Antes de completar os três primeiros meses de 2024, Caxias do Sul atingiu nesta quinta-feira (21) o mesmo número de casos de dengue confirmados em todo o ano passado. Segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES), atualizados por volta das 9h, o maior município da Serra já chegou a 43 pessoas infectadas.
Conforme os dados, analisados pelo Pioneiro, dos casos confirmados neste ano, 20 são autóctones, ou seja, foram contraídos no próprio município. Em 2023, das 43 pessoas infectadas entre janeiro e dezembro, 14 haviam contraído a doença dentro de Caxias do Sul.
Desde que os dados começaram a ser contabilizados pela SES, em 2015, nenhum morador da cidade morreu por causa da dengue. Na última quarta-feira (20), o Rio Grande do Sul chegou a 29 mortes registradas em 2024. No ano passado, o Estado teve 54 pessoas mortas em decorrência da dengue. O Rio Grande do Sul está entre os Estados brasileiros que decretaram situação de emergência em saúde pública por causa da doença.
O número de casos confirmados nos primeiros três meses de 2024 chamam a atenção para o aumento histórico de pessoas infectadas em Caxias em um curto período de tempo. Para se ter uma ideia, desde 2015, os primeiros três meses dos anos anteriores não registraram nem a metade dos casos confirmados este ano em Caxias do Sul.
De acordo com a diretora da Sociedade Gaúcha de Infectologia, Viviane Buffon, o aumento de casos é multifatorial. Ou seja, existem diferentes fatores envolvidos para os dados registrados durante este ano.
— Entre os fatores estão as mudanças climáticas, chuvas, saneamento básico precário, acúmulo de lixo em áreas de periferia, a circulação dos quatro sorotipos do vírus, assim como o crescimento das cidades de forma não planejada — pontua Viviane.
Os quatro sorotipos da dengue mencionados pela infectologista são denominados Denv-1, Denv-2, Denv-3 e Denv-4, que apresentam diferentes materiais genéticos e linhagens, segundo o Ministério da Saúde. Os sorotipos podem causar a forma clássica da doença ou evoluir para quadros mais graves, levando os infectados à morte.
— Os principais riscos para a população estão relacionados aos casos de maior gravidade com comprometimento sistêmico e risco de hemorragias associadas a choque circulatório. Os pacientes multimórbidos, que têm dois ou mais problemas de saúde, podem apresentar maior risco de complicações. As pessoas, quando são infectadas, podem apresentar a forma clássica da dengue, que envolve sintomas mais leves, ou as formas mais graves, que necessitam de cuidados em hospitais e unidades de terapia intensiva — explica a infectologista.
Para conter o aumento de casos confirmados, diferentes ações podem ser feitas no município. Conforme Viviane, eliminar reservatórios de água que possam ser usados pelos mosquitos e usar inseticidas apropriados para evitar a picada são alguns deles. A infectologista menciona ainda a vacina contra a dengue, que já está disponível na rede privada de Caxias do Sul por valores que variam entre R$ 309,99 e R$ 400 a aplicação.
Ações feitas pelo município
A assessoria de imprensa da prefeitura de Caxias afirmou que tem feito ações para conter o avanço dos casos de dengue na cidade. Entre as medidas, cerca de 60 agentes da Vigilância Epidemiológica são enviadas diariamente para locais onde há denúncias de água parada e também fazem vistorias em bairros.
"Temos ações com drone da Guarda Municipal para os locais de difícil acesso ou para os locais de denúncia, como casos de imóveis abandonados. Além de panfletagem e orientação para a comunidade via imprensa e redes sociais porque a orientação à comunidade é o principal, visto que o combate só vai ser eficiente quando cada cidadão fizer sua parte porque a vigilância não tem como ir em todos os imóveis", afirmou o órgão.
Além disso, em casos específicos, quando há confirmação de pessoas infectadas, o município afirma fazer o fumacê de forma controlada. Questionada sobre a chegada da vacina contra a dengue no Sistema Único de Saúde (SUS), como já ocorre em alguns Estados, a assessoria afirmou que o "Ministério da Saúde priorizou os Estados que estão em situação mais grave do que a nossa, embora a gente esteja em emergência, Norte e Nordeste estão com um cenário de dengue pior que o nosso". Por este motivo, o município não tem previsão de quando os imunizantes serão oferecidos para a população por meio do SUS.