21 de abril. Dia de Tiradentes, o Patrono da Nação Brasileira. Dia para trazer à memória o herói nacional, um dos líderes da Inconfidência Mineira, movimento que lutava contra os altos impostos taxados pela Coroa Portuguesa. Tiradentes, o dentista que se chamava Joaquim José da Silva Xavier, foi preso, acusado de traição por propagar ideias libertárias, para que o país fosse livre de Portugal. Então, no dia 21 de abril de 1792, foi enforcado, decapitado e esquartejado em praça pública como exemplo para que ninguém seguisse seus caminhos.
Com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, o novo país, sob um novo regime de governo, pretendia honrar e fazer memória aos personagens importantes para a consumação da independência. Então, no ano seguinte, em 21 de abril de 1890, Tiradentes foi consagrado como herói a ser lembrado anualmente por sua contribuição. Em 1965, o presidente marechal Castelo Branco sancionou a Lei Nº 4. 897, instituindo também que Tiradentes fosse reconhecido como o Patrono da Nação Brasileira.
— Tiradentes se tornou um herói nacional na virada do Século 19 para o 20, quando as elites intelectual e política estavam pensando na identidade brasileira. Foi a construção de um herói, na tentativa de encontrar a identidade de quem somos como nação. E muitas pessoas não valorizam a história, que tem a ver com as experiências humanas, porque não a conhecem — defende a professora e mestre em História Majô Schwingel.
A respeito desse reconhecimento e da simbologia da memória, como elo de ligação entre as gerações e os fatos históricos, nos últimos dias têm surgindo intenções de criação de uma data para lembrar das vítimas da pandemia de covid-19. Na Câmara de Vereadores de Farroupilha, um projeto de lei foi apresentado por Juliano Baumgarten (PSB) para instituir o Dia Municipal em Memória das Vítimas da Covid-19. O vereador diz ter se baseado na simbologia da memória como forma de construir uma narrativa histórica, como recorte deste período que estamos vivenciando.
— A questão do simbolismo é lembrar para não esquecer. É lembrar também para avaliar, refletir e tentarmos aprender com os fatos que estão acontecendo hoje. Acredito que o projeto não foi aprovado porque não se reconheceu a amplitude do termo simbolismo — explica Baumgarten, que usou como exemplo de memória o Museu do Holocausto.
O projeto de lei 23/2021 foi levado a votação no dia 13 e foi reprovado pela maioria (9 votos contra 5). Entre os votos contrários, o do vereador Caleb Coelho (PP). Como o assunto repercutiu, Coelho resolveu ocupar a tribuna de segunda-feira (19) para responder à pergunta: "Por que não aprovar um projeto desses?".
— Um dos argumentos do projeto de lei é não deixar de nos esquecermos dos momentos de dor, medo e incertezas que a pandemia provocou. No Holocausto, o dia da memória foi criado 60 anos depois, porque houve respeito por parte do mundo em não criar a lei enquanto a dor ainda era borbulhante. As pessoas levaram um tempo para digerir o que estava acontecendo. E uma lei se cria quando algo está sendo esquecido. Como esquecer a covid se ainda estamos perdendo amigos e familiares todos os dias? — questionou Coelho, por meio de uma declaração gravada em vídeo e exibida na sessão de segunda-feira (19).
Em Caxias, outro projeto foi retirado
O vereador Lucas Caregnato (PT), de Caxias do Sul, havia protocolado projeto de lei para fazer memória às vítimas da pandemia da covid-19. Além disso, a ideia era oferecer à população, familiares e amigos de vítimas um local de luto e de homenagem.
Na proposta inicial, constava ainda a possibilidade de o poder público criar um memorial físico, que poderia vir a ser implantado no Ecoparque. No entanto, Caregnato solicitou a devolução do projeto para que seja reanalisado.
— Em momento oportuno, vamos reapresentá-lo — revela.