das ruas Os Dezoito do Forte e Doutor Augusto Pestana, no bairro São Pelegrino. A ação deve contar com um efetivo de cerca 20 servidores, que irão abordar pessoas e veículos com atitudes suspeitas, além de fiscalizarem os estabelecimentos comerciais da área de lazer.
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Uma medida que será adotada nesta primeira etapa da operação e que deve desagradar comerciantes e o público que frequenta a Estação Férrea é a proibição de estacionamento aos finais de semana no Largo e num trecho da Coronel Flores. Regra semelhante havia sido adotada em 2010, mas acabou sendo descartada poucos meses depois a pedido dos donos de casas noturnas.
De acordo com o secretário municipal de Segurança Pública e Proteção Social, José Francisco Mallmann, o formato da operação ainda não está completamente definido. O que se sabe é que a ação deve durar quatro horas e abrangerá, principalmente, a Rua Coronel Flores, entre a Doutor Augusto Pestana e a Os Dezoito do Forte.
– Ainda estamos ajustando e analisando como iremos trabalhar. O principal objetivo é garantir a segurança de quem vai até a Estação Férrea para se divertir. É nisso que estamos focados e unindo forças para concretizar – explica Mallmann.
Além disso, fiscais de trânsito irão realizar uma blitz no entorno do bairro São Pelegrino com foco em motoristas que dirigem sob efeito de álcool.
– É a abordagem normal da Lei Seca. Pode ocorrer em qualquer ponto da cidade. Mas, neste final de semana, vai ser na Estação Férrea – afirma o secretário.
A força-tarefa inclui Brigada Militar, Guarda Municipal e Secretaria de Trânsito. Policiais rodoviários, conselheiros tutelares e fiscais da Secretaria de Urbanismo também participam.
Jovens querem mais debate
O Conselho Municipal da Juventude de Caxias do Sul (Comjuve) reivindica a participação no debate sobre a falta de segurança na Estação Férrea. Conforme o presidente Yuri Martins, 20 anos, os jovens são as principais vítimas dos problemas que cercam o bairro São Pelegrino, porém, não foram chamados pela prefeitura para discutir o assunto e dar sugestões.
– Queremos dialogar, mostrar o que vemos do local e de que forma podemos ajudar. Mesmo manifestando interesse em participar do debate, ninguém nos chamou. Ficamos como meros expectadores de um problema em que somos os principais alvos – questiona o presidente.
Martins também reitera que algumas atitudes dos frequentadores da área de lazer precisam mudar, mas reforça que o público jovem se sente marginalizado, principalmente, pela visão que a cidade tem sobre as turmas que ocupam a área para se divertir. Ele também cita os preços de entrada cobrado pelos bares como o principal estímulo para que os jovens permaneçam no lado de fora.
– Duvido que alguém vá para lá com a intenção de arrumar confusão ou praticar algum crime. Isso não é culpa do jovem, é culpa do poder público que não nos oferece uma segurança efetiva.
‘Ninguém precisa ter medo’, pondera empresária
Em 2002, quando membros da família Tondo idealizaram o Largo da Estação, eles não imaginavam que o lugar se transformaria no maior ponto de encontro dos jovens de Caxias do Sul e com tantos problemas. A empresária e presidente da Associação Amigos do Largo da Estação (AALE), Eloisa Tondo, conta que o espaço foi projetado para atrair o turismo para a cidade e como um ponto de lazer seguro.
– Em hipótese alguma eu poderia imaginar que todos esses problemas iriam aparecer. A ideia era criar um espaço de lazer tranquilo, onde as pessoas pudessem se divertir, jogar conversa fora e fazer compras eventuais, por exemplo. Nada do que acontece hoje passou pela minha cabeça – diz ela.
A imagem de que a Estação Férrea é um local violento entristece os idealizadores do espaço, que há anos, ao lado de empresários e moradores do entorno do bairro São Pelegrino, cobram apoio permanente das autoridades. Porém, com o lançamento de uma operação permanente, renova-se a esperança de que o projeto original se torne realidade.
– Fazemos tudo que podemos por esse local, tanto financeiramente, como disponibilizando tempo, ideias e afeto. Como moradora do bairro desde que nasci, sei do quanto São Pelegrino cresceu com a restauração do Moinho da Estação. Estou otimista com a operação – ressalta Eloisa.
A presidente da AALE também afirma que a presença dos policiais não irá afastar o público da Estação Férrea.
– Ninguém precisa ter medo da polícia. O policial está ali para proteger e não para afastar as pessoas. Quem vem aqui (no Largo), que se sinta protegido – reforça Eloisa.
Um exemplo que deu certo
Montada em frente aos Arcos da Lapa, ponto turístico da área central do Rio de Janeiro, a Operação Lapa Presente é exemplo de que a união de órgãos de segurança reduz os índices de criminalidade. Em apenas três anos de força-tarefa, 5.137 pessoas foram presas em flagrante, sendo 423 por roubo e furto, e 596 foragidos da Justiça capturados. Os números são do Instituto de Segurança Pública (ISP).
Graças a força-tarefa, que ocorre desde janeiro de 2014, a realidade de assaltos e confusões nas noites do bairro mais boêmio do Rio mudou. A rotina de violência foi alterada pela presença de policiais nas ruas, que patrulham diariamente a região a pé, de bicicleta e em viaturas. Identificados por braçadeiras e equipados com rádios de comunicação, os policiais circularam pela Lapa diariamente.
Nos primeiros dois anos de operação, houve queda de 95% dos roubos na região e 93% dos registros de furtos. Novos bares abriram e, com o aumento de segurança, muitos turistas e moradores da região voltaram a frequentar o bairro.