Os três primeiros meses deste ano registraram um recorde de casos confirmados de dengue em cidades da Serra desde o início da série histórica, em 2015, quando os dados começaram a ser contabilizados pela Secretaria Estadual da Saúde (SES). Os números, que apontam 170 casos confirmados em Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha e Gramado, seguem a tendência do país, que já passou dos 2 milhões de casos.
Conforme a última atualização da SES, neste domingo (31), Caxias do Sul chegou a 54 casos. O número supera o mesmo período do ano passado, quando a cidade estava com 10 pacientes confirmados. A situação se repete em Bento Gonçalves, que nos primeiros três meses do ano já registra 40 casos enquanto que, no ano passado, 16 pessoas haviam sido infectadas entre janeiro e março.
No caso de Farroupilha, os números deste ano podem não chamar tanta atenção: são 18 casos. Entretanto, desde o início da série histórica, o município só havia tido pacientes confirmados de dengue nos primeiros três meses do ano em 2022 e 2023, quando uma e duas infecções foram confirmadas, respectivamente.
Em Gramado, na Região das Hortênsias, a cidade mais turística do Estado já registrou 58 casos de janeiro a março. Assim como Farroupilha, conforme a série histórica, os únicos anos que tiveram registros de casos nos primeiros três meses do ano foram 2022 e 2023, com 15 e sete, respectivamente.
Os dados mostram que nunca houve tantos casos de dengue registrados na Serra em um trimestre como o que está sendo visto neste ano.
Medidas para conter o aumento
Caxias do Sul
Com 420 focos do mosquito e os 54 casos de dengue confirmados, Caxias decretou situação de emergência na segunda-feira (25) por conta da proliferação do Aedes aegypti. O município havia atingido 43 casos já no dia 21 de março, mesmo número registrado em todo o ano passado.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a situação na cidade neste ano é vista com preocupação. Com o decreto, o município tem respaldo para entrar em pátios de residências e em terrenos baldios para verificar a presença de criadouros do mosquito, assim como, se for necessário, requisitar leitos aos hospitais da rede privada.
Ainda segundo a secretaria, a principal forma de combate à dengue em Caxias continua sendo a atuação forte e insistente contra o mosquito transmissor. Por este motivo, a Vigilância Ambiental em Saúde mantém o trabalho de orientação, fiscalização e controle, contando com o apoio da população.
Bento Gonçalves
Em Bento Gonçalves, ações de combate ao mosquito estão sendo feitas diariamente. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, os agentes de endemias fazem visitas em espaços públicos, casas, empresas e outros locais com possíveis criadouros. Entre as ações estão ainda a pulverização em pontos que já registraram casos da doença e o mapeamento de locais com maior quantidade de lixo para atividades de "bota-fora", em que os moradores podem descartar materiais que podem se tornar criadouros.
Ainda conforme a secretaria, ações educativas estão sendo realizadas em instituições de ensino, como a apresentação de teatro sobre trabalhos que auxiliem na prevenção do mosquito da dengue. Assim como em Caxias, para as autoridades de Bento a melhor forma de combater o aumento de casos é prevenir os criadouros por meio da informação.
Farroupilha
Os casos confirmados em Farroupilha deram impulso para atividades desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Saúde. As ações contam com mutirões de recolhimento de criadouros, capacitação de alunos das escolas como multiplicadores na prevenção de dengue, atividades de conscientização na escola junto com o Programa Saúde na Escola (PSE) e fumacê em locais com casos confirmados.
Além disso, a prefeitura tem intensificado atividades dos agentes de combates de endemias, realizado o Dia D de Combate à Dengue com pedágio educativo e ofertando testes rápidos NS1 em todas as unidades de saúde. Segundo a SMS, a situação também é vista com preocupação, mas o órgão continua trabalhando para que a situação não piore.
Gramado
De acordo com o secretário de Saúde de Gramado, Jeferson Moschen, além das ações de combate, o município se prepara para receber incentivo de novos profissionais que devem começar a atuar na cidade para tentar conter o avanço dos casos. Ainda não há previsão para a chegada dos novos agentes.
—Nós trabalhamos com toda a estruturação das equipes de campo, estamos fazendo muitas ações e o trabalho de detecção está sendo grande. Isso mostra o trabalho de notificação dos casos. Além disso, estamos licitando uma empresa para selecionar mais agentes de saúde, agentes de endemias e também um ajuste para contratar mais equipes para enfrentar e aliviar junto aos possíveis gargalos do hospital e do nosso Centro de Atendimento Integrado a Saúde (CAIS) — afirma o secretário.
Entre as ações de combate, o Dia D e a nebulização em locais com possíveis focos do mosquito.
Vacinas
De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (SES), o Rio Grande do Sul ainda não recebeu vacinas do Ministério da Saúde (MS) para que ocorra a distribuição do imunizante por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, os Estados que estão com a vacina disponibilizada pelo SUS são Acre, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.
Atualmente, a vacina está disponível na rede privada de Caxias do Sul e pode ser comprada por valores que variam entre R$ 309,99 e R$ 400 a aplicação. Segundo a SES, atualmente, não há previsão do imunizante estar disponível gratuitamente no Estado.
Covid, dengue e influenza: saiba como identificar sintomas e diferenciar as doenças
Dor no corpo, febre e mal-estar. Esses sintomas comuns, que geralmente apontam a chegada de um resfriado, também são indicativos de três doenças com alta de casos: covid-19, dengue e influenza.
Apesar das semelhanças, é possível distinguir as infecções observando outros sinais. Conforme a infectologista Anelise Kirsch, os sintomas respiratórios são o que determinam se o caso se trata ou não de dengue.
— Pessoas com dengue não apresentam secreção nasal, mas geralmente têm febre alta, dor no corpo e em toda a cabeça, especialmente atrás dos olhos. Ainda, quadros com dor de barriga, diarreia, náusea e falta de apetite podem ocorrer. Essa doença tem características muito específicas, que são fáceis de identificar. Inclusive o próprio paciente consegue atestá-los pela intensidade – explica.
Já a covid-19 e a influenza, consideradas síndromes respiratórias, só podem ser confirmadas através de exame clínico. Isso porque os distúrbios no corpo são os mesmos.
— É muito comum que pacientes com covid ou influenza apresentem febre, que pode ser baixa ou alta, secreção nasal, dor de garganta, tosse, espirros e dor frontal na cabeça, na região da testa. Nesses casos, exames laboratoriais são indispensáveis para um diagnóstico preciso – esclarece.
A infectologista orienta que antes de procurar por testes rápidos em farmácia, a pessoa com suspeita de covid-19, influenza ou dengue deve consultar com um médico. A mesma orientação é válida para a automedicação que, em casos suspeitos de dengue, deve ser tratada com ainda mais cautela.
— Medicamentos anti-inflamatórios, como Ibuprofeno, Nimesulida, Aspirina, Prednisona e Diclofenaco, não devem ser tomados quando há chance de o paciente ter contraído dengue. Todos esses remédios agravam o quadro da doença, sobretudo da dengue hemorrágica.
Anelise alerta que pessoas com sintomas de dengue, que estejam em tratamento com os medicamentos citados, devem buscar orientação médica imediatamente.
Atenção redobrada com grupos de risco
Crianças menores de cinco anos, idosos com mais de 65 anos, gestantes e pacientes com doenças prévias estão entre os mais vulneráveis às doenças citadas. Por isso, o cuidado com sintomas pode ser decisivo para o diagnóstico e tratamento adequado.
Foi o que aconteceu com Guilherme Lamb Boldrin, dois anos, que no final de fevereiro foi picado por um mosquito e começou a ter sintomas de dengue.
— Passaram três dias da picada, o Gui começou a ficar mais prostrado e reclamar de dor de barriga. Notei que ele teve diarreia e as fezes dele estavam com uma cor estranha. Quando levei no pediatra, vários exames foram feitos, inclusive o da dengue. O resultado deu positivo para a doença. Também descobrimos adenite mesentérica, uma inflamação abdominal – conta Nicole Julita Lamb Saboleski, mãe do menino.
Como não apresentou febre e as características manchas vermelhas, Guilherme não precisou ser medicado. A recuperação ocorreu gradativamente, com hidratação constante e acompanhamento dos pais e pediatra.
— Ele ficou por uma semana com sintomas e se recuperou bem. Aqui onde moramos há focos do mosquito da dengue. Já vi vários perto de casa. Por isso, logo que ele começou a se sentir mal, achei melhor fazer o exame para ter certeza.