O Rio Grande do Sul segue em alerta contra a dengue. Somente na última terça-feira (5), foram confirmadas mais três mortes em decorrência da doença, com o Estado contabilizando 14 óbitos em 2024. Caxias do Sul, o maior município da Serra, não registrou mortes. Porém, o número de denúncias nos dois primeiros meses desse ano cresceu aproximadamente 220% na comparação com o mesmo período em 2023. Em janeiro deste ano, foram 209 contra 95 no ano passado. Em fevereiro, o poder público recebeu 442 comunicados de possíveis focos contra 108 no mesmo período de 2023. No saldo total, pulou de 203 no primeiro bimestre do ano passado para 651 denúncias neste ano.
Na visão do diretor técnico da Vigilância Ambiental em Saúde, Rogério Poletto, a população caxiense está mais sensibilizada com o assunto dengue, o que tem colaborado com o aumento das informações sobre possíveis focos. Ele destaca que uma boa parcela da comunidade está engajada em auxiliar no combate ao Aedes aegypti, principalmente pelas campanhas de conscientização que tomaram as ruas.
— É um movimento natural, porque a população está mais atenta, e pelo serviço, porque estamos sempre divulgando o número de focos, e mostramos que o nosso serviço está trabalhando, e as pessoas participam mais, fazendo uma parte que é a denúncia — explicou Poletto sobre esse aumento.
Dentro das denúncias, uma das mais complexas são as obras abandonadas. Conforme Poletto, isso acontece por inúmeros motivos, entre eles empresas que faliram e não conseguiram finalizar o trabalho, tornando o processo de localizar os proprietários mais complexo. A fiscalização, nesses casos, pode ser lenta para autuar os proprietários e responsáveis.
— Acabam sendo feita várias vezes (as denúncias), é um problema às vezes até de difícil fiscalização para localizar o proprietário, existem "n" situações. Infelizmente, essas obras paradas nos dão bastante dor de cabeça pelo tempo que demora para solucionar o problema — lamentou.
Uma das obras que mais tem gerado preocupação está na Rua Sinimbu, entre as ruas Marechal Floriano e Garibaldi, no Centro. Segundo Poletto, essa construção está parada há bastante tempo e a comunidade já realizou diversas denúncias. A obra chegou a ter parte dela erguida, como por exemplo a estrutura abaixo do nível da rua e também a instalação de algumas vigas. No entanto, como está paralisada há alguns anos, agora acumula água.
Nesse local, no dia 29 de fevereiro, o Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) aplicou larvicida para evitar a propagação do mosquito que transmite a dengue. Ali, também havia problemas de esgoto, que foram resolvidos recentemente pela Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Smosp).
Conforme o balanço mais recente, 225 focos do mosquito Aedes aegypti já foram identificados e bloqueados em 2024. Até o momento, a cidade contabiliza cinco casos de dengue autóctone (contraídos na cidade) e 18 de dengue importada (quando a pessoa viajou e retornou doente). Segundo a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), nenhum desses pacientes necessitou de internação.
Cresce a preocupação da comunidade
Outro exemplo de dificuldade para lidar com locais de difícil acesso é no bairro Rio Branco. A dentista Neiva Leonardi Bampi e a aposentada Margarete Bampi convivem desde o ano passado com uma obra parada ao lado da casa da mãe de Margarete. O local tem acumulado água e gerado forte odor, impossibilitando que as janelas da varanda possam ficar abertas.
Segundo Margarete, já foram encaminhados diversos protocolos junto à administração municipal, mas até o momento a situação não foi resolvida. A aposentada disse que recentemente o responsável pela obra até realizou um trabalho de drenagem no terreno, no entanto, com as chuvas dessa semana, a situação voltou a ficar delicada.
Ao mesmo tempo, Neiva entrou em contato com o responsável pela construção, que até o momento não apresentou nenhuma resolução para a situação. A última ligação à Vigilância Ambiental em Saúde foi feita na semana passada. O retorno dado é de que a situação está na lista de atendimentos.
— Eu sinto por ela (a mãe), e esse imagem que temos aqui. Tu abre tua porta e tem isso — lamentou Margarete.
Outro temor das primas são as invasões no terreno em obras. A casa de Neiva, que fica ao lado desse canteiro, já foi invadida em algumas vezes. Além disso, o muro da casa da mãe de Margarete está caindo em virtude dos trabalhados inacabados.
Como denunciar possíveis focos
As denúncias podem ser feitas pelo Alô Caxias no telefone 156 de forma anônima, ou no telefone da Vigilância Ambiental pelo (54) 3901-2503, nesse caso é preciso se identificar.
Além disso, caso a comunidade consiga colher algum material, pode entregar na própria sede da Vigilância, na Rua Ernesto Alves, nº 1922, no Centro, ou na Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima.
Dia D para intensificar ações de combate
No último dia 21 de fevereiro, a prefeitura de Caxias iniciou a utilização de drones no combate aos focos do mosquito Aedes aegypti, em uma parceria entre a Secretaria Municipal da Saúde e a Guarda Municipal e tem o objetivo de observar e identificar áreas em que existam, por exemplo, pontos de água parada. Conforme Rogério Poletto, a ação foi positiva.
— Conseguimos ver alguns locais que da rua não tínhamos visto, (como por exemplo), calha entupida, caixas d'agua sem tampa ou tampa quebrada, que às vezes o morador não sabia, porque fica em cima da sua residência. O drone dá uma visão de outro ângulo de algumas situações, e obviamente ele não substitui o trabalho do nosso agente de ir a campo, a inspeção terrestre — descreveu o diretor técnico da Vigilância Ambiental em Saúde sobre o uso da tecnologia.
No próximo sábado, o drone irá novamente para as ruas de Caxias durante o Dia D contra a dengue. A ação reunirá atividades de conscientização e orientação da população, além do reforço no atendimento dasa denúncias. Todas as unidades básicas de saúde (UBSs) estarão abertas das 9h às 15h para o Mutirão de Saúde da Mulher e as equipes também prestarão informações e orientações sobre o combate à dengue, além de entregar material informativo. Em paralelo ao atendimento a denúncias, a sede da Vigilância estará aberta das 9h às 12h e das 13h às 16h30min com um espaço tira-dúvidas para orientar a população.
Cuidados com o mosquito
- Não deixar lixo espalhado, em local próprio ou via pública, que possa acumular água.
- Pneus em desuso ou inservíveis precisam ser mantidos em locais secos.
- Armazenamentos temporários de água não podem ficar expostos.
- Caixas d'água precisam ficar fechadas.
- Piscinas precisam ser protegidas quando não usadas.
- Potes com plantas precisam ficar secos ou preenchidos com areia e serem lavados semanalmente.
Fonte: Secretaria Municipal da Saúde de Caxias do Sul