A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Caxias do Sul acompanha com preocupação a redução significativa na adesão a vacinas nos últimos anos. Segundo a diretora técnica da Vigilância Epidemiológica, Magda Beatris Teles, nos últimos dois anos, nenhuma meta vacinal foi atingida em sua totalidade. Um exemplo é a da poliomielite, que teve cobertura vacinal de 83,26% em 2022, quando a meta era 95%.
Para Magda, o fenômeno que atinge, não só o município, mas também o Rio Grande do Sul e o Brasil é chamado de "evitação vacinal", termo utilizado mundialmente para a questão de atraso ou recusa das vacinas. Neste termo, a diretora explica que condições como confiança, facilidade e disponibilidade de acesso e eficácia são analisados.
— O Programa Nacional de Imunizações completa, esse ano, 50 anos, então, segurança existe. As vacinas do (Sistema Único de Saúde) SUS são da mesma modalidade das vacinas do privado. O privado oferece, às vezes, um leque maior para algumas patologias, mas no SUS são mais de 20 vacinas que comportam o calendário. Então, tem uma representação e um peso na qualidade e eficácia — garante Magda.
Entre os dados, obtidos por pesquisa divulgada na quarta-feira (11), os motivos para a evitação, conforme o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) são:
- Alguns médicos contraindicarem algumas vacinas
- Pais sinalizarem preocupação com efeitos colaterais
- Fake news
— Nós tínhamos algumas ideias de possíveis causas que levassem a essa evitação vacinal. No momento em que a gente ofertou os questionários, principalmente por parte dos responsáveis, nós não pensávamos que íamos ter um número tão expressivo. Tanto que foi possível fazer até medidas estatísticas em cima desse dado, dando uma confiabilidade estatística ao resultado. Ele não é apenas uma amostragem aleatória, tem um cunho científico e técnico — destaca Magda.
A pesquisa, realizada pela própria Secretaria Municipal da Saúde (SMS), aponta que 56,4% de pais e responsáveis afirmaram estar muito preocupados com a possibilidade de uma vacina não prevenir a doença e, entre os profissionais, 29,2% disseram não conhecer a eficácia de todos os imunizantes disponíveis no SUS. Ao todo, 72 médicos e 1.466 pais e responsáveis responderam. A partir dos resultados, a SMS iniciará um reforço nas ações para conseguir ampliar a cobertura vacinal:
- Neste sábado, na Festa da Criança, que será realizada na Rua Plácido de Castro, das 14h às 17h, haverá gotinha contra a poliomielite para crianças, vacinas contra HPV, meningocócica ACWY, gripe e covid-19, para quem tem 12 anos de idade ou mais. Além disso, serão aplicadas doses contra a gripe e a covid-19 para adultos.
- De segunda-feira (16) ao dia 28 de outubro será realizada a Campanha de Multivacinação de Crianças e Adolescentes, para atualizar a caderneta de quem tem até 14 anos. Os pais podem procurar qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS), de segunda a sexta-feira. Também haverá um Dia D, no sábado (21), quando todas as UBSs estarão abertas das 8h às 17h.
- O treinamento para as equipes de enfermagem será intensificado, bem como a capacitação com a equipe médica da rede SUS e, também, se possível, para a rede privada sobre vacinação.
- Parcerias com escolas para checagem da caderneta.
— O impacto da não vacinação em crianças, adultos e idosos repercute em aumento das doenças infectocontagiosas que poderiam ser evitadas. Entre essas doenças, temos as meningites, na qual já estamos verificando o aumento de internações de crianças com essa patologia. Existem muitas doenças que podem ser evitadas a partir da vacinação, a hepatite B, a hepatite A, o tétano, a difteria, a rubéola, as infecções, como influenza, que são sazonais, entre outras — informa a médica infectologista, Viviane Raquel Buffon.
Viviane também pontua que:
- A baixa cobertura vacinal terá como impacto o aumento no número de pessoas com doenças infectocontagiosas, muito mais crianças afastadas das escolas devido a essas infecções e também complicações graves, entre elas o óbito.
- As vacinas são bastante seguras.
- As vacinas devem ser aplicadas para crianças e demais grupos etários. No entanto, ela deverá ser evitada para pessoas que apresentem alguma alergia componente de alguma vacina ou mesmo que já tenha apresentado algum efeito colateral anterior grave que tenha levado esse paciente a internação.
- As vacinas que temos e utilizamos há décadas são confiáveis e uma medida segura para evitar infecções e prevenir mortes em crianças, adultos e idosos.
Sobre efeitos colaterais
— Todas as vacinas apresentam, em algum grau, efeito colateral, especialmente porque estou estimulando meu sistema imunológico na produção de anticorpos. Dessa forma, a gente pode ter efeitos colaterais locais, no local da aplicação, com um pouco de calor e dor, assim como sintomas mais sistêmicos, incluindo febre, dores musculares e dores articulares — avisa a médica.