Canela e Nova Petrópolis são os primeiros municípios da Serra a receber o estudo de áreas de risco desenvolvido pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB). O projeto, que começou em outubro deste ano, quando equipes do SGB estiveram nos municípios, teve a primeira leva de relatórios entregues no início de dezembro. Além dessas duas cidades, Caxias do Sul, Cotiporã, Gramado, Guaporé, Santa Tereza, São Valentim do Sul e Veranópolis serão beneficiadas com o projeto.
Conforme a SGB, em Canela foram identificadas 33 áreas de risco depois dos eventos extremos registrados em setembro de 2023 e em maio de 2024. O levantamento também apontou que 7,5 mil pessoas vivem em áreas de risco alto ou muito alto com possibilidade de inundações ou deslizamentos.
Em Nova Petrópolis o estudo indicou 30 áreas com risco alto e 38 áreas com risco muito alto suscetíveis a deslizamentos, inundações, enxurradas, quedas de blocos e rastejos (movimento lento e contínuo do solo). O relatório indica que a zona rural foi a mais atingida durante o período de chuva e que ainda pode apresentar instabilidade de encostas ou enxurradas.
Segundo a SGB, em um aspecto geral, os riscos mapeados nas cidades estão relacionados com características naturais da região e casos de ocupação irregular do território. Para isso, o documento recomenda ações de segurança, como sistemas de monitoramento e alerta de desastres, sistemas de drenagem fluvial e desenvolvimento de políticas públicas de ordenamento territorial.
— Os gestores municipais terão subsídios técnicos para a tomada de decisões para o planejamento territorial e para realizarem intervenções que podem ser estruturais, como obras de contenção de encostas. Além disso, terão conhecimento para inibir a ocupação de áreas que oferecem riscos à população — detalha o chefe do Departamento de Gestão Territorial, Diogo Rodrigues.
Nova Petrópolis adota primeiras medidas preventivas
Desde que teve acesso ao relatório da SGB, a prefeitura de Nova Petrópolis já identificou medidas preliminares e iniciou obras de prevenção. De acordo com o responsável pela Defesa Civil do município, Lucas Attmann, espaços da área urbana foram os primeiros a receber intervenções.
— Na Rua da Usina, que é uma via que liga o Centro aos bairros, fizemos a recomposição do talude na encosta, para evitar que não haja mais deslizamentos e que o pessoal fique isolado da área central. Na Rua Argentina, no bairro Imperial, também refizemos o talude em uma área que pertence à prefeitura, mas que acabou registrando deslizamentos que atingiram uma residência — explica.
Em paralelo, a administração vem tendo reuniões para orientar os moradores sobre ações preventivas em terrenos particulares e protocolos de evacuação de áreas de risco. Ainda, o estudo da SGB tem guiado a criação de novas diretrizes para as construções em Nova Petrópolis.
— Determinamos, via projeto de lei, que as áreas suscetíveis à movimentos de massa ou inundação requerem o envolvimento de um geólogo para analisar a área. Só então os projetos de novas residências poderão ser feitos. Outra mudança é o Plano Diretor da cidade, que está sendo revisado. No novo texto, está prevista a inclusão das áreas suscetíveis a deslizamentos e inundações. A partir disso a prefeitura vai cobrar dos munícipes bom uso da área — comenta.
Em Canela, prefeitura prepara ações iniciais
Apesar de ter recebido o estudo da SGB recentemente, a administração de Canela estima que o interior do município seja a localidade com maior volume de demandas preventivas. Segundo o coordenador da Defesa Civil de Canela, Marcelo Fogaça Rodrigues, a administração ainda trabalha para restabelecer as vias da zona rural.
— Tivemos um restabelecimento provisório dos acessos. Vamos usar o estudo do SGB para avaliar quais medidas serão adotadas e as regiões que devem ser priorizadas. Possivelmente, as ações serão executadas pela próxima administração — prevê.
Na área urbana, Rodrigues indica que a área da pedreira, no bairro Santa Marta, já recebeu ações iniciais. Considerada área de alto risco, o espaço teve as 68 famílias que residiam no local retiradas. O projeto da prefeitura de Canela é tornar o espaço uma área de preservação ambiental.
— Depois da implantação dessa área de preservação, é preciso manter o monitoramento para que o espaço não seja invadido e outras residências sejam construídas. Aliado a isso, vamos usar o estudo do SGB como base para manter a vigilância nas áreas da cidade indicadas como mais propensas a sofrer alagamentos e deslizamentos — explica.