Mais de 48 horas depois do acidente aéreo que matou 10 pessoas da mesma família em Gramado, na Serra, destroços da aeronave ainda são encontrados nas ruas e nos pátios das casas. O material aparece principalmente com a limpeza e reforma dos locais que tiveram estragos provocados pelo abalo da queda no domingo (22). Após as autoridades encerrarem os trabalhos no ponto exato do acidente, agora são os donos de casas e estabelecimentos do entorno que reorganizam os espaços.
Localizado praticamente em frente à loja de móveis destruída com a queda, mas do outro lado da Avenida das Hortênsias, uma revenda de carros aberta há 20 dias poderá voltar a funcionar somente a partir do dia 16 de janeiro. Os vidros da fachada ficaram todos quebrados, e a instalação poderá ser concluída apenas no mês que vem devido ao período de férias que impacta com os fornecedores do material.
A empresa contratada realizava nesta terça-feira (24) a instalação de tapumes, que vai dar mais segurança ao local até a chegada dos vidros, que totalizam 60 metros cúbicos. A dona do estabelecimento, Deisi Freitas, ainda não calculou o prejuízo com a fachada, mas já sabe que os danos em quatro automóveis de luxo que ela tinha no local somam R$ 400 mil.
— São carros que não podem ser consertados na chapeação, precisam de peças novas. Tiramos eles daqui e contratamos um segurança. Hoje (terça) eu estou bem, mas ficamos bem abalados. Era para ter uma pessoa fazendo limpeza aqui no domingo de manhã, mas cancelei pouco tempo antes porque achei que ia ter mais sujeira depois e podia ter a faxina mais adiante — relatou ela, que disse não ter seguro dos veículos.
A vidraçaria contratada por Deisi é de Nova Prata e atendeu outros três estabelecimentos do entorno, todos com danos provocados pela queda da aeronave. Com tanta demanda, faltou material. Uma montanha de cacos de vidro está em frente ao estabelecimento aguardando o descarte correto.
— Deixamos de lado outros pedidos para atender aqui. Negociamos com alguns clientes e explicamos que era mais urgente. Mas por ser um período de férias, não vamos conseguir deixar tudo pronto. Fizemos a limpeza, tiramos o que estava em risco e vamos voltar a partir do dia 6 de janeiro — projetou o dono da vidraçaria, Tiago Oliveira.
Se em frente às lojas os cacos de vidro ainda permanecem, nas ruas é possível encontrar destroços da aeronave Piper Cheyenne, que decolou do aeroporto de Canela. O empresário Ricardo Sulzbach fazia nesta manhã a limpeza do pátio e a reforma de telhas atingidas por destroços do avião. Ele mora quase ao lado de um prédio em construção, que foi o primeiro dos três imóveis atingidos pelo avião antes de tocar no solo e explodir.
— Trocamos algumas telhas que ficaram rachadas e vamos trocar duas placas de energia solar, que também foram atingidas por destroços. Uma das partes do avião ficou em cima de uma árvore, outros estavam no pátio. Ontem (segunda) o tempo ainda estava fechado e hoje duas pessoas vieram me ajudar — descreve Sulzbach, que mora há 30 anos no endereço.
Ele contou também que notou que algumas plantas do jardim morreram devido ao querosene que caiu da aeronave. Na manhã de domingo, o empresário estava tomando café da manhã quando ouviu o barulho do avião.
— Foi um barulho muito forte, se percebia que era um avião que estava dando potência máxima e que voava muito baixo. Depois vejo o estouro. Aqui é uma rota de aviões, mas que não voam tão baixo. E tinha uma neblina muito forte — relembra.
Cenipa investiga causas e pousada é interditada
Nesta terça, o cenário do local do acidente é de normalidade. O trânsito na Avenida das Hortênsias flui normalmente e não há equipes trabalhando no local da queda - apenas uma empresa de internet reinstalava nesta manhã cabos danificados.
Os materiais do avião coletados no local do acidente estão sendo enviados para o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que investiga o caso e deve emitir laudo explicando o que causou o acidente. Ao mesmo tempo, a Polícia Civil também apura se algum crime pode ter contribuído.
Sobre o local do acidente, a pousada e uma residência foram interditadas pelo Corpo de Bombeiros Militar. A casa é de Cláudio Sander, 80 anos, que retirava alguns pertences nesta manhã. De acordo com o Coronel Maurício Ferro, do Corpo de Bombeiros Militar de Gramado, a liberação dos locais somente será feita após avaliação por profissional de engenharia ou arquitetura que avalie as estruturas e defina que não há risco.
— Pelo que vimos no local (do acidente), há um considerável dano na edificação, proveniente do choque da aeronave e da explosão, que provavelmente comprometeram a estrutura da parede lateral e telhado. Alem disso, na pousada, teve partes que foram atingidas pelas chamas — afirmou.
Além das 10 pessoas que morreram, 17 ficaram feridas. Quinze tiveram alta e duas permanecem em estado grave em hospitais de Porto Alegre. Uma mulher de 51 anos, com 30% do corpo queimado, permanece na UTI de queimados, sedada e com ventilação mecânica. O outro paciente também permanece em estado grave, mas estabilizada, segundo informações do hospital.