Depois de quase seis meses fechadas em função da pandemia de coronavírus, as escolas de Educação Infantil retornam às atividades a partir desta terça-feria (8), em Caxias do Sul. São esperados cerca de 900 alunos nesta primeira semana. Pelo menos 150 escolinhas protocolaram planos de contingência na Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU). Destas, 40 já obtiveram autorização e retiraram a comunicação de despacho necessária para abrir as portas. Todas podem voltar às atividades, mas algumas optaram por recomeçar às aulas somente no dia 14 deste mês. O plano de contingência precisa ser aprovado pelo Centro de Operações de Emergências da Saúde (COE), que é formado por equipes das Secretarias da Saúde, Educação e Urbanismo.
- Somente pode voltar com estes documentos em mãos. Caso contrário, a instituição é passível de fiscalização e multa por descumprimento de decretos e questões sanitárias. Essa multa pode chegar até R$ 35 mil - explica o secretário do Urbanismo, João Uez.
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Nas próximas semanas, as demais escolas, que já tiveram o plano protocolado e aprovado, serão liberadas para a volta às aulas. O planejamento de retomada começou ainda em abril, segundo o Sindicato das Instituições Pré-Escolares Particulares de Caxias do Sul (Sinpré).
- Começamos a nos preparar para voltar às atividades ainda em abril sem saber como se chamaria o que agora é o plano de contingência, e no fim não estávamos longe da realidade, ele é bem parecido com o que elaboramos como base - garante a presidente do Sinpré, Christiane Welter Pereira.
Ela conta que antes da pandemia e da suspensão das aulas - em 19 de março - nove mil crianças estavam matriculadas em 180 escolinhas. No entanto, com o fechamento pelo menos cinco comunicaram o fechamento. A presidente reitera que as instituições estão preparadas para receber os alunos:
- O protocolo do poder público é rígido e será cumprido. Todas as regras previstas têm que ser colocadas em prática. Claro que cada escola pode, dentro da sua realidade, acrescentar medidas de combate à disseminação do vírus, ampliando as ações e muitas investiram ainda mais em segurança para combater o contágio .
As escolas fizeram reuniões online e algumas presenciais para mostrar aos pais como cada uma se organizou, quais são as medidas e como será o retorno.
- Entendemos a angústia e a incerteza dos pais. Sabemos que muitos estão indecisos e outros estão contando os minutos para esse retorno às atividades - afirma ela.
PLANOS DETALHADOS PARA UMA ENCARAR UMA NOVA REALIDADE
A escolinha Xodó da Vovó, no bairro Cinquentenário, tem a liberação para reabrir as portas. Dos 83 alunos matriculados, 71 seguem na escola, mas apenas 38 crianças podem frequentar o ambiente escolar, respeitando a determinação de receber 50% da capacidade, prevista no plano de contingência. Os pequenos têm de um a cinco anos. Depois de quase seis meses longe do convívio com professores e colegas, eles têm de encarar uma série de mudanças que precisam ser explicadas para que se sintam felizes em voltar à escola.
- O nosso plano de contingência é bem detalhado porque vamos encarar uma nova realidade. Com o H1N1, algumas medidas estavam em andamento e foram reforçadas. Compramos uma máquina pulverizadora para limpar o ambiente e uma ultravioleta. Também investimos em máscaras com um tecido especial que conta com laudo que garante a segurança - explica a diretora Marcela Muller.
No momento da chegada da criança na Xodó da Vovó, desce do carro um responsável, que assim como a criança, tem que estar de máscara. O aluno será recebido pelos diretores, que vão higienizar as mochilas e os calçados dos alunos, mantendo distância do pai ou da mãe de 1,5 metro. Há um diferencial: a máscara que a criança vem usando de casa é entregue aos pais. Na escola, ela recebe outra proteção com tecido diferente. Os protocolos são necessários, mas podem ser estressantes para os alunos:
- Nosso foco está não só na segurança, mas também no emocional. Quando elas vinham para a escolinha, antes do vírus, elas tinham uma rotina, e agora precisamos mostrar uma nova realidade a eles. São quase seis meses e várias questões novas dentro da rotina.
Marcela ressalta que muitas crianças ainda têm medo, já que há "bichinhos" na rua:
- Vamos trabalhar a escuta, entender o sentimento deles com brincadeiras, ouvir as angústias, os medos e todo o processo usando o lúdico. Temos que saber como esta a cabecinha deles, o coração e trabalhar o emocional.
A diretora salienta que as crianças também vão ser orientadas sobre novas formas de demonstrar afeto, já que o toque não é permitido. Nessa reinvenção de comportamentos, também será necessário incluir a máscara na rotina dos pequenos. Esses processos vão contar com o apoio lúdico para a adaptação das crianças:
- Os super-heróis, os médicos, as pessoas que cuidam de nós usam máscaras. Então, eles vão entender que é importante. Como eles veem os adultos usando, é mais fácil que eles usem, mas para isso temos que explicar o porquê sem que eles tenham medo ou pânico. Temos que trabalhar com eles para identificar se estão tristes, com raiva e ajudar a trabalhar todas as emoções.
Outra preocupação é com os pais, ressalta Marcela. Depois de meses de incertezas em diversas áreas, como a sanitária e a econômica, o estresse tomou conta de alguns adultos. Por isso, agora a diretora destaca que o processo de readaptação se desenrola para toda a família.
Desafio
O retorno às escolas é um desafio também para os professores. A escolinha Lápis de Cor, no bairro Kayser, tem capacidade para atender 50 alunos, mas 30 estão matriculados, e nem todos devem voltar. Para receber aqueles que estarão de volta ao prédio, os profissionais foram orientados.
- As professoras fizeram treinamento com a nutricionista. Também fizemos reuniões com os pais sobre todos os cuidados nesse retorno. As professoras vão usar máscaras, um uniforme e um jaleco de plástico para que possam ficar mais perto das crianças - explica Caroline Prebianca, sócia- administradora e pedagoga da escola.
Há delimitação nos corredores e nas salas de aula e todas as medidas previstas para combater a propagação do vírus foram colocadas em prática:
- Eu acredito que irá dar tudo certo, estou confiante, mas claro que é um trabalho em conjunto. A escola terá tudo o que o plano de contingência determina, mas os pais também devem ter esses cuidados, como mandar álcool gel, para que cada um tenha o seu, e no retorno para casa higienizar as roupas e mochilas. Cada um de nós vai se proteger e cuidar de si e dos outros.
A temperatura será medida três vezes: na entrada, na hora do soninho e e na saída. Em sala de aula, nas cadeiras que não podem ser usadas, será colocado o desenho do coronavírus. Caroline acrescenta que uma das questões é trabalhar essa impossibilidade de ter contato tão próximo:
- Uma das ideias é que cada criança tenha uma capa de plástico, para que possam ficar mais próximos. Também vamos trabalhar na escola esse novo normal de forma lúdica para que percam o medo, e convivam naturalmente com essa realidade.
PRONTAS E À ESPERA DOS ALUNOS, MAS SEM LIBERAÇÃO
A escolinha Caminho Kid, que integra a rede Caminho do Saber, é um dos estabelecimentos de ensino que está preparado para receber os alunos, mas não tem liberação para reabrir. A instituição criou um Centro de Operações de Emergências (COE) interno para garantir a segurança dos alunos, pais e professores. Também adquiriu uma máquina de névoa, tapetes de sanitização para limpar os calçados e as rodinhas das mochilas. Na porta de cada sala, haverá outro tapete e as crianças vão colocar propré nos sapatos. Ao chegar a escola, eles tiram a máscara com que chegaram e recebem uma outra, que será trocada a cada duas horas.
- As professoras estão pensando em como tornar o uso das máscaras e todas as atividades em momentos que eles gostem. Se usarmos o lúdico, eles aceitam com mais facilidade, porque eles fazem sem sentir um peso. Ao entender importância do cuidado com ele e o amiguinho, eles aceitam as novas regras - diz a diretora Maristela Tomasi Chiappin.
A professora ressalta que todos os protocolos de saúde já estão em prática. Entre elas, a delimitação do corredor, o distanciamento físico, o acesso à escola e as salas de aula. Agora surge há expectativa para a liberação que irá permitir o retorno de pelo menos 40 crianças de três a cinco anos.
- O estar em sala de aula, estamos construindo há algum tempo, porque além dos protocolos temos que estar atentos a outros aspectos que afetam o emocional. Cada turma irá trabalhar a forma de cumprimento sem o contato próximo, sem o beijo e o abraço.
Maristela conta que criaram um "carometro" que será colocado nas salas de aula:
- São os emotions do celular e vão ser usados para sabermos como eles estão se sentindo e para podermos lidar com as emoções de cada um, ao entrar eles vão escolher a carinha do dia. Estamos avaliando também a possibilidade de novas máscaras em que apareça só a boquinha para que eles vejam que estamos sorrindo e que os amiguinhos estão felizes e deixar o semblante mais leve e tranquilo.
A escolinha Mil Encantos no bairro Santa Catarina também está à espera da aprovação do plano de contingência. A coordenadora pedagógica Natália Peretti ressalta que há receio entre os pais, mas também a necessidade de retornar as atividades.
- O retorno gradual já que nem todas as escolas estão com os planos aprovados é uma maneira de analisar se os procedimentos são os mais adequados. Apesar da insegurança, deste misto de sentimentos, temos que reabrir e voltar a esse novo normal. Acreditamos e confiamos que vai dar tudo certo.
Ela ressalta que as mudanças são necessárias, mas mudam até mesmo a maneira que as crianças interagiam uns com os outros:
- Os menores têm que ficar no berço, então tira um pouco a autonomia deles, porque antes brincavam juntos no chão, e na escola era um diferencial que fazia bem ao desenvolvimento deles. Os maiores vão brincar vendo o outro colega, mas sem a interação, então eles vão voltar a uma rotina diferente, e essas questões tem que ser trabalhadas.
A temperatura será medida na entrada, durante as aulas e na saída. Haverá uma sala de isolamento na escola caso a criança apresente febre depois de ter chegado na aula, até que os pais sejam comunicados da situação.
Do ponto de vista de logística, as escolas se sentem preparadas, agora o foco é a estratégia para trazer segurança sem que o processo seja traumático para as crianças:
- Temos que dar toda a atenção aos sentimentos delas ainda mais nesse momento.
PAIS DIVIDIDOS
Para Lilian Puton 40 anos, mãe de Davi Puton da Rosa, seis, o retorno necessário até mesmo para saúde física e emocional das crianças. O menino cursa o pré 2 na escolinha Dedinhos Mágicos.
- Eu sou totalmente a favor. Estou tranquila e confiante quanto à retomada e foi a escola que me passou essa confiança. As crianças vão adoecer dentro de casa.
Ela considera mais arriscado deixar as crianças na rua ou levar os filhos ao mercado, por exemplo:
- Às vezes, para não deixar a criança em casa todo o tempo, a gente leva na rua para pegar um sol e para não ficar trancada sempre dentro de casa. Acredito que é pior, porque está na rua e tu não sabe nem quem passou por ali. A escola já está preparada, eles têm aquela máquina para limpar os ambientes e terá a distância necessária dentro da sala de aula. Eles vão estar sempre com as mesmas professoras e colegas. Pra mim, problema é aquele pai ou aquela mãe que leva a criança para o mercado.
Já a técnica de enfermagem e acadêmica de Serviço Social Roselaina Dutra, 42, considera o retorno prematuro. A filha dela, Valentina Dutra, três anos, sofre desde o nascimento com doenças respiratórias. Durante o tempo em que ela esteve na escolinha, foram inúmeras infecções respiratórias entre asma, bronquites, bronquiolites, laringites, uso de antibióticos, antialérgico, broncodilatadores, bombinha e vacinas. Com as medidas de restrição, sem sair de casa, Valentina não precisou mais de atendimento de urgência e emergência:
- Com o isolamento, ela não ficou mais doente. Estou assustada com esse retorno, e conversei com a pediatra, e esse ano não vou mandar ela para a escola. Vou expor ela e toda a nossa família. São crianças e mesmo que expliquem e peçam eles vão agir como crianças. Eu perguntei para a pediatra e o que eu questiono é: as crianças elas comem no mesmo prato, dividem comida, pegam o mesmo brinquedo, se abraçam e se beijam. Como manter uma proteção o tempo todo? - questiona.
Ela ressalta que como trabalha em um setor de combate ao coronavírus encara a doença diariamente, e por isso, conhece a gravidade:
- Todos os dias internam novos pacientes, morrem pessoas, e a situação é delicada. Como trabalho em hospital tomo todos os cuidados. Eu não vejo o meu pai há três meses porque ele é de risco. As crianças não tem avançada para a fase grave da doença, mas como profissional e como mãe sou contra o retorno. Elas não desenvolvem de forma grave, mas transmitem, e não tem como os professores ficarem em cima delas para evitar o contato toda hora.
FISCALIZAÇÃO
Para que a escola cumpra os requisitos previstos no plano de contingência, a fiscalização ficará a cargo do Centro de Operações de Emergências da Saúde (COE), mas principalmente, da Secretaria de Saúde, por meio da Vigilância Sanitária. O setor está finalizando a análise dos planejamentos de cada escola. As inspeções sanitárias nas escolinhas serão realizadas com ajuda de fiscais da Secretaria do Meio Ambiente. Nesta terça-feira, as equipes da vigilância vão passar por treinamento com os colegas da Semma. A ideia é que a fiscalização comece a partir da quarta-feira (9), em ao menos seis escolas por dia.
Como deve ser a volta na Educação Infantil:
:: Cada escola define os protocolos que devem ser aprovados pelo COE do município dentro das diretrizes estabelecidas pelo governo do Estado.
A chegada
:: As crianças serão levadas pelos pais ou transporte escolar (estes também possuem regras) e entregues às profissionais nas escolas respeitando o distanciamento e o uso de máscaras. Será feito escalonamento de horário. Haverá um profissional responsável em receber a criança. Crianças acima de dois anos devem usar máscara.
:: Os calçados e as mãos serão higienizados. Será checada a temperatura e se for igual ou superior a 37,8°, a criança não pode ficar na escola. As demais serão encaminhadas as suas salas de referência.
Em sala de aula
:: Será mantida distância entre as crianças, não só na sala de aula, mas nos demais ambientes, de 1,5 metro com máscara e 2 metros sem a máscara (durante as refeições, por exemplo).
:: Os brinquedos serão divididos por turmas, turnos e higienizados frequentemente com álcool 70°.
:: Todos os espaços devem ter álcool gel disponível.
:: As crianças terão intervalos nas atividades de forma intercalada.
Alimentação
:: O uso do refeitório deverá observar o distanciamento mínimo de 2 metros ou utilizar as salas. Será servido por uma servidora. A utilização de talheres da escola ou trazidos de casa será definida pela escola.
:: Entregadores não entrarão nas dependências da escola.
Espaços de uso comum
:: Serão evitados sala de vídeo, ginásios e bibliotecas.
Saída
:: As crianças serão entregues aos pais ou ao transporte escolar separadamente em horário escalonado.
Regras gerais
::Será checada a temperatura das crianças na chegada e também durante o turno de permanência na escola.
:: Os profissionais, ao chegarem na escola, terão de aferir a temperatura e usarão o vestiário ou banheiro dos adultos para a higienização das mãos, troca de roupas e de calçados.
:: As máscaras dos profissionais e das crianças devem ser trocadas a cada 2 horas e acondicionadas em sacos plásticos nas mochilas.
:: Assegurar que trabalhadores e alunos do grupo de risco permaneçam em casa, sem prejuízo de remuneração e de acompanhamento das aulas, respectivamente.
:: São proibidas atividades esportivas coletivas, além de festas, excursões e passeios externos.
:: As formações de professores e reuniões para entrega de avaliações serão preferencialmente on line.
:: Crianças menores de seis anos devem receber auxílio para lavar as mãos com regularidade.
:: Pisos e superfícies de áreas comuns devem ser higienizados a cada turno, assim como maçaneta e corrimão.
:: Os pais assinarão um terno se comprometendo em observar e seguir as regras do plano de contingência e deverão atualizar número de telefone para manter comunicação rápida com a Escola.
Fonte: Governo do Estado e escolas
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