“As futuras gerações não precisam passar pelo que a gente passou e ainda passa”. A frase do professor Fernando da Silva Lopes, 40 anos, é carregada de memórias de sua experiência ainda como estudante.
A falta de referências negras dentro das salas de aula e nos conteúdos trabalhados, despertou em Lopes o ímpeto de transformar a realidade a partir da educação. Por isso, desde 2022 ele tem desenvolvido uma série de projetos abordando as questões raciais em sua atuação na rede pública de Caxias do Sul.
Atualmente professor de Filosofia da Escola Estadual de Ensino Médio Evaristo de Antoni, Lopes tem envolvido os alunos do Ensino Fundamental, Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) em atividades de reflexão e de cunho antirracistas.
— Tudo começou em 2019, quando fizemos uma viagem até Pelotas. Conhecemos na cidade um espaço com uma antiga senzala e uma casa grande. O cenário permitiu que os alunos tivessem uma noção real do que foi a escravatura — lembra Lopes.
Depois da pandemia, em 2022, o professor decidiu então implementar um novo projeto na escola. Inspirado em um curso de extensão sobre o cinema negro, Lopes propôs aos estudantes que produzissem curtas-metragens abordando a temática racial. A primeira edição rendeu 25 trabalhos, produzidos por cerca de 500 alunos. No ano seguinte, em 2023, o projeto foi replicado.
— O letramento racial, como esse feito com os curtas, fala sobre identidade. Tem muitos alunos negros que não se reconhecem, que não conseguem se encaixar. Então, trabalhar essas questões antirracistas dentro da sala de aula mostra a eles a cultura do povo negro, sua luta e resistência — explica.
Relatos de resistência
Nesse ano, a atividade ganhou um novo formato: entrevistas com personalidades negras. Os relatos de resistência e superação foram entregues nessa semana e serão disponibilizados em plataformas de vídeo para o acesso de toda a comunidade.
— A gente percebe que os alunos começaram a entender a questão racial de forma diferente. Embora ainda tenham episódios, os casos de racismo na escola diminuíram. Os pais se emocionaram com a apresentação dos curtas e, claro, tem todo o engajamento dos alunos nos trabalhos — avalia.
O espaço de fala para as personalidades negras se tornou ainda mais simbólico nesse ano. Isso porque parte das entrevistas será publicada hoje, dia 20 de novembro. A data faz alusão ao Dia da Consciência Negra e a Zumbi dos Palmares, líder quilombola. Para Lopes, o feriado é um momento de reflexão sobre qual sociedade precisa ser construída.
— Que seja uma data que permita às pessoas se unirem contra o racismo estrutural e contra a violência. Meu desejo é que no futuro a gente não veja notícias de negros sendo mortos, sendo discriminados. Que tenhamos mais professores negros em sala de aula, mais alunos conscientes de seu lugar e uma sociedade em que as pessoas se amem pelo que são.