O Litoral Norte gaúcho está na quinta tentativa de construção de um porto, com dois projetos para Arroio do Sal. As outras quatro foram em Torres. Os planos anteriores não vingaram, por questões políticas e econômicas. O primeiro foi uma decepção para os imigrantes alemães levados para colonização do litoral em 1826. O último foi na década de 1930, prejudicada pela chegada dos nazistas ao poder na Alemanha.
O jornalista e historiador Nelson Adams Filho recupera a história da última tentativa no livro que lançará em dezembro na Coleção História Torres. O Torres Projetk Hafen - und Eisenbahnbau - envolvia a implantação de um porto, de uma ferrovia de mão dupla até a Fronteira Oeste e o assentamento de 500 famílias alemãs no Rio Grande do Sul, numa nova colônia.
Na Biblioteca de Koblenz, na Alemanha, o jornalista localizou e adquiriu parte da documentação. Ele relata que os alemães eram favoráveis e interessados no projeto entre 1931 e 1933, apesar das incertezas sobre possíveis falcatruas em relação às terras por onde passaria a ferrovia. O padre alemão Johannnes Beil cuidaria da parte espiritual e social das famílias alemãs. Fracassado o projeto, o religioso foi para Ubatuba, em São Paulo.
Em setembro de 1931, o presidente Getúlio Vargas enviou telegrama ao amigo, correligionário e Intendente de Torres, José Krás Borges, garantindo apoio ao projeto. Um decreto federal permitia ao governo do Rio Grande do Sul construir ou abrir concorrência para a concessão. Em dezembro, a Secretaria de Estado dos Negócios das Obras Públicas publicou edital no jornal A Federação com as regras. O governo não teria participação no investimento. Os prazos para apresentação de propostas foram adiados até 1933.
Uma comissão chegou a ser constituída em Berlim para vir a Torres. No início de 1933, Adolf Hitler assumiu como primeiro-ministro. Em maio, um grupo de técnicos alemães esteve no Rio Grande do Sul para avaliar potencialidades econômicas, incluindo os estudos do porto de Torres. Eles foram recebidos pelo prefeito de Porto Alegre, Alberto Bins, em um "jantar de cordialidade teuto-brasileira", como noticiou A Federação.
Em setembro de 1933, foram apresentadas propostas na concorrência aberta dois anos antes pelo governo estadual. A Companhia Nacional de Construção Civil queria ficar com o porto. A Companhia Comércio Construção S.A. seria responsável pelas estradas de rodagem e de ferro. O jornal A Federação, órgão oficial do governo, publicou editorial naquele final de ano elogiando o governador Flores da Cunha já que "finalmente será realizada a grande obra que é uma das maiores aspirações do nosso povo".
Como sabemos, a obra nunca saiu do papel. O pesquisador Nelson Adams Filho explica que os nacionais-socialistas não quiseram exportar mão de obra e financiar porto no Brasil. O último documento encontrado na Biblioteca de Koblenz é de outubro de 1933. Cita que as duas empresas que apresentaram propostas "não tem tanto interesse na construção do porto, mas mais em sua concessão" e "estas firmas provavelmente irão procurar financiamento no exterior e farão um bom negócio".
Em março de 1937, Flores da Cunha foi questionado sobre o porto de Torres durante um encontro com jornalistas. O general respondeu que só o custo do porto calculado pelos alemães, sem considerar a ferrovia, tornava o projeto "um sonho incapaz de ser realizado". O governador disse que "apenas daqui a muitos anos poderemos pensar em tal obra". Será que vai a ser agora em Arroio do Sal, município emancipado de Torres em 1988?
Ouça! O jornalista e historiador Nelson Adams Filho conta como foram as primeiras tentativas de construção de porto em Torres.
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