A pandemia foi um baque na forma de as pessoas levarem a vida. A chegada do coronavírus, em março de 2020, alterou relações interpessoais e econômicas e tem afetado toda a população. As atividades produtivas vivem quadros de dificuldade, readaptações e, alguns, não têm perspectivas positivas. É possível numerar fatores que contribuem para o momento, como vacinação lenta, nova cepa, hospitais lotados, mortes e uma bandeira preta que jogou um balde de água fria nos setores que acreditaram em um 2021 diferente, com o regramento laranja nos primeiros meses.
Em pouco mais de um ano de pandemia, algumas atividades ficaram à mercê de um final de crise que, por enquanto, está longe. Isso exige criatividade para conseguir se manter. Alexandre Maciel, conhecido como Alibu, é proprietário da Parafernália Som e Luz. Sem eventos, o jeito foi encontrar uma nova forma para sobreviver.
— De março do ano passado até agora, só conseguimos trabalhar um pouco em fevereiro. Mas foi um pingo no oceano. Tivemos que buscar outros horizontes. Eu comprei um caminhão e estou trabalhando com frete até voltar. Acredito que essa volta vá ocorrer só no final do ano — diz Maciel.
Em 17 anos no ramo do entretenimento, ele chegava a fazer 30 eventos em um mês de dezembro normal. Só que com tudo parado não houve alternativas. Ainda no ano passado, ele teve que demitir um dos três funcionários. Este ano, outro pediu para deixar a empresa. Restou Maciel, a esposa e mais um colaborador. Para manter o negócio vivo, até o carro já foi vendido visando injetar dinheiro. No fim de março, ele comprou um caminhão para fazer fretes e aguardar tudo melhorar.
A 3G Produtora, fundada em 2012, também não vê condições melhores para breve. A empresa trabalha com a promoção de eventos e festas, mas o negócio também está enfrentando inúmeras dificuldades. Quando questionado sobre a situação, Luan Amarante, um dos sócios da empresa, resume:
— Estamos no fundo do poço. Particularmente, eu não vejo uma perspectiva positiva. Existem grupos muito fortes que não têm interesse que as coisas voltem ao normal. Isso passa tanto pela mídia quanto pelo classe política.
O entretenimento é, talvez, a atividade mais afetada da pandemia e uma das últimas a retornar à normalidade. No entanto, a forma mais agressiva da pandemia também altera a vida de diversos outros serviços.
Manifestações ainda não surtiram efeito prático
Outros dois ramos têm realidades distintas. Enquanto bares e restaurantes ganharam um respiro com a liberação do governo – com dias restritos –, as escolas infantis, que estariam liberadas para trabalhar por decreto, aguardam a reversão de um recurso que proibiu a atuação em bandeira preta.
Para Bruna Lovato, presidente do Sindicato das Instituições Pré-Escolares Particulares de Caxias do Sul (Sinpré), o setor ficará próximo do colapso se não regressar. As inscrições caíram, logo também o faturamento. E os descontos nas mensalidades não ajudam a pagar as contas. Por enquanto, há a confirmação de que ao menos três instituições de ensino particular já fecharam.
— As escolas estão negociando aluguéis, redução de salários da equipe através de acordo entre os sindicatos e recorrendo a empréstimos. Mas só aquelas que conseguem. Muitas fizeram no ano passado para se manter e estão acumulando dívidas — relata Bruna.
O governo do Estado ingressou com um recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar a ação movida pela Associação Mães e Pais pela Democracia e Cpers-Sindicato e agora aguarda a resposta do ministro Kassio Nunes Marques.
Já para o setor de bares e restaurantes, mesmo com a liberação parcial, o cenário ainda se mostra longe do ideal. O fato de restringir o funcionamento dos estabelecimentos nos finais de semana para evitar aglomerações e dificultar o contágio do coronavírus acaba tirando os melhores dias para o funcionamento do setor.
— A gente vem remando a um ano. O governo liberou para trabalhar de segunda a sexta, exceto aos sábados, feriados e domingos. Isso é algo ruim para nós, porque são nesses dias que dá mais movimento — destaca Camila Pereira de Lima, uma das lideranças das manifestações dos garçons e garçonetes em Caxias.