A temporada de verão que se aproxima traz grandes expectativas, mesmo que ainda combinadas com muitos receios. Já são 20 meses de convivência com o coronavírus no Rio Grande do Sul, mas, talvez, este seja o momento mais seguro devido a cobertura vacinal cada vez maior. Por isso, os municípios do Litoral Norte reúnem boas perspectivas para a retomada de um turismo forte nas praias. Os dois feriados de novembro foram o termômetro para quem lidera a região, que se torna o principal destino na época de calor.
— A preocupação com a covid-19 continua. Estamos otimistas com o avanço da vacinação, mas ainda é uma preocupação. Ainda vemos alguns focos localizados, mas acredito que o verão vai ser uma loucura. O pessoal vai vir para o Litoral, afinal as pessoas estão querendo sair de casa e tirar um período para curtir praia, família e férias — opina Carlos Souza, prefeito de Torres.
O receio é comungado pela prefeitura de Arroio do Sal, um dos destinos preferidos dos moradores da Serra. Para a temporada 2022, os shows de rua, que ocorreram em 2019, estão praticamente descartados. O famoso show da virada, inclusive, não será realizado por nenhuma das cidades litorâneas. Haverá apenas a queima de fogos em Torres e em Capão da Canoa. O objetivo é tentar evitar ao máximo as aglomerações.
— Temos receio ainda, o município conseguiu manter os casos controlados durante todo esse período de pandemia. Em dois feriados, tivemos picos de contaminação. Então, não iremos fazer show da virada. Em princípio não haverá shows de rua nesse verão, mas a beira da praia estará com muitos eventos — explica Aline Valim, secretária de Turismo, Esporte e Cultura de Arroio do Sal.
Os destinos preferidos dos serranos no verão estão na reta final de ajustes para a temporada, mesmo que Torres, por já ter uma realidade consolidada, esteja mais adiantada. Ainda assim, em uma rápida visita pelas praias é possível notar a diferença na paisagem da área continental dos balneários. São inúmeras construções que vão de prédios até condomínios fechados. A estimativa do Sindicato da Construção Civil (Sinduscon) do Litoral Norte é de um crescimento de 50% durante o último ano.
— A costa litorânea tem uma qualidade de vida, onde as pessoas se sentem mais livres. Deu um upgrade maior do que na cidade — considera Alfredo Pessi, presidente do Sinduscon da região. — Em 12 meses, tivemos um crescimento de cinco anos, essa é a nossa comparação — completa.
Alguns problemas ainda devem ser realidade, principalmente referentes ao saneamento básico. Os representantes municipais esperam que a possível construção de um porto em Arroio do Sal seja o suficiente para atrair investimentos na construção das redes de captação e na colocação de um emissário submerso no oceano para resolver o problema. De resto, as praias apostam em diferentes possibilidades para atrair e manter o público, além de apenas areia e mar.
Arroio do Sal foca em atividades na beira-mar
Com 27 quilômetros de extensão de areia, Arroio do Sal espera montar toda a estrutura da beira-mar até o próximo dia 18 de dezembro, quando um luau será realizado como evento de abertura da temporada 2022. Ainda assim, as atividades devem ficar restritas à faixa de areia. A secretária de Turismo, Aline Valim, ressalta que pandemia foi um bom período para se reinventar e repensar o município.
— Nos incomoda um pouco o fato de termos inúmeras coisas e não conseguirmos explorar de forma turística. As pessoas vêm para cá por causa da beira do mar, mas a pandemia mudou nossos planos. Alteramos o olhar para a cidade e já contratamos uma empresa que está desenvolvendo um roteiro — explica a titular da pasta.
Para 2022, esse roteiro ainda não estará pronto e os eventos serão na beira-mar até para evitar aglomerações. Arenas de vôlei e futebol ainda serão montadas, incluindo uma em Rondinha, bem como as guaritas devem ser instaladas até o final da primeira quinzena de dezembro. Além disso, duas passarelas para o acesso à faixa de areia estão sendo construídas, na Avenida Assis Brasil e outra em Figueirinha. Campeonatos e outras diversas atividades serão realizadas no verão, como foco principal na conscientização de manter as praias limpas.
No centrinho, pouca coisa mudou, mas quem investiu já tem resultado antes do pico de visitantes. A empresária Catiane Vargas, 43 anos, apostou numa cafeteria com bufê de sorvetes. O ambiente soa completamente diferente dos demais, seja pela aposta em cores diferentes ou pela decoração interna. Localizada na área central, onde antes era o espaço de uma sorveteria, ela inovou com algo que sempre esteve no seu desejo.
— Eu sempre quis colocar um café, por ser amante de cafeteria. Só que eu tinha só o conhecimento de sorveteria. Eu queria agregar meus prazeres de viver e transformar isso num comércio — revela.
A aposta no modelo híbrido já rende frutos. O empreendimento abriu as portas na sexta-feira, antes do feriado de 15 de novembro, e no primeiro fim de semana ela teve que buscar apoio da família para atender a clientela. O fato cria boas perspectivas pelo que virá a partir de dezembro.
— A gente teve uma demanda absurda, a sorte é que a família é grande e eu fui chamando sobrinho, filho, nora... A gente não deu conta de atender tanta gente. É novembro e já estarmos fazendo um movimento diário muito bom — aponta Catiane.
Torres busca ser referência também no Natal
Torres é a praia com uma paisagem totalmente diferente do restante do Litoral. Dos Molhes até a Guarita, oferece paisagens das mais diversas e, em tempos de redes sociais, torna-se um prato cheio para inúmeras fotos. Uma cidade consolidada com o turismo e que ainda quer abrir novos horizontes. O primeiro passo foi aplicar os recursos no Natal e com uma meta grande: ser referência para a região, tal qual Gramado é para o Estado.
— Investimos R$ 1 milhão no Natal, com shows mais curtos e sempre às sextas e sábados. A gente termina dando opções ao comércio e acredito que irão vender mais que em 2019. Chegar ao nível de Gramado para o Natal leva tempo. Agora, se o Natal da Serra é o melhor, eu acredito que Torres precisa ter o melhor do Litoral. Quem não quiser subir para Gramado, que venha a Torres — convoca o prefeito Carlos Souza.
A decoração, inspirada nos balões, que integram o já tradicional festival que ocorre no município anualmente, chama a atenção no centro da cidade. Além disso, a administração encerrou a obra de pavimentação para pedestres nos Molhes, revitalizou a praça, que fica na Praia Grande, e o Morro do Farol, que ainda deve passar por uma intervenção artística. Ainda durante o verão, a Lagoa do Violão e a Praça XV também serão locais de obras de revitalização. A estrutura é voltada para cerca de 1,5 milhão de turistas que devem circular pelo município no verão.
— Estamos com vários eventos de Natal, Réveillon... Obviamente sem o show da virada, mas com a queima de fogos. No dia 1º de janeiro teremos uma atividade particular no parque de balonismo, depois um grande show marcado para 17 de janeiro. No Carnaval estamos com outro grande evento, que será feito por Barretos, que irá trazer toda a arena para cá. Vamos ter o Guarita Eco Festival também. Estamos torcendo para que tudo dê certo, principalmente em relação à covid, que é a nossa grande preocupação — ressalta o gestor.
Para a última semana do ano, os 8 mil leitos estão quase esgotados. Casas de aluguel também estão com alta procura, o que entrega um indício de que na virada de ano a cidade estará lotada. Além disso, novos empreendimentos chegaram a Torres, como um shopping e três grandes redes de supermercados. O município já consolida a vida fora de temporada, principalmente com o aumento da população durante a pandemia.
Muita paz, pouca estrutura fora da temporada
Quem desce pela Rota do Sol até o Litoral Norte tem Curumim como o primeiro balneário à frente. Só que o distrito, que pertence a Capão da Canoa, não estará muito diferente do que os veranistas já conhecem. Lógico que a maior parte dos empreendimentos está acelerando as obras para receber os turistas.
Gissele Fernandes tem um bazar na principal avenida de Curumim, que durante a última semana estava vazio. Poucos moradores circulam pelo local em dias de semana, mas ela apostou na próxima temporada. Ampliou a área da loja, revitalizou e espera que a pandemia colabore para conseguir bater as metas de venda.
— O pessoal veio no ano passado, mas devido a pandemia não ficavam na rua. Para o nosso negócio, eu preciso que o veranista circule e caminhe pelo centro. Aqui tem muito disso, do pessoal estar passando na frente da nossa loja, ver algo que ele precise e entrar para comprar — explica Gissele.
A expectativa dela cresceu no feriado e no último final de semana, com um aumento considerável no movimento. Só que durante a semana, o tempo anda mais devagar e até as opções de alimentações são escassas. Karine Seidl, que reside em Feliz, está passando uma semana no balneário e relata que as opções em novembro são poucas para quem está passeando.
— Dois lugares que estão funcionando, uma lancheria e uma telentrega. À noite, só uma telentrega, sorveteria tem uma só e mercados têm apenas três. Demanda no fim de semana tem. Durante a semana é que reduz bastante — relata Karine.
O cenário deve mudar a partir de dezembro, quando a ocupação dos imóveis começará a aumentar, assim como a circulação de pessoas pelo centrinho.