As tarifas entre R$ 6,85 e R$ 9,83 definidas para os pedágios do bloco 3 de concessões rodoviárias gaúchas não permitirão reduzir o custo do quilômetro rodado na Serra e no Vale do Caí. A avaliação é do Sindicato das Empresas e Veículos de Carga de Caxias do Sul (Sivecarga). Além da maior cidade da Serra, a entidade representa o setor de transporte de encomendas em outros municípios atendidos pelas rodovias concedidas, como Farroupilha, Flores da Cunha, Antônio Prado e Ipê.
Conforme Octavino Pivotto, presidente do Sivecarga, os investimentos programados para as rodovias de fato permitirão maior eficiência no transporte, com redução de 30% a 40% no tempo. Os patamares previstos para as tarifas, contudo, irão anular os ganhos.
— Vai, sim, haver melhora. Se a rodovia tem melhores condições, vamos ter redução de custo de manutenção e de tempo, porque o tempo de viagem em rodovia duplicada é menor. Mas o custo do quilômetro rodado não deve mudar muito. A Serra vai ser prejudicada de novo, porque vai aumentar o custo do transporte. Alguém vai ter que pagar essa conta — projeta.
Na visão de Pivotto, as concessões são a condição para a melhoria da infraestrutura da região. No entanto, ele avalia que a tarifa terá um custo de R$ 0,17 por quilômetro, enquanto outras concessões praticam R$ 0,09 por quilômetro.
Outra entidade que defende as concessões, mas que acabou surpreendida pelo alto valor das tarifas é o Sindicato dos Transportadores de Passageiros da Serra Gaúcha (Sinditranspf). Na avaliação do presidente da entidade, Paulo César Santos, a tarifa poderia ser a metade do valor definido no leilão, que teve apenas um participante.
— Quanto melhor as rodovias, melhor para todos, mas com os valores (que serão praticados) impacta lá na ponta, nos nossos clientes. A população não se exime do pedágio, desde que tenha custo favorável — opina Santos.
O presidente do Sinditranspf defende ainda que sejam realizadas análises pontuais para o aumento do limite de velocidade, duplicações e o que chamou de "melhorias verdadeiras", que sejam duradouras.
— Esses pontos têm que ser mais conversados — argumenta.
Com o resultado do leilão, entidades empresariais e líderes políticos passaram a pressionar o Estado a não assinar o contrato de concessão. O assunto, inclusive, será debatido em uma reunião na Assembleia Legislativa, convocada pelo presidente da Casa, Valdeci Oliveira (PT). De acordo com o secretário de Parcerias do Estado, Leonardo Busatto, a recusa em assinar o contrato poderia acarretar no pagamento de indenizações e perda de credibilidade para outros processos do tipo.
Investimentos
O bloco 3 prevê a concessão de 271,54 quilômetros de rodovias na Serra e no Vale do Caí, dos quais 119,46 precisam obrigatoriamente ser duplicados. O plano de exploração das rodovias também determina a construção de 40 viadutos e 24 pontes, além de manutenção constante nos pavimentos, nas encostas e nas demais estruturas. O valor a ser investido pelo consórcio Integrasul, único participante do processo de seleção, é de R$ 3,4 bilhões ao longo de 30 anos. Desse total, R$ 2,2 bilhões precisam ser aplicados até o sétimo ano de contrato, quando todas as obras previstas em contrato devem estar prontas.
Em entrevista ao programa Gaúcha Hoje, da rádio Gaúcha Serra, na última quinta-feira (14), o secretário de Parcerias do Estado, Leonardo Busatto, justificou os valores conforme o momento econômico do setor. Conforme ele, por exemplo, não é possível comparar o deságio do leilão da RS-287, em dezembro de 2020, com o da última quarta-feira (13).
— Além de estarmos falando de uma rodovia totalmente diferente, um trecho praticamente plano, ela ocorreu em um ambiente diferente da economia, com custos diferentes. Era dezembro de 2020 e agora estamos em abril de 2022, e também lembrar dos investimentos que serão feitos naquela rodovia nos primeiros 10 anos, que é de R$ 1 bilhão. Nós estamos falando de rodovias da Serra, que receberão R$ 2,2 bilhões, mais que o dobro, em sete anos. Tínhamos até o risco de um leilão sem interessados, o que está acontecendo atualmente no país. Temos sempre que comparar com os comparáveis. Comparar o valor da tarifa com os investimentos e o tempo — afirmou.
Ao colunista Jocimar Farina, de GZH, Ricardo Peres, diretor-técnico da Silva & Bertoli, uma das integrantes do Integrasul, disse que o consórcio teve dúvidas sobre a participação no leilão. O motivo é a defasagem no preço dos insumos e do valor que serviu de base para a disputa. Por isso, na avaliação dele, não havia como conceder mais desconto.