Um show para mais de 50 mil pessoas em um estádio da Nova Zelândia representou o primeiro evento de grande porte realizado desde o início da pandemia de coronavírus que vem registrando milhares de casos pelo mundo há mais de um ano. A aglomeração de pessoas sem exigência de uso de máscara ocorreu no dia 26 de abril, e foi possível graças às medidas preventivas, como lockdown e fechamento de fronteiras, tomadas pelo país logo no início da pandemia.
Medidas parecidas foram adotadas pela Austrália, onde mora o caxiense Felipe Marques da Silva, 32, com a esposa Rachael Trapnell, 42, e o filho Otávio Trapnell Marques, oito meses, que nasceu durante a pandemia, em agosto de 2020. A família vive em Gold Coast, na costa Leste do país, a poucas horas de voo de Auckland, onde ocorreu o evento neozelandês.
— Não recordo de grandes eventos por aqui, mas eu sei que está liberado desde que o "Covid Safe Plan" esteja funcionando. É um plano de segurança baseado em pessoas por metro quadrado, higiene, check in eletrônico. Aqui na Austrália, a situação está bem diferente do Brasil, os números de casos estão e, sempre foram, extremamente baixos. Se não tivéssemos minha família no Brasil, nossa vida estaria normal. Perdemos entes queridos, passamos noites preocupados com familiares e amigos que vivem aí. Meus pais ainda não conhecem o primeiro neto deles e não temos previsão de quando poderemos nos ver _ lamenta Marques, que vive há quatro anos na Austrália.
Na quinta-feira (13), o total de doses da vacina contra a covid-19 aplicadas no maior país da Oceania não chegava a 3 milhões, conforme o contador vaccinevisualizer.com. Marques conta que a campanha ainda é voltada para idosos e pessoas com comorbidades, e que não há previsão de quando ele e sua esposa serão imunizados. A espera, porém, parece não mudar muito a rotina dos australianos, que registravam apenas 179 casos ativos para a doença, na quinta-feira.
— Há um ano, quando isso tudo começou, estávamos muito apreensivos, principalmente pela gravidez, mas, felizmente, até então, estamos muito seguros em relação à pandemia. Para se ter uma ideia, precisei usar máscara pela primeira vez há cerca dois meses, devido a quatro casos que surgiram na cidade vizinha. Foi obrigatório a usar máscara em locais públicos fechados por 15 dias e, depois disso, tudo voltou ao normal porque os casos tinham sido rastreados e a situação foi controlada — comenta.
Em meados de 2020, o caxiense que atua como gestor ambiental conta que chegou a trabalhar em casa durante alguns meses, mas a medida era opcional. Marques chama a atenção para o modelo de rastreamento de casos adotado pelo governo:
— Em qualquer lugar que haja aglomeração, é necessário fazer um check in por meio de um aplicativo. Um casal de amigos foi a um bar onde esteve, no mesmo dia, uma pessoa que depois confirmou para covid-19. A secretaria da Saúde daqui ligou para eles, também no mesmo dia, requisitando que fossem testados. Esse rastreamento realmente funciona — comemora.
Marques relata ainda que, se alguns casos apareceram concentrados em determinado ponto, o governo define uma espécie de bloqueio de tráfego (sem saída ou entrada de pessoas) em um raio de 150km.
— No início da pandemia foi proibido frequentar a praia, exceto para exercício físico. E realmente só se viam pessoas na praia se exercitando, ninguém sentado, curtindo. Me surpreendeu como a população respeita a lei — relata.
Espanha retoma a "normalidade"
Após cerca de seis meses com restrições significativas, como o impedimento da circulação entre as regiões do próprio país, no chamado "estado de alarme", a Espanha vive uma semana de flexibilizações vigentes no país desde domingo (9). As novas regras incluem o fim do toque de recolher, que desde o início da pandemia permitia a circulação nas ruas somente até as 22h.
— Aqui foi bem rígido. Durante os períodos de lockdown só podíamos sair de casa para ir ao mercado. No documento tem o endereço e, se a pessoa fosse flagrada a um ou dois quilômetros longe de casa, era multada. Conforme a situação foi ficando relativamente boa, os estabelecimentos voltaram a abrir e, agora, tudo praticamente vai voltar ao normal. Até quando, não sei — avalia o também caxiense Gustavo Stédile Lopes, 32, que mora em Valência, cidade natal de sua noiva, Mabel Garcia, no Sudeste espanhol.
Ele conta que, na Capital, festas já voltaram a ser realizadas e locais como cinemas, por exemplo, também estão reabrindo. Na quinta-feira (13), organizadores da Feira Internacional de Turismo de Madri (FITUR), uma das mais importantes do setor, anunciaram a previsão de receber 100 mil pessoas de 60 países diferentes na edição que ocorre de 19 a 23 de maio. Por precaução, a capacidade dos sete pavilhões usados para a feira, com área de 44.000 m2, será limitada a 50%.
Apesar das flexibilizações que fazem o país praticamente retomar a tão desejada "normalidade", o governo pede responsabilidade à população. A Espanha está entre os países europeus mais atingidos e contabiliza mais de 79 mil mortes por covid-19 desde o início da pandemia, segundo o site covidvisualizer.com. Além disso, a vacinação contra a doença caminha a passos lentos no país. Até quinta-feira, cerca de 6,5 milhões de moradores haviam sido imunizados, conforme registra o contador.
— A vacinação aqui está muito lenta. A minha sogra que tem 67 anos acabou de receber a primeira dose, enquanto que a minha mãe, com a mesma idade, recebeu a primeira dose há mais de um mês no Brasil — compara o caxiense.
Durante as restrições internas de circulação, a Espanha manteve abertas as fronteiras para outros países. Lopes trabalha como programador de robô e mantém uma rotina de frequentes viagens a países como a Alemanha, que ainda mantém restrições mais rígidas. Assim como em outros aeroportos, o embarque só está permitido sob teste PCR.
— Estive em Berlim há cerca de duas semanas. Por lá não é obrigatório andar de máscara ao ar livre, mas para entrar em locais fechados é obrigatório o uso da PFF2. Tem pouca circulação na rua, o Checkpoint Charlie, um dos principais pontos turísticos da cidade estava praticamente vazio. Os restaurantes seguem fechados ou apenas com entrega e takeaway — relata Lopes.
"Parece que nem existe mais pandemia", diz moradora dos EUA
Aos 27 anos, Ana Cristina Mocellin está vacinada contra a covid-19. Natural de Carlos Barbosa, na Serra, ela está em intercâmbio nos Estados Unidos desde janeiro de 2019 e mora na cidade de Durham, na Carolina do Norte, onde recebeu as duas doses do laboratório Moderna, em 1º e 30 de março.
— Agora parece que nem existe mais pandemia, principalmente em nightlife (vida noturna). O governo já dispensou o uso de máscara em lugares ao ar livre, porque está todo mundo recebendo a vacina. É só entrar em uma farmácia e solicitar que pode ser vacinado de graça — relata a barbosense.
Na quinta-feira (13), adolescentes de 12 a 15 anos começaram a ser vacinados no país que já imunizou mais de 117 milhões de pessoas.
Cris, como é conhecida pelos amigos, está no país norte-americano pelo programa au pair, no qual os participantes são acolhidos por uma família, prestando cuidados às crianças. Logo após fechar o primeiro ano de sua experiência internacional, os primeiros casos de covid-19 começaram a ser registrados e, em abril de 2020, os Estados Unidos já eram o epicentro global da pandemia. O total de mortes causadas pela doença desde então chega a quase 600 mil.
— No ano passado tivemos lockdown, bastante restrições e todo mundo respeitava. Este ano as coisas foram voltando ao normal. Para entrar em certos locais fechados, como academias e supermercados, ainda é exigido o uso da máscara, mas, nas ruas, quase ninguém mais usa e, nos bares, à noite, também — conta a intercambista.
Situação é preocupante na Índia
Nesta semana, a Índia superou a marca de 250 mil mortes por covid-19 e na quinta-feira (13), já registra mais de 260 mil. O país lidera, no mundo, o número médio diário de novas infecções por dia: mais de 4 mil. A nova onda sobrecarrega hospitais, crematórios e cemitérios e o número oficial de mortes gera dúvidas. Uma matéria de GZH exemplifica que em Rajkot, 154 mortes foram oficialmente reportadas entre 1º e 23 de abril, mas autoridades de saúde da cidade registraram 723. No mesmo período, Bharuch declarou oficialmente 23 mortos, mas, de acordo com funcionários de crematórios e cemitérios, foram realizados 600 funerais.
A crise da pandemia no país asiático levou cerca de 230 milhões de indianos à pobreza e deixou cerca de 100 milhões de desempregados, conforme relatório da Universidade Azim Premji. Além disso, uma variante indiana do coronavírus, com capacidade de transmissão maior do que a cepa original, foi detectada. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a variante, que colabora para a recente explosão de contágios na Índia, está presente em, pelo menos, 44 países.
No Brasil, que também tem variantes identificadas, o total de mortes por covid-19 passa dos 400 mil, com cerca de 2,5 mil em 24h.
O Rio Grande do Sul vacinou até quinta-feira (13) mais de 20% do grupo prioritário contra a covid-19 com as duas doses necessárias para completar o esquema de imunização e chegou à metade dessa população beneficiada com a dose inicial.
Na Serra, houve redução nos registros deste mês. A região teve mais 10 mortes relacionadas ao coronavírus na quarta-feira (12). Em 12 dias, a média está em quase nove vidas perdidas por dia. Em uma avaliação mais simples, é quase a metade, se comparada a abril, quando a média foi de 16 óbitos a cada 24 horas.